“Às duas da manhã” estreou no dia 7 de março na Sala Estúdio do Teatro da Rainha, nas Caldas da Rainha. A peça de teatro trata-se de uma reflexão sobre as pessoas ligadas e desligadas pela tecnologia. Corpos que se veem, mas que não se compreendem realmente, onde a vontade de estabelecer ligações com o outro está presente, mas nunca é realmente concretizada.
O trabalho de mesa, através da leitura do texto, compreensão das suas intenções e partilha de ideias, começou no dia 3 de janeiro, sob a orientação do encenador Fernando Mora Ramos.
O encenador escolheu um texto de Falk Ritcher, que considera um “arquipélago de monólogos”, onde cada uma das personagens representa uma ilha separada e diferente, com uma forte componente de solidão e isolamento.
Na peça o público é confrontado com a história de uma empresa constituída por pessoas que devem viver a sua vida como se o trabalho fosse tudo o que têm e que querem ter. Tudo deve ser realizado pela empresa, a favor da empresa, mediante a vontade da empresa. A linha entre vida pessoal e profissional é demasiado ténue numa entrevista de emprego, nas perguntas que realmente interessam para os empregadores e na família que sonham ter, mas que lhes roubaria o foco. O espetáculo mostra-nos que um projeto profissional deve ser sempre o mais importante e os colaboradores dos serviços prestados devem estar sempre com um sorriso no rosto, a venderem-se da melhor maneira possível.
Henrique Fialho, um dos membros da organização do Teatro da Rainha e programador do Diga 33, explicou ao JORNAL DAS CALDAS um dos temas fulcrais da peça: “Uma das componentes mais fortes que todas as personagens têm em comum é uma dificuldade de comunicação. Hoje em dia as pessoas estão tão sufocadas pela vida profissional que não conseguem chegar a um nível de intimidade maior com o outro”.
Além da dificuldade de comunicação, outro dos temas de maior relevância na peça é o amor, tanto a nossa capacidade de amar o outro, como no significado do próprio sentimento e como é que este se expressa hoje em dia: “O amor é uma questão muito interessante nesta peça. É como se existissem muros, barreiras entre as pessoas. Isto vem de uma sociedade profundamente individualista em que vivemos, onde estamos sempre preocupados com o nosso sucesso e a forma como as outras pessoas vão olhar para nós e isto arrasa por completo o amor”, afirmou Henrique Fialho.
É importante ainda destacar o papel do som na peça de Falk Ritcher. Tiago Moreira além de assumir o papel de ator, tem ainda a cargo a dinamização de algumas das cenas do espetáculo, interpretando vários temas na guitarra: “Tem uma componente de som que é muito importante ao longo da peça, por vezes de uma forma mais discreta, outras vezes de forma mais evidente, mas que está sempre presente”, completou Henrique Fialho.
Fábio Costa, Nuno Machado, Tiago Moreira, Beatriz Antunes, Mafalda Taveira e Mariana Reis são os seis atores que se encontram no mesmo espaço físico, contudo, estão separados por pensamentos e desafios diferentes.
“Às duas da manhã” é uma reflexão sobre a sociedade atual, as suas complexidades, a dependência das redes sociais, a tecnologia sempre presente no quotidiano e a solidão dentro das próprias relações.
O espetáculo “estará em cena até dia 23 de março, de quarta a sábado, no Teatro da Rainha, sendo que no dia 19 de março o Diga 33 abre novamente as portas a todos os que quiserem assistir a este encontro de pessoas, com dois novos convidados: Ana Biscaia, ilustradora, e João Pedro Mésseder, escritor e autor, que trazem o tema da Guerra da Palestina à discussão.
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