Cerca de cinco dezenas de tratores, máquinas agrícolas e veículos afetos ao transporte de gado entupiram na passada segunda-feira o IC2 ao longo de vários quilómetros, na zona da Benedita, numa marcha lenta promovida por um grupo de agricultores em protesto contra as dificuldades do setor no país.
Segundo a convocatória feita através das redes sociais, era pedido a alguns dos manifestantes para se concentrarem no estacionamento do Mercado de Santana, em Alvorninha, nas Caldas da Rainha, e para levarem bandeiras de Portugal, faixas pretas, cartazes e buzinas.
Pelas seis da manhã já se começavam a formar filas de congestionamento do tráfego no IC2, via bastante usada pelos pesados de mercadorias, condicionamentos que se prolongaram pelo resto do dia, até às seis da tarde, com uma interrupção na hora de almoço, sempre com a presença da GNR, que desviou o trânsito para o IC9 e para a EN 8-6, sem que houvesse incidentes.
A manifestação pretendeu, no seguimento dos protestos ocorridos na semana passada noutros pontos do país, demonstrar o descontentamento dos agricultores desta região e a sua “revolta contra o desprezo pelo setor pela ministra da agricultura”, reclamando também contra a dificuldade “do pequeno agricultor conseguir apoios do Estado”, disse Diogo Pereira, um dos manifestantes, esclarecendo, contudo, que “não queremos estar dependentes de subsídios”.
Segundo apontou, o que é preciso é “baixar a carga fiscal e o preço da matéria-prima, como as rações dos animais e os fertilizantes na parte vegetal”.
Num manifesto distribuído durante a marcha lenta, os agricultores, que se apresentaram com um “grupo apartidário e independente” descontente com a “ausência de compromisso” do Ministério da Agricultura, sublinham que “temos mantido o silêncio perante um Estado castrador que – por via da burocracia e da carga fiscal – dificulta a vida aos agricultores”.
“É imprescindível a revisão do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) que, nos termos atuais, não corresponde às expetativas e necessidades dos agricultores”, vincam, repudiando “a inexistência de uma estrutura ou comissão séria e idónea que regule e supervisione o funcionamento dos mercados ligados à produção agrícola”, o que não impede “entraves sérios ao escoamento da produção a um preço justo para os produtores”.
Em causa, entre várias situações, a abertura de portas, por parte da União Europeia, ao Mercado Comum do Sul, considerando tratar-se de “concorrência desleal, com prejuízo efetivo dos interesses e da segurança alimentar dos consumidores”, sendo contestado que “frutas, carnes e hortícolas oriundos de países terceiros, a que os consumidores, em Portugal, têm acesso”, não estejam a ser sujeitos “às mesmas regras e imposições de produção em Portugal”, sendo o consumidor “cativado pelo preço baixo” dos produtos estrangeiros, nos quais é “omitido, para a produção, do uso de fitofármacos e medicamentos proibidos na União Europeia”, o que coloca em risco “a segurança alimentar de quem os consome”.
“O atual cenário geopolítico mundial – guerras, catástrofes naturais, alterações climáticas – é preocupante e consideramos imprescindível capacitar o setor agrícola em toda a sua extensão. Dos produtores aos prestadores de serviços, sem esquecer a indústria, urge implementar medidas concretas que defendam os interesses de Portugal e dos Portugueses em tempos de crise, de escassez, de especulação, de inflação”, sustenta o grupo, que vai agora aguardar o resultado das negociações que estão a decorrer com o Ministério da Agricultura, apelando à “valorização do setor agrícola e dos produtos portugueses”.
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