A concentração foi às 13h30 no Largo da Feira Semanal, altura em que chovia torrencialmente, o que até provocou algumas cheias nas Caldas. Mas mesmo assim a população aderiu e debaixo de chuva forte corria para dentro dos autocarros que saíram das Caldas por volta das 14h00.
Os transportes deixaram as pessoas por volta das 15h30 na Calçada da Estrela onde na praça junto à Basílica da Estrela já esperavam mais de 500 pessoas, algumas que foram de transporte próprio e outros caldenses que residem em Lisboa e juntaram-se ao protesto com o lema “Unidos pela Saúde”. Em Lisboa o tempo estava melhor e durante o protesto não choveu.
Além dos gritos pela defesa do novo Hospital em terrenos na confluência de Óbidos e Caldas, a manifestação decorreu ao som do grupo de bombos de Monte Olivett. Algumas pessoas levaram instrumentos e altifalantes para fazerem mais ruído.
Também à espera dos manifestantes estiveram vários agentes policiais, que acompanharam a manifestação, que foi pacífica.
Além dos caldenses estiveram presentes pessoas de Óbidos, Peniche e da Benedita que também discordam da localização no Bombarral do futuro Hospital do Oeste, como foi anunciada pelo ministro da Saúde.
Juntaram-se ao protesto várias forças políticas das Caldas. Depois da concentração junto à Basílica da Estrela, a marcha seguiu em direção a São Bento, passando pelas Rua da Bela Vista à Lapa e dos Navegantes até à Rua Borges Carneiro, n.º 36, onde parou devido a uma barreira (grades com a presença de agentes policiais) colocada a 100 metros da residência oficial do Primeiro-Ministro.
Quem passou a barreira foi a comitiva oficial composta pelo presidente da câmara, Vitor Marques, Alice Gesteiro, em representação da Assembleia Municipal, e o médico António Curado, coordenador da Comissão de Saúde da Assembleia Municipal de Caldas da Rainha. Os três entregaram ao segurança que estava na entrada da residência oficial do primeiro-Ministro os estudos técnicos que defendem a manutenção do hospital em Caldas. Não foram recebidos por nenhum membro ou representante do Governo.
A marcha era para ter seguido para a Assembleia da República, mas fez o trajeto inverso, decisão do presidente da câmara das Caldas devido ao aviso da polícia que havia no local outro protesto do Movimento pelo Direito a uma Vida Justa volta para exigir políticas justas que promovam a igualdade e condições de vida dignas.
Segundo o autarca, “a PSP alertou-nos para a outra manifestação que estava a decorrer que podia ter contornos diferentes e nós entendemos que era melhor não irmos até porque já tínhamos sido ouvidos pelos deputados”. “Ainda bem que tomámos essa decisão porque no protesto pelo Direito a uma Vida Justa houve confrontos com os agentes policiais e assim não manchámos a nossa marcha ordeira de águas mornas”, salientou.
Razões para ir à manifestação
O JORNAL DAS CALDAS falou com alguns dos cidadãos que participaram na manifestação, como a caldense Augusta Domingos, que atualmente vive e trabalha num escritório de advogados em Lisboa, mas como faltam dois anos para se aposentar quer regressar às Caldas com o hospital. “Nasci nas Caldas e com 23 anos fui viver para a capital e quando me aposentar quero voltar para as Caldas e morar na casa que era da minha mãe em Salir do Porto e quero que a cidade tenha o hospital, aliás, é o que faz sentido”, salientou. “Não tenho nada contra o Bombarral, mas não acredito que tenha as infraestruturas necessárias para atrair profissionais de saúde e o Oeste precisa urgentemente de mais médicos”, adiantou.
Vítor, de 78 anos, e Adélia Duarte, com 77 anos, casal que reside em A-dos-Negros, em Óbidos, decidiu participar na marcha. “Mesmo com chuva viemos porque achamos que é um ato de cidadania e viemos mostrar a nossa revolta com este Governo, porque não tem cabimento o novo hospital ir para o Bombarral, ainda por cima o caminho depois da autoestrada A8 até ao suposto terreno onde é para ser construído o equipamento é mau e cheio de curvas”, contaram.
“Vivo há 23 anos em A-dos-Negros e quando eu fui para aquela zona residir já se falava num hospital novo e até hoje infelizmente não vi nada”, declarou Adélia Duarte, revelando que tem problemas de saúde e já foi socorrida no hospital das Caldas várias vezes onde lhe “salvaram a vida, mas também me iam matando por falta de médicos”.
“O novo hospital tem que ser entre Caldas e Óbidos e é para servir também as pessoas do Bombarral, Peniche, Rio Maior, Benedita, São Martinho do Porto, entre outros concelhos”, adiantou o casal.
Da freguesia de Santa Catarina, no concelho das Caldas, foi um autocarro cheio porque “para nós o hospital novo ficar no Bombarral é uma distância muito maior, não faz sentido nenhum e o ministro deveria vir ao terreno ver a realidade”, disse Cristina Carvalho, porta-voz da população de Santa Catarina.
“Somos um território de pessoas que trabalham na agricultura e na indústria da cutelaria e precisamos do hospital nas Caldas”, adiantou.
“O Hospital das Caldas não pode fechar! Temos hospital há 500 anos e agora querem tirar o melhor que temos”, declarou Isabel Reis, empregada doméstica e “com orgulho de ter nascido há 51 anos na maternidade das Caldas”.
Artur Eugénio, aposentado da empresa Schaeffler, reside na Foz do Arelho e aderiu ao protesto porque “há tantos anos que temos o hospital nas Caldas e agora decidiram fazer um novo no meio de um pinhal com mato sem nada à volta e ainda por cima o caminho depois da A8 é terrível”, manifestou, acrescentando que “Caldas e Óbidos têm muito mais condições”.
João Tavares decidiu participar na manifestação porque é um jovem que sofre de algumas patologias pulmonares e não tem carta de condução. “A minha mãe é auxiliar de ação médica no serviço de urgência do hospital das Caldas e não quer ir trabalhar para o Bombarral, tem a vida dela nas Caldas”, sustentou. “O ordenado dela já é baixo e com as despesas de deslocação para o Bombarral vai ficar com menos ao final do mês, isto é muito injusto”, acrescentou.
“Caldas da Rainha é uma cidade termal e tem o hospital mais antigo do mundo, agora decidiram tirar o que é nosso, uma decisão política sem pés nem cabeça. Não temos nada contra o Bombarral, mas isto é um disparate”, disse o caldense Aníbal Silva, auxiliar de armazém, que reside em Alvorninha. O manifestante esperava a participação de mais pessoas no protesto, nomeadamente de Alvorninha. No entanto, sustentou que valeu a pena “apanhar chuva nas Caldas”, apontando “esta iniciativa já deu para mostrar a indignação da população”.
O JORNAL DAS CALDAS falou com dois casais de ingleses que residem em Salir de Matos e decidiram participar na marcha porque pretendem ajudar os caldenses e também acham que é “muito injusto o hospital sair das Caldas”.
Frank Robinson e Marion Holy são do Reino Unido e vivem no concelho das Caldas há oito anos. “Acreditamos que a decisão de onde deve nascer o novo equipamento deve ser feita pela população das Caldas e região, porque é quem vai utilizar o hospital”. Os ingleses defenderam um referendo “com a população toda do Oeste e não o Governo que não utiliza a infraestrutura”.
Apontaram que “decisões regionais no Reino Unido são por vezes feitas pelas pessoas locais e só assim é que se pratica a verdadeira democracia”. Disseram que são utilizadores do “hospital das Caldas e conhecem a sua degradação, mas também destacaram o valor dos profissionais de saúde que trabalham naquela unidade”. Também consideram que se o hospital for para o Bombarral vai afetar os funcionários que trabalham na unidade das Caldas. Manifestaram ainda que a cidade “é reconhecida pela saúde e tirar o hospital é roubar a sua identidade e vai afetar a economia local”.
Colin e Sandra Boon, também do Reino Unido, residem há sete anos em Salir de Matos e são membros da Associação MVC – Movimento Viver o Concelho onde fazem voluntariado a favor dos mais necessitados, e acharam importante participar no protesto porque “estamos integrados na comunidade e mudámos para Caldas da Rainha porque tem um hospital que tem uma urgência”. “Queremos apoiar os caldenses nesta luta, que achamos que é justa porque é a sua identidade que está a ser posta em causa”, sustentaram.
“Ações vão continuar até sermos ouvidos pelo primeiro-ministro”
“Como dizem, nos casamentos boda molhada, boda abençoada, e algo que me surpreendeu pela positiva foi que na defesa do hospital nem a mais violenta chuva travou a população e tivemos um grupo significativo, porque desta vez sentimos que houve mais caldenses que estão a despertar para o problema de perdermos o hospital”, disse à imprensa o presidente da câmara no final da manifestação.
Para o autarca foi mais “uma etapa num caminho que já dura há algum tempo” e afirmou ainda que o protesto de surgiu após “pedidas várias audiências” a António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa “que nunca foram respondidas”.
Vitor Marques lamentou que “mais uma vez o Primeiro-Ministro tenha recusado reunir, uma vez que não esteve presente na sua residência oficial e também não se fez representar por ninguém do Governo”.
O presidente da Câmara declarou que “devemos ser ouvidos porque é um direito da democracia e do 25 de Abril e conseguimos desta vez envolver mais pessoas e acho que esta ação serviu para despertar os políticos, porque tivemos pela primeira vez o envolvimento de todos os meios de comunicação social”.
Quanto às próximas ações de luta, Vitor Marques afirmou que quer “uma audiência com o Primeiro-Ministro” e que vai “aguardar a resposta a esta iniciativa e à entrega dos documentos”, e se isso não acontecer vai “continuar a luta até ser ouvido”.
O presidente da autarquia caldense voltou a dizer que “nada nos move contra o Bombarral, mas é mais assertivo que fique entre Caldas da Rainha e Óbidos, porque é a zona mais carenciada em termos de cuidados hospitalares”, frisando que “o desaparecimento do Hospital das Caldas vai prejudicar toda a região Oeste Norte, onde há mais dificuldade de respostas nesta área da saúde”.
O autarca revelou ainda que no Orçamento do Estado 2024 “consta o projeto para o novo Hospital do Oeste”, mas “nada disso nos garante que seja concretizado, porque não é a primeira vez que aparece no orçamento”.
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