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Desprezem a Democracia e depois queixem-se…

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Eleições Legislativas 2019: Chega – 1,29% - 67.826 votos – 1 Deputado; Iniciativa Liberal – 1,29% - 67.681 votos – 1 Deputado; Livre – 1,09% - 57.172 votos – 1 Deputado; Eleições Legislativas 2022: CDS-PP – 1,60% - 89.113 votos – 0 Deputados; PAN – 1,58% - 88.127 votos - 1 Deputado; Livre – 1,28% - 71.196 votos – 1 Deputado.
Graciano Dias

Eleições Legislativas 2019: Chega – 1,29% – 67.826 votos – 1 Deputado; Iniciativa Liberal – 1,29% – 67.681 votos – 1 Deputado; Livre – 1,09% – 57.172 votos – 1 Deputado; Eleições Legislativas 2022: CDS-PP – 1,60% – 89.113 votos – 0 Deputados; PAN – 1,58% – 88.127 votos – 1 Deputado; Livre – 1,28% – 71.196 votos – 1 Deputado.

Ainda têm a lata de chamar a isto democracia? Só se for a que convém a alguns! Pensavam que era só no tempo da União Nacional que havia votos que não contavam? Desenganem-se…“ah e tal a democracia não é perfeita, mas é o melhor sistema”, “na democracia há mais justiça”, “no Estado Novo muitos dos votos que não eram dados ao Governo não contavam”; eu pergunto, e agora contam todos ou apenas uma parte?

Como é possível haver partidos com muito menos votos que têm deputados no Parlamento, e um partido com mais votos não tem? E os partidos que se arvoram em reserva moral da democracia, o que é que fazem? Calados como ratos, é um assunto que não lhes interessa, nem a eles nem à democracia, e sabem porquê, porque não vivemos numa verdadeira democracia; é verdade que podemos dizer o que nos aprouver, é verdade que temos liberdade de expressão, mas se era só para podermos falar à vontade, o objetivo é muito redutor e os ganhos foram poucos.

Já em 2019, numa petição cujo principal subscritor foi José Ribeiro e Castro, os vários partidos e as mais variadas entidades com responsabilidades, assobiaram para o lado, não dando acolhimento à sugestão de reforma do sistema eleitoral, de forma a não acontecer esta injustiça que sentimos e que não podemos calar, porque 89.113 cidadãos que votámos no CDS-PP não estamos representados no Parlamento e ninguém defende as nossas convicções, os nossos valores e os nossos ideais; o CDS-PP não tem nenhum partido que o substitua na Assembleia da República, ao contrário do que alguns pretendem fazer crer.

Tudo isto para não falar na quantidade de votos de cidadãos por esse país fora, que não contam, porque não conseguem representação; é tudo uma questão de aperfeiçoamento da democracia, e já agora de honestidade intelectual que não abunda como gostaríamos, numa grande parte da classe política.

É urgente a reforma eleitoral para que não percamos o respeito por esta democracia que não nos respeita, porque não nos representa e por isso não é verdadeira.

Aos partidos, dizer que de cada vez que descerem a Avenida da Liberdade em abril, lembrem-se que a hipocrisia tem limites e pensem em cuidar verdadeiramente desta democracia que está doente, tratando entre outras coisas de resolver o problema da representatividade dos cidadãos no Parlamento, para que não venham a ter surpresas desagradáveis, que se anteveem num horizonte não tão longínquo como se poderia imaginar.

Ao Partido Socialista em particular, dizer que promover e alimentar a extrema-direita, com o objetivo de esvaziamento do CDS-PP e do PSD, vai ter consequências que não são mensuráveis hoje, mas espero que o país quando perceber o logro, faça pagar em eleições os responsáveis políticos por esta estratégia hipócrita, mentirosa e perigosa.

Mais importante do que o Partido Socialista, ou qualquer outro partido político, é o país, e não cuidar da legitimidade, da representatividade, e de todos os factores que garantem a discórdia civilizada e a equidade para todos os atores políticos, pode ter terríveis consequências, como já se começa a ver hoje, na exacerbação de fundamentalismos que ninguém certamente desejará e que poderão conduzir ao mesmo cenário que a Primeira República promoveu.

É eticamente reprovável vaticinar a morte de um partido, neste caso o CDS-PP, quando se veem partidos que tiveram menos votos, terem assento parlamentar; diria mesmo que estamos perante uma situação antidemocrática, uma vez que o nosso sistema político tem intrinsecamente na sua génese a ideia central de representatividade, por se tratar de uma democracia representativa, que como vemos não está a ser respeitada.

Neste contexto, não devem os cidadãos admitir o “habituem-se” ou o “logo se vê”, ou ainda o “acho não, tenho a certeza” que resulta da maioria absoluta, e que é sinónimo da desvalorização que os que abusam da autoridade do Estado, fazem do próprio Estado que somos todos nós. Continuem a governar com desprezo pela democracia e depois queixem-se…

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