O Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha vai receber no dia 11 de julho uma Assembleia Municipal extraordinária que terá como ponto único a discussão da localização do novo Hospital do Oeste, anunciado para o concelho do Bombarral, e com um tempo para intervenção do público mais alargado do que o habitual.
Na sequência do anúncio do ministro da Saúde, as forças políticas locais reuniram-se e decidiram que a Assembleia Municipal seria o cenário ideal para debater ideias e decidir que medidas tomar para contrariar a decisão do governo.
Para essa reunião, para além das intervenções dos autarcas e do público, foram convidados também os autores do parecer técnico-científico sobre as metodologias a adotar na definição da localização deste equipamento, na sequência do estudo que tinha sido encomendado pelo município.
A partir do momento da decisão foram várias as reações por parte dos políticos do concelho e da região.
A associação “Vamos Mudar” promoveu um encontro com os seus associados e simpatizantes, na tarde de 1 de julho, para debater este assunto. Cerca de 40 pessoas estiveram no auditório da Expoeste, onde Vitor Marques fez um resumo de todas as medidas que tomaram nos últimos meses e lamentou a forma como o ministério tratou este assunto.
O presidente da Câmara salientou ainda que há 10 meses que o Centro Hospitalar do Oeste não tem diretor clínico. “O conselho de administração não consegue cativar alguém neste cenário atual”, afirmou, acrescentando que mais de 70% dos médicos no serviço de urgência estão como prestadores de serviços e não no quadro de pessoal.
Como forma de preparar a reunião entre o ministro da Saúde e o Conselho Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do Oeste, o presidente da Câmara solicitou às diversas entidades um diagnóstico dos serviços de saúde da região e foi elaborado um relatório de toda a informação recolhida.
“Ao invés do esperado, não foi realizada uma reunião aprofundada sobre o estado da Saúde no Oeste, tendo-se assistido a uma reunião em que o senhor ministro da Saúde criou condições para transmitir a sua decisão quanto à localização do novo Centro Hospitalar do Oeste”, contou Vitor Marques.
“Importa também relembrar que o senhor ministro se tinha comprometido, verbalmente e por escrito, a consultar, previamente, os Municípios de Caldas da Rainha e de Óbidos antes de tomar qualquer decisão, facto que não se verificou”, referiu ainda.
Vitor Marques lembrou que o município vai contribuir com 725 mil euros para as obras na maternidade das Caldas e que poderia ter utilizado essa verba noutras obras importantes para o concelho.
A Câmara vai pedir audiências a vários ministérios, ao primeiro-ministro e ao Presidente da República. Em relação a “ações de massas”, Vitor Marques disse que não sabe se a adesão dos caldenses será suficientemente forte como seria necessário. A 20 de julho ponderam estar presentes no Debate da Nação na Assembleia da República, com algum tipo de protesto que possa dar visibilidade a esta causa.
Partidos caldenses não se resignam com decisão
O PSD das Caldas da Rainha recorreu às redes sociais para “lamentar profundamente esta decisão, com a qual não concorda, principalmente por ser contrária aos interesses dos caldenses e da esmagadora maioria dos oestinos”.
Para os sociais-democratas caldenses, esta decisão “deixa no ar a ideia de ser mais motivada por interesses ligados ao partido político que suporta o atual governo, do que pelo interesse coletivo das populações”.
Referem ainda que o facto deste anúncio ter sido feito nas Caldas da Rainha é “uma afronta à maior cidade do Oeste que, desde a sua fundação está diretamente ligada à área da saúde”, demonstrando desprezo pelo poder local caldense.
O PSD das Caldas da Rainha afirma que não se resigna com este resultado e que tudo fará para “não perdermos o nosso hospital”.
Considera por isso que o importante é “estarmos todos unidos, com a população, com o poder autárquico, com as associações e demais forças vivas da região, para que no fim desta luta, que agora começa, podermos reverter esta má decisão”.
Numa publicação nas redes sociais, o secretariado do PS das Caldas também lamentou a decisão anunciada. “Não podemos concordar com uma decisão que não responde aos interesses dos caldenses e sobretudo da maioria da comunidade oestina”, referem os socialistas.
Lembram ainda que a decisão tomada “coloca em causa diversos pressupostos defendidos pelo PS das Caldas e que entendemos serem os corretos para uma tomada de decisão que julgámos diferente”.
Os socialistas salientam que Caldas da Rainha é uma cidade de saúde, que evoluiu na centralidade do Oeste, abrindo e desenvolvendo o seu território em redor destes cuidados. Portanto, “esta decisão vai contra a identidade, genuína, do nosso concelho”.
Os socialistas caldenses apelam aos caldenses para “não se darem por vencidos e concentrarmo-nos na defesa dos cuidados de saúde nas Caldas da Rainha e no Oeste”.
O núcleo territorial caldense da Iniciativa Liberal considera que o ministro teve uma atitude provocatória ao vir às Caldas anunciar que o novo hospital seria construído no Bombarral.
Em comunicado, os liberais manifestam-se chocados e repudiam esta decisão. “Nós, caldenses, sentimos que fomos colocados de parte e que as nossas preocupações relativas aos serviços de saúde locais foram ignoradas”, referem.
Na opinião da Iniciativa Liberal caldense, o Ministério da Saúde devia ter tido em consideração outros fatores, como a proximidade de outros hospitais, de que é exemplo o hospital Beatriz Ângelo, mas também “deveria ter ouvido melhor a população e refletido melhor sobre esta decisão ao invés de utilizar apenas como critério a regra da régua e esquadro”.
Por outro lado, considera que o município também devia ter feito mais e melhor por esta causa, para que o concelho se fizesse ouvir de forma mais eficaz.
“Após alguma pesquisa, encontrámos alguns dados que deixam qualquer caldense, no mínimo, um pouco inquietado”, salienta.
A Iniciativa Liberal das Caldas destaca que no início do mês de março deste ano, o Município contratou “Serviços de Consultadoria de Comunicação e Assessoria de Imprensa” com especificidade para o assunto em questão.
“Este serviço, que pareceu nem ter existido, devido à fraca qualidade de comunicação da autarquia, foi contratualizado com duração de três meses, pelo valor de 23.370 euros”, salienta. Por isso, conclui que “Caldas da Rainha não se fez ouvir, mas os munícipes pagaram e bem por isso”.
Carlos Ubaldo, do Bloco de Esquerda das Caldas, considera que a forma como a tutela tratou o processo e a Câmara das Caldas não foi correta. “Mesmo dentro da Oestecim a Câmara das Caldas foi mal tratada. O estudo era muito incompleto e a posição tomada pela autarquia caldense foi tardia”, referiu. Na sua opinião, “o peso político da Câmara e do movimento Vamos Mudar perdeu muito em relação ao que poderia ter noutras circunstâncias”.
No entanto, sublinha o facto da autarquia ter envolvido todas as forças políticas neste processo.
Para Carlos Ubaldo, o importante é a decisão de construir um hospital no Oeste ter sido tomada, apesar de ser tardia. “Ser no Bombarral é um mal menor para região, mas é mau para a cidade e o concelho”, disse.
Agora acha que esta derrota deve ser transformada numa oportunidade, para que o concelho se desenvolva noutras áreas que possam continuar a fazer das Caldas um ponto de atração. Deve haver uma aposta na mobilidade, no planeamento urbano e na qualidade de vida, referiu.
Para Edmundo Carvalho, presidente do Chega das Caldas, “obviamente que a decisão foi política e não técnica”, por isso duvida da sua legalidade.
“O Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo define que este tipo de equipamento deve localizar-se em centros Urbanos e no Oeste só há dois: Caldas da Rainha e Torres Vedras”, afirma.
O dirigente considera que “não se deve atirar a toalha ao chão e devemos continuar a manter e explorar todo o tipo de iniciativas que possam reverter esta decisão”.
Se o Hospital ficar no Bombarral “em vez de nos lamentarmos, devemos considerar isso como uma oportunidade e criar as condições para atrair e fixar nas Caldas da Rainha os profissionais envolvidos”. Isto porque “é melhor um hospital no Bombarral do que não termos Hospital”.
A JSD das Caldas da Rainha também acusou o ministro da Saúde de ter cometido uma “afronta” por vir a à cidade anunciar que o novo hospital do Oeste seria construído no Bombarral.
“Esta decisão reflete claramente a influência política do Partido Socialista, colocando os interesses partidários acima das necessidades da nossa população”, afirma Tiago Félix, presidente da JSD caldense.
Considera ainda “lamentável” constatar que o presidente da Câmara das Caldas “não tenha conseguido exercer uma influência política efetiva para garantir que o hospital fosse construído na nossa cidade”.
Segundo a JSD, “o PS, em conjunto com o Ministro da Saúde, falhou em reconhecer a necessidade de preservar a nossa tradição hospitalar e em ouvir a voz da nossa população”.
A Assembleia da União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório aprovou, por unanimidade, uma moção em que protesta contra a localização escolhida “que não teve em consideração o interesse das populações” e mostra-se disponível para apoiar as ações de luta que sejam decididas.
Organizações políticas regozijam-se com decisão
A Federação Distrital de Leiria do Partido Socialista congratulou, através de um comunicado, a decisão de construir o novo hospital do Oeste nos próximos cinco anos.
Sem nunca referir a localização escolhida, os socialistas do distrito de Leiria lembram que este é um equipamento reivindicado pelas populações da região há já várias décadas. “Virá suprir necessidades básicas de acesso ao Serviço Nacional de Saúde e terá um perfil de elevada resposta àquelas que são as necessidades em saúde dos utentes”, refere o documento.
É ainda salientado que este hospital irá ser dotado de “mais camas, mais especialidades, um elevado nível de diferenciação e uma Unidade de Cuidados Intensivos, há tanto reivindicada pela região, que evitará deslocações para os Hospitais de Lisboa ou de Leiria”.
Os socialistas recordam também que esta é a efetivação de uma promessa que consta dos programas eleitorais do PS no distrito de Leiria.
Para a direção da organização regional de Leiria (DORLEI) do PCP, o que importa agora é avançar para a construção,
“O ministro da saúde não deixou claras as medidas para a sua concretização, designadamente quanto à decisão no Conselho de Ministros e ao Orçamento do Estado para garantir a sua construção e gestão públicas, pois só essas darão resposta às necessidades da população”, refere em comunicado.
“As populações do Oeste têm uma vasta e negativa experiência em ouvir sucessivos anúncios do governo sobre investimentos estruturais que se arrastam na sua realização, como é bem patente no caso da modernização da linha do Oeste que continua por concretizar”, adianta.
Os comunistas consideram urgente a construção e funcionamento de uma unidade com mais de 400 camas, que alargue as especialidades/valências existentes e garanta capacidade de internamento não existente para várias especialidades.
No entender do PCP, a obra tem de ser acompanhada pela intervenção nas instalações do atual centro hospitalar, bem como o reforço dos cuidados de saúde designadamente primários e de retaguarda entre outras necessidades.
O PCP reafirma ainda a importância de se garantir a construção e gestão públicas, em vez de se promover mais uma Parceria Pública Privada (PPP).
A nível local, o ex-candidato à Assembleia Municipal das Caldas da Rainha pelo PCP, Vítor Fernandes, pronunciou-se, a nível pessoal, que não concorda com a localização escolhida.
A sul da região Oeste as tomadas de posição têm sido de regozijo com a escolha do local e o anúncio da construção nos próximos cinco anos.
A Federação Regional do Oeste do Partido Socialista (FRO-PS) congratulou-se com a decisão do ministro da Saúde em construir o novo hospital do Oeste no Bombarral.
Em comunicado, a federação refere “que nos últimos anos existiu em torno desta temática, discussão e discordância quanto à localização do futuro hospital, pelos autarcas e partidos políticos, quando no passado tinha já existido uma concordância sobre este assunto”.
“O papel dos políticos e dos autarcas desta região é agora unir esforços para a concretização deste edifício tão fundamental no Oeste”, afirma o presidente da FRO-PS, Brian Silva.
“Esta região não pode continuar mais com um Centro Hospitalar do Oeste que não apresenta condições para os utentes, nem para os profissionais de saúde, estando a prejudicar o futuro de toda a região e o garante de condições de saúde para todos os cidadãos destes municípios”, salienta a FRO-Oeste, composta pelas concelhias socialistas de Torres Vedras, Lourinhã, Alenquer, Sobral de Monte Agraço e Cadaval.
O presidente da comissão política do PSD Área Oeste, Duarte Pacheco, também viu com agrado o anúncio do ministro da saúde.
“O ministro da Saúde prometeu que no próximo outono anunciará a tipologia e o modelo, se público, se parceria público-privada. Depois de tantos anos de espera, que seja agora que se avance com esta obra, pois as populações do Oeste estão cansadas de esperar e de sofrer”, referiu Duarte Pacheco.
O deputado sublinhou ainda que “até à sua inauguração é necessário fazer obras nas instalações hospitalares existentes, para que as pessoas sejam atendidas com dignidade”.
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