Desde a ideia de criação de um partido socialista em 1962, à formação da ASP – Acção Socialista Portuguesa em 1964 e transformação em Partido Socialista (PS) em 1973, assistindo-se ao nascimento de um partido na clandestinidade, tudo está retratado na exposição documental patente durante este mês no Café-Concerto do Centro Cultural e de Congressos (CCC) das Caldas da Rainha.

Trata-se de um projeto que expõe os principais documentos do arquivo a cargo da Associação Tito de Morais (ATM), contendo documentos que atravessam grande parte do século XX. Abrange muitas das demonstrações e ações contra o regime do Estado Novo, incluindo os movimentos de resistentes antifascistas do campo socialista e unitário da oposição portuguesa.

A partir deste arquivo pode-se contar com dados biográficos, históricos e políticos muito importantes para o enriquecimento do conhecimento sobre este período da história contemporânea portuguesa.

Manuel Tito de Morais (1910-1999) foi um lutador pela liberdade e democracia em Portugal. Resistente anti-salazarista, preso pela PIDE, foi um dos fundadores da ASP, que daria origem ao PS, de que foi primeiro secretário nacional.

Depois do 25 de Abril de 1974, exerceu cargos públicos no governo e na Assembleia da República, de que foi presidente. Foi também presidente do PS.

A inauguração da exposição, no passado dia 1, contou com a intervenção de António José Seguro, antigo secretário-geral do PS, que reside nas Caldas da Rainha.

O socialista advertiu para que não se confundam ideologias com os partidos políticos que as dizem representar. “Não basta batermos no peito para dizer que somos desta ou daquela ideologia. É importante que a prática esteja de acordo com os valores e princípios dessa ideologia e, sobretudo, com os resultados”, vincou.

Afastado da frente partidária desde finais de 2014, quando cessou funções como secretário-geral do PS após a derrota nas eleições primárias, abrindo assim caminho a António Costa, António José Seguro tem-se mantido discreto, apesar de alguma participação em eventos com cunho político, e desta vez as suas declarações foram entendidas com uma chamada de atenção à direção socialista sobre o estado do país: “21,5% de pobres, mais de dois milhões de portugueses. Devemos incentivar a existência de uma forte classe média. Os elevadores sociais em Portugal precisam de ser lubrificados para funcionarem melhor”.

“Os valores da liberdade, da igualdade, da solidariedade, da equidade e da sustentabilidade têm de ter tradução concreta na vida das pessoas, têm de se realizar na sociedade, senão não passam de slogans, de palavras sem sentido”, manifestou.

António José Seguro admitiu não conseguir “desligar-se” da vida política, deixando em aberto a possibilidade de um regresso à vida ativa partidária.

Ao lado de António José Seguro estiveram também na mesa Vitor Marques, presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Manuel Tito de Morais, presidente da ATM e familiar do fundador do fundador da ASP e do PS, Mário de Jesus, vice-presidente da ATM, e Mário Branquinho, diretor do CCC.