Quantas vezes se diz que foi “uma queda sem jeito nenhum” e com consequências bastante graves? A definição de queda não é consensual. A mais abrangente define queda como “deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo útil e determinado por circunstâncias multifatoriais que comprometem a estabilidade”.
As quedas são consideradas um grave problema de saúde pública e de grande impacto pessoal, social e comunitário, devido à sua elevada incidência, morbilidade e custos sociais e económicos, decorrentes das lesões provocadas. Segundo a OMS, as quedas são a segunda causa de morte por lesão acidental ou não intencional em todo o mundo, logo a seguir aos acidentes rodoviários.
Com o envelhecimento, o controlo postural é posto em causa levando a alterações que podem ir desde a instabilidade até às quedas, as quais constituem um problema de saúde pública, de grande impacto social. Nos idosos, as quedas podem provocar lesões físicas como fraturas ósseas, feridas, contusões, traumatismos cranianos, entre outros, mas também afetar o estado emocional como perda de auto-confiança, aumento da sensação de medo de voltar a cair, que se podem traduzir em diminuição ou restrição das atividades de vida diária, diminuindo a sua qualidade de vida e a interação social.
Prevenir a queda em pessoas idosas pode significar prevenir a perda da autonomia e independência e preservar também a conservação da capacidade funcional do idoso.
São motivos de queda na população idosa, relacionados com a fatores intrínsecos, a diminuição da visão, alteração da marcha e equilíbrio, diminuição da força muscular, osteoporose, doença cardiovascular, uso de determinados medicamentos, ansiedade e depressão, deficiências nutricionais. Já a nível dos fatores extrínsecos podemos considerar como principais motivos as barreiras arquitetónicas, piso irregular, má gestão do espaço no domicílio (iluminação, tapetes, mobiliário, ausência de corrimão) e calçado e roupa desadequados.
A maioria das quedas ocorre em casa, sendo as suas principais causas o “escorregar” ou “tropeçar”, seguindo-se as quedas por transferência de uma posição para outra, ou a subir e descer escadas ou degraus. Também podem ocorrer durante as atividades de vida diária, devido a alterações posturais ou do reflexo vasovagal.
No sentido de prevenir as quedas em casa ou no exterior, podem ser adotadas estratégias que reduzam o risco e aumentem a segurança, diminuindo o medo de cair e incentivando a realização de atividades diárias.
A atividade física contribui para a adoção de uma postura corporal adequada, melhorando o equilíbrio e o aumento de força muscular. Fazer uma caminhada todos os dias, evitar estar sentado por longos períodos de tempo, fazer pausas e levantar-se para fazer movimentos são estratégias que deve adotar para uma melhoria da condição física.
Manter-se bem hidratado e optar por uma dieta variada e equilibrada, com valor nutricional, vai auxiliar na manutenção da energia necessária ao funcionamento muscular e cognitivo.
O vestuário deve ser adequado. Usar chinelos/sapatos com apoio de calcanhar para manter o pé seguro, calçado antiderrapante e evitar o uso de roupas largas e compridas em que possa tropeçar
O uso de auxiliares de marcha como bengalas, andarilhos ou canadianas deve sempre ser aconselhado por um profissional de saúde. No sentido de optar pela melhor solução, verificar a altura adequada do equipamento e instruir o seu uso
A casa deve estar adaptada à condição da pessoa. Ter os objetos de uso diário acessíveis para que não seja necessário trepar ou subir escadotes, manter o chão livre de objetos, evitar o uso de tapetes, verificar se os móveis estão estáveis, usar cadeiras ou cadeirões com descansos para os braços para o auxiliar a sentar e levantar e verificar se a altura dos sofás e cadeiras são adequados à estatura da pessoa, os fios elétricos não devem passar pelo chão e ter uma boa iluminação. Na casa de banho, se possível optar por polibã com chão anti-derrapante, utilizar um banco/assento fixo no polibã e barras de apoio. Ao subir e descer escadas, verificar se o corrimão está firme e se possível que este seja bilateral.
Concluindo, as medidas de prevenção de queda nos idosos devem focar-se numa abordagem multidisciplinar, atuando ao nível dos fatores de risco intrínsecos e extrínsecos, evitando assim quadros de perda de autonomia, qualidade de vida, isolamento e depressão que são já tão comuns neste grupo etário.
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