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Empresas familiares contaram histórias dos seus negócios

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Vários representantes de empresas familiares das Caldas da Rainha e Óbidos participaram no passado domingo em mais uma tertúlia da Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste (ACCCRO), no âmbito das comemorações do seu 120º aniversário.

Vários representantes de empresas familiares das Caldas da Rainha e Óbidos participaram no passado domingo em mais uma tertúlia da Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste (ACCCRO), no âmbito das comemorações do seu 120º aniversário.

Tendo como tema a gestão familiar nos negócios, o encontro juntou empresas centenárias e outras mais recentes, algumas já na terceira geração e outras que foram criadas por pais e filhos.

O moderador desta sessão, Paulo Caiado (consultor em gestão empresarial), ao longo da conversa foi tentando perceber quais eram as forças motrizes que faziam com que algumas empresas “puxassem” para si os familiares.

O primeiro empresário a contar a sua história foi André Nogueira, que abriu a sua primeira ourivesaria há mais de 40 anos. Desde o início quis alargar a sua atividade e criar mais estabelecimentos, alguns dos quais não continuaram a funcionar. “Já abri 20 lojas e fechei 12”, contou. Atualmente, a dimensão do negócio é tal que quer que as suas filhas também se envolvam, depois de já terem tido a sua formação e atividade profissional própria.

Zélia Marques, da cervejaria “O Litro”, começou a sua atividade há 10 anos e desde o início a sua preocupação foi ter um negócio onde os seus filhos pudessem também trabalhar. “É uma mais valia ter a família a trabalhar comigo”, referiu. Tem sido assim também possível avançar com mais projetos.

Também Marisa Botelho, do restaurante Botellini, criou o seu negócio com o filho e a filha. Embora não estivessem na área da restauração, consideraram que existia a necessidade de criar um restaurante vegetariano nas Caldas. “É muito mais fácil trabalhar quando estamos entre nós e há conversas que nem é preciso ter”, explicou.

Um negócio familiar ainda mais recente é a empresa de produção de imagem BlowingOceans, que Gonçalo Rabiais criou há cinco anos com seu pai. No seu caso, começou em criança a ajudar o avô numa loja que este tinha na Praça da Fruta e ficou com o gosto pelo negócio. Depois de ter trabalhado fora durante vários anos, acabou por querer voltar às Caldas e associar-se ao pai, que sempre teve também o gosto pela fotografia.

Francisco Vogado abriu a papelaria Vogal há 25 anos, também como forma de envolver a sua mulher e o seu filho num negócio conjunto. Nesta sessão, o empresário referiu as vantagens e dificuldades deste género de empresa, queixando-se da falta de apoios financeiros para as micro-empresas.

Já da segunda geração da gestão do restaurante Maratona, José Elói contou como teve de ficar à frente deste negócio depois do falecimento do seu pai. “Quando ele ficou doente tive de sair do trabalho que tinha e ir ajudá-lo, porque só tinha dois funcionários e um ia sair”, explicou. No entanto, desde criança que foi ajudando o seu pai no então café com salão de jogos. Ao longo dos anos foi transformando aquele espaço, arriscando sempre muito mais do que o seu pai.

Também da segunda geração, mas da mercearia Pena, Rui da Bernarda salientou que já os seus avós tinham uma mercearia numa aldeia em Santarém. Os seus pais tiveram também um negócio do género na Rua da Estação que entretanto, fecharam. Só em 1997 é que o seu pai, que trabalhava na área da distribuição, ficou com a mercearia Pena. Entretanto, Rui da Bernarda, que trabalhava fora, resolveu também estar na gestão do negócio de família e fez este crescer com outros investimentos.

A Casa Varela, criada em 1917, está neste momento na sua terceira geração, com Margarida Varela à frente dos seus destinos. Foi durante a pandemia que os pais lhe disseram que não queriam continuar e nessa altura assumiu a loja. “Quis continuar numa loja, que é uma referência da história das Caldas da Rainha e acabei por descobrir que afinal até gosto de estar ali”, referiu.

Também com uma história antiga, esteve Bernardo Cavalheiro (Ginja Mariquinhas), que é trineto dos proprietários de uma mercearia e taberna no Sanguinhal (Bombarral), que existe desde 1908. O seu bisavô começou a fazer licores e o que teve mais sucesso foi a ginja. Começou a engarrafar com recurso a garrafas de vinho que recolhia nos restaurantes da zona. “Ele lavava as garrafas, retirava os rótulos e enchia com a sua ginja”, contou.

A Ginjinha do Sanguinhal começou a ser vendida em feiras por todo país pelos pais de Bernardo Cavalheiro. Em 1991 criaram uma fábrica e com os grandes eventos organizados em Óbidos começaram também a vender muito naquela vila. Em 2010, o Bernardo Cavalheiro decidiu não ir para a universidade e dedicar-se a tempo inteiro ao negócio familiar. Foi quando decidiram mudar o nome para “Mariquinhas”, em homenagem a um fado cantado por Amália. “As pessoas tinham sempre muita dificuldade em lembrar-se do nome Sanguinhal”, contou.

No caso de Susana Nogueira, da ourivesaria Amílcar Neves, ainda foi enfermeira durante 21 anos antes de decidir juntar-se ao negócio da sua família. Há sete anos que tomou a decisão e não está arrependida, apesar de considerar ser difícil gerir um negócio próprio.

Jorge Barosa, da Barosa Pescados, salientou que em Portugal “mais de 70% das empresas são familiares e empregam mais de 65% da população ativa, criando mais de 50% da riqueza que existe em Portugal”. O também presidente da AIRO (Associação Empresarial da Região Oeste) lamentou, por isso, que não existam mais apoios para estas empresas, nomeadamente no Plano de Recuperação e Resiliência.

Em relação à sua empresa, elogiou a forma como o pai soube fazer a sua sucessão da melhor forma. “O meu pai sempre teve a preocupação de nos transmitir tudo o que ele fazia”, mesmo em relação a outros investimentos que foi fazendo.

O presidente da Câmara, Vitor Marques, elogiou o sucesso das empresas familiares que existem no concelho e também falou da sua experiência à frente de negócio de família, que no seu caso começou com o pai. “Ele era muito empreendedor e acho que pensou sempre que os seus filhos iriam continuar o seu negócio”, afirmou. No seu caso, também os filhos acabaram por ficar no grupo Marques.

O autarca anunciou que o executivo está a preparar o próximo orçamento e está a analisar a forma como poderão “cortar” nos impostos municipais para poder ajudar os empresários.

A sessão começou com uma apresentação de Jorge Rodrigues, professor do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa, sobre as empresas familiares. O professor e investigador é autor de vários livros sobre o tema, tendo falado das caraterísticas que compõem os tipos de empresas controladas por famílias, das multinacionais às microempresas, para além de questões como as sucessões entre as várias gerações.

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