Enquanto a inteligência artificial (IA) não passou de tema mirabolante do cinema de ficção científica distópica, fartámo-nos de rir.
Até nos ríamos do conceito de inteligência artificial, absurda contradictio in adjecto, oximoro idiota.
Mas, eis que um laboratório americano da coisa informática, OpenAI, inventou o ChatGPT… Este programa, além de ler e escrever, também “entende” o conteúdo. Ainda a evolução da IA não passou a fase da ameba e já se prevê que o tal ChatGPT vá mudar o mundo.
Os próprios investigadores de IA acham que há 10% de possibilidades de este Chato vir a causar a extinção da Humanidade — ou será só da humanidade, o pós-humanismo de que se fala desde os anos 90?
Para ajudar neste Armagedão cibernético, surgiu nos últimos dias a Albertina, que sabe escrever sozinha em português, ensinada por investigadores das faculdades de Ciências da Universidade de Lisboa e de Engenharia da Universidade do Porto.
A IA tem ramificações mais ou menos tenebrosas, como é o caso da denominada IAcracia: investigadores do Centro Nacional de Ciência Integral da China fizeram um programa informático que, lendo as ondas cerebrais e o rosto, mede a lealdade ao Partido Comunista.
Talvez seja mesmo o fim do mundo. À cautela, formou-se agora, na cimeira de Hiroxima, uma comissão internacional, agregando o G7, a OCDE e uma Universidade do Sri Lanka, para voltar a pôr o Génio dentro da lâmpada, criando um AI Act.
O objectivo desta legislação é controlar a evolução da IA. Mas, como nem padrões técnicos comuns consegue definir, é de prever que o Génio fique à solta.
Voltando ao ChatGPT, embora seja vocacionado para imitar um interlocutor humano, também consegue escrever e aperfeiçoar programas de computador, compor música e criar contos de fadas, poemas, teses académicas sem risco de plágio e, até, substituir e enviar para o desemprego qualquer escriturário ou funcionário de call center.
Perante tudo isto, o que parece inquietar mais é a possibilidade de esta “aplicação” se aplicar a escrever textos melhores e mais interessantes do que os produzidos por humanos.
Não está ainda bem claro que humanos são estes — se realistas mágicos à Garcia Márquez, prolixos à Rodrigues dos Santos, verbosos analistas políticos ou os semianalfabetos do 11ºC, do curso secundário de coçadores de telemóvel — smartphone, como carinhosamente chamamos ao medium de disseminação mais eficaz do condicionamento artificial.
Seja como for, o caso virá a ser sério. Os sintomas já são inequívocos. Ao delegarmos no dito smartphone a parte smart das nossas vidas, sentimo-nos desvalidos quando o aparelhómetro se apaga; ficamos em pânico e revolteamos assarapantados em busca de uma tomada.
E já somos incapazes de recorrer à memória e à fala para descrever e explicar, em vez de mostrar fotografias ou vídeos.
Coçadores de telemóvel, abnegados sofredores da micose do ecrã, dependemos tanto do smartphone que, através dele, o conluio dos algoritmos tomará total controlo das nossas tristes vidas de fixação virtual.
Esta doença, a micose do ecrã, é uma pandemia muito anterior à da COVID-19, que tarda ser reconhecida pela OMS ou outra organização de peso que a dignifique e aos seus doentes.
Farmacêuticas apliquem-se, é urgente uma vacina. E talvez um profiláctico repelente de ecrã, para os negacionistas.
Escrevo segundo o anterior acordo ortográfico.
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