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Um dia de folga para o Joaquim Sá

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A Associação MVC (Movimento Viver o Concelho) vai desenvolver um projeto que procura dar um dia de folga ao trabalho diário executado por Joaquim Sá para assegurar refeições a pessoas necessitadas, uma missão em que se tem empenhado nas Caldas da Rainha desde os anos 80 do século passado. 
Joaquim Sá, à direita, no espaço “De Volta a Casa”

A Associação MVC (Movimento Viver o Concelho) vai desenvolver um projeto que procura dar um dia de folga ao trabalho diário executado por Joaquim Sá para assegurar refeições a pessoas necessitadas, uma missão em que se tem empenhado nas Caldas da Rainha desde os anos 80 do século passado. 

Desde há muitos anos a Associação MVC tem vindo a colaborar com o espaço “De Volta a Casa”, de Joaquim Sá, e acompanhado o trabalho ali desenvolvido. “Ano após ano fomos testemunhas de que o Joaquim Sá não pára 365 dias por ano, o que nos levou a ter a ideia de lhe dar uma folga e daí surgiu este projeto, ‘Dia de Folga do Quim’”, explicou Teresa Serrenho, da associação.

Desde o final do ano passado que a ideia tem sido discutida com diversas organizações de maneira a poder tornar-se exequível e agora chegou o momento. O primeiro “Dia de Folga do Quim” será no dia 9 de junho, em que uma equipa de voluntários irá assegurar toda a logística para assumir todas as refeições para esse dia.

“Este projeto é ambicioso e visa servir 60 refeições completas”, aponta Teresa Serrenho, indicando que “daqui para a frente, uma vez por mês, trataremos de garantir que o Quim terá sempre a sua folga”.

A iniciativa “está aberta a integrar todas as pessoas que se queiram juntar e ajudar de alguma forma”. Serão precisos voluntários para confeção da comida, para fazer limpeza, para fazer compras,  para donativos de alimentos ou de verbas para se comprarem alimentos.

A associação procura também “empresas responsáveis e sensíveis a esta causa, associações que queiram trabalhar em parceria, escolas ou instituições que queiram organizar um peditório e contribuir, e donativos institucionais ou particulares”.

Quem quiser ajudar pode contactar o telemóvel 933958502.

Sem feriados nem fins-de-semana

Assistente técnico na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, Joaquim Sá não tem feriados nem fins-de-semana, porque todos os dias encarrega-se de servir as refeições, para além de reunir cabazes de alimentos e vestuário.

“Onde estiver a paz e o amor, aí está o meu coração”, é a postura do sexagenário (faz 61 anos em julho), que depois de anos em que foi obrigado a procurar diferentes locais para fazer chegar a ajuda aos necessitados, encontrou na Rua Adelino Soares de Oliveira o espaço a que deu o nome “De Volta a Casa”.

Natural das Caldas da Rainha, Joaquim Sá conta que “desde criança a bondade sempre me atraiu e era algo inato em mim, mas com a idade foi consolidando”.

“Dos 18 aos 21 anos (a partir de 1980) a minha atenção dirigia-se para um grupo de marginalizados que ao final do dia juntava-se na Praça da Fruta, Parque D. Carlos I e Rua de Camões. Ao passar tantas vezes por estes locais, senti um apelo crescente dentro de mim de que deveria fazer alguma coisa por estes jovens”, recorda.

Pouco a pouco conseguiu cativar a confiança e consoante as suas necessidades “arranjava-lhes comida ou roupas”. A uma jovem com problemas de adição de drogas passou a pagar uma refeição diária numa pequena taberna, a Casa América, junto ao Parque. Com o passar do tempo, a ajuda alargou-se a todos aqueles que procuravam um prato de comida quente para mitigar a fome. Eram também entregues neste espaço roupas e cobertores a quem precisasse.

Quando em finais de 1998 o estabelecimento fechou, a proprietária, Maria José Félix (dona Zezinha), continuou a garantir diariamente as refeições quentes, que deixava em recipientes dentro de sacos no corredor contiguo à taberna, que tinha uma entrada independente. Nas horas de servir as refeições (almoço e jantar) os sacos de comida eram transportados com ajuda de um ou outro jovem utente para o Parque D. Carlos I, onde foram servidas as refeições durante três anos em condições precárias.

“Em 2002, um senhor padre, tendo conhecimento do apoio realizado nesta cidade a pessoas carenciadas, quis falar comigo e fomos unânimes em pedir ajuda na Câmara Municipal de Caldas da Rainha afim de nos ceder um espaço. A vereadora Maria da Conceição, com o pelouro da Ação Social, disponibilizou a informação de que havia vagado um espaço ao topo da Praça da Fruta, que servira de arrecadação e encontrava-se muito degradado. Ao visitar o local, achámos que era o sítio ideal para este trabalho de apoio aos mais carenciados, não só devido à localização, mas também por ser perto de alguns pontos de recolha”, descreve Joaquim Sá.

Foi celebrado um protocolo com a Câmara e foi legalizada em 2003 a “De Volta a Casa”, associação de apoio a pessoas sem-abrigo e carenciadas, que ali funcionou até 2010, altura em que desentendimentos com a autarquia levou a encerrar portas.

“Em janeiro de 2010 voltei de novo a servir as refeições na rua, sozinho, como em tempos o fizera, escolhendo alguns locais estratégicos para o efeito. Umas vezes no parque de merendas da Mata, que só tive permissão por um mês pela administração, pertença ao Hospital Termal, tendo depois que abandonar este local, outras no Largo Espírito Santo, onde os moradores quiseram fazer um abaixo-assinado por acharem incómodo a presença destes indigentes”, relata Joaquim Sá.

“Passei então a servir as refeições junto à fonte no Largo D. Manuel I. Existia um café, e a proprietária, desagradada, exigia que fossemos para outro local. Passámos então a servir o almoço nas traseiras dos Pavilhões do Parque. Servi o jantar onde houvesse mais iluminação, como nas traseiras da Praça de Peixe, na lateral do Centro Cultural e de Congressos (onde o segurança informou que não podíamos permanecer ali), junto ao Jardim da Água (nas traseiras do Chafariz das Cinco Bicas) e Encosta do Sol, junto à Escola Básica, onde permaneci mais tempo. No Jardim da Água a administração do Hospital chamou as autoridades e fomos informados que tínhamos de abandonar o local”, descreve.

Joaquim Sá revela que “aos poucos fui perdendo alguns pontos de recolha, como o da Escola de Sargentos do Exército, Infancoop e Banco Alimentar”, mas “sentindo-me cada vez mais isolado e com as dificuldades a crescer não foi motivo para pensar em desistir”.

Finalmente, em 2014, viu uma pequena garagem que estava em obras na Rua Adelino Soares de Oliveira e falando com o senhorio conseguiu fazer um contrato de arrendamento.

“De Volta a Casa” tem um espaço de refeitório e outro de armazém, e garante diariamente duas refeições (almoço e jantar). Proporciona também aos seus utentes roupas, uma máquina de lavar a roupa e uma pequena casa de banho com chuveiro. Oferece ainda cabazes semanais às famílias inscritas, que são por volta de 40.

São várias as ajudas regulares que recebe e que permitem o cumprimento desta missão de Joaquim Sá, que é possível ver todos os dias nas ruas da cidade, de um lado para o outro, a recolher bens alimentares.

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