Há momentos nas nossas vidas em que a Medicina e a Enfermagem são indispensáveis e decisivas; mas que médicos e enfermeiros haveria sem professores? A Justiça é também importantíssima; mas pode haver juízes e advogados sem professores? O mesmo para arquitectos, engenheiros, maquinistas, aviadores, rabequistas ou hortifruticultores… ou professores. Não há país sem professores. Os professores estão antes de tudo, numa sociedade desenvolvida.
A lista dos 66 países que apresentam o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito elevado é encimada pelos nórdicos. Para este IDH muito elevado contribui o nível médio de escolaridade, que resulta do investimento na Educação.
Na Alemanha, há a expectativa de uma média de 17,1 anos de escolaridade, sendo concretizados em média 14,1; na Finlândia, essa expectativa é de 19,3 anos, sendo a média da concretização de 12,4; em Portugal, só se espera andar na escola em média 16,3 anos, mas abandona-se mal completados 9,2 anos. Em Portugal, as expectativas, apesar de modestas, saem goradas, por não se cuidar do que é fundamental. Um país de ambição acanhada e com este nível médio de escolaridade só pode aspirar à mediocridade — turismo, empregos indiferenciados e emigração.
Segundo a Pordata, em Portugal, chegou-se a investir na Educação 5,1% do PIB, em 2001. De então para cá, só tem havido desinvestimento, tendo-se registado apenas 3,1% do PIB, em 2020. A média da UE é de 4,7%. Segundo o “Monitor da Educação e da Formação 2020” da Comissão Europeia, no período de 2010-2018, verificou-se em Portugal uma diminuição da despesa pública com a Educação de 24 % (menos três mil milhões de euros). Durante o mesmo período, a despesa média da UE-27 com a Educação aumentou 4 %.
Sabe-se que até 2030 serão necessários mais de 1500 novos professores de Matemática, mas há apenas 53 a formarem-se nas nossas escolas superiores de Educação. Passa-se mais ou menos o mesmo nas outras disciplinas. A inversão desta tendência não é imediata, e a cada dia que passa sem que seja feita justiça aos professores, mais se afasta potenciais candidatos à profissão e mais se acentua a instabilidade nas escolas e o prejuízo para os alunos e para a sociedade.
Não é possível haver tudo para todos. Jacques de La Palisse (que, tanto quanto se sabe, nunca disse nenhuma palissada) não diria melhor. Mas, por uma vez, tem de se dignificar a carreira dos professores, pagando o que se lhes deve e respeitando o seu estatuto profissional. Entre os corpos especiais da função pública, os professores são os únicos que não recuperaram a totalidade do tempo de serviço congelado. Por uma vez, tem de se dar primazia ao sector basilar do país.
A sociedade já o compreendeu. Este governo, para quem só importa sobreviver politicamente, é que ainda continua à espera de que as sondagens não se confirmem e de poder dar os usos perdulários do costume à folga de 3,2 mil milhões de euros, resultante do défice estrutural de 2022 inferior a 0,5% do PIB.
Escrevo segundo o anterior acordo ortográfico.
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