Uma exposição de capas de discos de Zeca Afonso, entre outros materiais gráficos de José Santa-Bárbara para o cantor, está patente, até 28 de abril, na galeria de exposições do Centro Cultural e de Congressos (CCC) das Caldas da Rainha.
“Nove Capas para o Zeca” é uma exposição de José Santa-Bárbara, organizada pelo núcleo das Caldas da Rainha da Associação José Afonso (AJA), que faz parte do programa cultural “O que faz falta”.
Nesta mostra, com a curadoria de Abel Rosa, podem ser vistos os materiais gráficos originais de José Santa-Bárbara para os discos do poeta e cantor, de quem foi amigo. Desde os estudos que deram origem às capas às faturas que passou pelos trabalhos realizados. Os discos, em vinil, incluem versões nacionais e internacionais.
Num artigo de jornal de 1972, patente na exposição, Fernando Assis Pacheco apelida José Santa-Bárbara de “capista de Zeca”, tal era a grande ligação entre os dois.
Esta amizade fortaleceu-se nas Caldas da Rainha, cidade que José Santa-Bárbara considera ser a sua terra, apesar de ter nascido em Lisboa, e que Zeca Afonso visitava regularmente para estar junto dos seus amigos e para frequentar o Hospital Termal. “Foi uma época muito boa e do qual tenho muitas saudades”, disse o artista, sobre a altura em que trabalhou com Zeca Afonso.
Para José Santa-Bárbara, a exposição também é interessante para os artistas mais novos perceberem como o design gráfico era feito à mão, uma vez que não existiam computadores.
Segundo o curador da mostra, Abel Rosa, as capas nasceram “graças à amizade entre José Santa-Bárbara e Zeca Afonso” e é o testemunho da rutura que o artista causou ao fazê-las. Antes disso, as capas apresentavam apenas fotografias do cantor em pose. “A capa passou a fazer parte da mensagem política e social”, salientou Abel Rosa. Apesar da censura, houve capas com mensagens fortes.
Como estamos em abril, o curador fez ainda questões de incluir nesta exposição capas criadas pelo artista caldense para outros cantores de intervenção. “As duas músicas do 25 de abril têm capa deste senhor”, disse, referindo-se a “Grândola Vila Morena”, de Zeca Afonso, e “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho.
Élia Mendonça, do núcleo caldense da AJA, agradeceu a José Santa-Bárbara toda a disponibilidade na organização da exposição e a cedência do material apresentado. O artista criou ainda uma obra gráfica da sua autoria, sob fotografia de Patrick Ullmann, o mítico fotógrafo do Olympia. Essa obra está a ser vendida em serigrafia, com todos os exemplares assinados por José Santa-Bárbara.
A responsável também agradeceu ao diretor do CCC, Mário Branquinho, pela forma como tem acolhido tão bem todos os eventos do núcleo naquele espaço, e à vereadora Conceição Henriques, pela parceria estabelecida com a Câmara Municipal das Caldas da Rainha.
Mário Branquinho afirmou estar contente pela adesão a estas iniciativas e pela colaboração de agentes culturais, como é o caso da AJA, com o CCC. “Este é um espaço de todos”, referiu.
A vereadora Conceição Henriques aproveitou a ocasião para defender que não é função dos políticos interferirem com a cultura, mas sim “facilitarem a ação dos criadores”. Por isso, mostrou-se contente pela forma como a sociedade civil tem tantas iniciativas no panorama cultural.
“Caldas da Rainha tem um ambiente artístico e cultural notável para uma cidade desta dimensão”, afirmou a vereadora.
Até maio está prevista uma série de eventos à volta da obra do artista que teve uma grande ligação com as Caldas da Rainha. A programação do primeiro semestre encerra com o concerto “Zeca e os poetas” e a mesa-redonda “A música de José Afonso no seu tempo e na atualidade”, com Rui Vieira Nery, a 27 de maio, no pequeno auditório do CCC.
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