“A obesidade é uma doença crónica, muito complexa e multifatorial. A gordura corporal anormal ou excessiva (adiposidade) compromete a saúde, aumentando o risco de complicações a longo prazo e reduzindo a esperança de vida. Não é – apenas – um problema estético e não resulta – apenas – do excesso alimentar.
É uma doença. Em toda a sua dimensão: genética, epigenética, neurogénica, hormonal e ambiental”, sublinha Joana Louro, assistente hospitalar graduada de medicina interna da Unidade de Caldas da Rainha do Centro Hospitalar do Oeste.
Membro do Núcleo de Estudos da Diabetes Mellitus/Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Joana Louro avança com a seguinte reflexão: “Reconhecemos, diagnosticamos e tratamos inúmeras doenças crónicas. Seria impensável diagnosticar uma hipertensão arterial e não a medicar. Seria absurdo controlar uma diabetes e assim que alcançamos esse objetivo suspender os fármacos que permitiram lograr esse controlo. Então, pergunto: E a obesidade? Até quando vamos ignorar?”.
No seu entender, “é fundamental mudar o “mindset” da sociedade em geral (e dos profissionais de saúde também), que estigmatiza e culpabiliza estes indivíduos. É um erro acreditar que chamar obeso é um insulto à sua dignidade”.
A médica aponta que 38% da população mundial (o equivalente a 2,6 mil milhões de pessoas), “já é obesa ou tem excesso de peso”. “E, sem mudanças substanciais, o número vai agravar-se”, alerta: Até 2035, mais de metade da população mundial (51%) deverá tornar-se obesa ou com excesso de peso. E a obesidade entre crianças e jovens deverá, de acordo com os dados atuais, aumentar mais rapidamente do que entre os adultos.
“Sabemos ainda que a obesidade aumenta substancialmente o risco de doenças como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, demência, osteoartrite, apneia obstrutiva do sono e vários tipos de cancro. E está, como tal, associada a elevada morbilidade e mortalidade. É difícil encontrar qualquer patologia que não seja mais prevalente no indivíduo obeso ou cuja obesidade não a agrave”, relata.
Indica também que “para além da sua dimensão clínica, a obesidade tem grandes repercussões de dimensão económica e social. Mais que o impacto direto nos custos de saúde, está ainda associada ao desemprego e à diminuição da produtividade, e assume contornos de flagelo social”.
“É incontornável: Se falharmos hoje na resposta à obesidade, as repercussões futuras serão gritantes. A obesidade é uma das doenças mais prevalentes, mais subvalorizadas, menos diagnosticadas e menos tratadas da atualidade. Mais que um problema de saúde pública é um problema prioritário de saúde pública. Para o enfrentar são requeridas estratégias de prevenção, mas também de tratamento, em abordagens que combinem intervenções individuais com mudanças sociais e políticas. Abordagens que têm de envolver profissionais de saúde, mas também a sociedade civil e, naturalmente, os decisores políticos”, considera Joana Louro.
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