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“O Sacristão do Surrealismo”

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Luiz José Gomes Machado Guerreiro Pacheco nasceu na rua Dona Estefânia, nº 91, 1º andar, na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, no dia 7 de maio de 1925. Excelente editor, com uma visão notável e profunda daquilo que deveria ser publicado em Portugal, tanto que a sua minúscula Editora Contraponto (fundada em 1950) legou ao país uma panóplia de autores que mais tarde seriam reconhecidos, inclusive internacionalmente. Foi, também, um crítico de alta craveira, usando habilmente a sua pena na construção de uma apreciação fundamentada e sagaz do que lhe passava pelos olhos.

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Luiz José Gomes Machado Guerreiro Pacheco nasceu na rua Dona Estefânia, nº 91, 1º andar, na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa, no dia 7 de maio de 1925. Excelente editor, com uma visão notável e profunda daquilo que deveria ser publicado em Portugal, tanto que a sua minúscula Editora Contraponto (fundada em 1950) legou ao país uma panóplia de autores que mais tarde seriam reconhecidos, inclusive internacionalmente. Foi, também, um crítico de alta craveira, usando habilmente a sua pena na construção de uma apreciação fundamentada e sagaz do que lhe passava pelos olhos.

Começou a publicar os seus textos em periódicos no ano de 1945. É – o futuro o comprovará – um dos melhores escritores portugueses, porém, teve a infelicidade de nascer num país com pouca maturidade cultural, tacanho a todos os níveis, com uma população, na sua larga maioria, adoradora de exiguidades. Se estivesse vivo, instintivamente, manteria a postura “do contra”, não poderia ser diferente, por ser a favor da Democracia e da liberdade. Foi um homem de pensamento, de criatividade e de extravagâncias. São ínfimos os portugueses que conhecem o indivíduo, poucos os que o leram.

Luiz Pacheco enfrentou a PIDE, olhos nos olhos. Falando sempre a verdade. Poderia calar-se e mentir, nunca o fez, era uma criatura sem medos, tão diferente dos bufos cobardolas que por aí andam, a maioria a erguer cravos pelo 25 de abril, mas somente diante da comunicação social, pois, distante dela, com a maior desfaçatez, trabalham no submundo, apontando dedos a inocentes e articulando mordidas cheias de veneno, somente para continuarem com um lugarzinho ao sol.

Sobre as Caldas da Rainha publicou algumas coisas, um dos excertos é curioso, pois (ainda) mostra, e bem, a alma oca de certos soberbos com quem esbarramos todos os dias: “A vida na Província, sabes isso há mais tempo que eu, tem destes contras: a couve é fácil, mas a convivência difícil, não há. Em certa medida já creio ter esgotado uma boa média de caldenses de quem estou tão farto como eles a mim. E os livros são muito bons para colher opiniões de tudo, excepto para uma certa clarividência sobre o que fazemos (…) Com possibilidades aos montões de fazerem vida melhor, digo: mais espiritual, esta gentinha faz de larva sempre pegada à couve (…) Por aqui há ar a mais, há vazio! (…) Gosto muito de Caldas da Rainha.

É uma terra muito bonita que tem um parque muito catita. Ah, também tem uma mata muito bonita com plátanos, mas fica mais acima. Tem uma igreja muito velha. Tem gente muito velha como todas as cidades de Província e gente que parece gente.

Gosto muito de passear no parque das Caldas. Tem árvores, flores, um cinema muito velho, um museu quase novo. Caldas da Rainha tem uma grande categoria: é a terra onde melhor se caga, porque é terra onde melhor se come: vem mesmo gente de muito longe (de Lisboa, de Setúbal, das Frâncias, das Alemanhas e doutros lados muitos) para experimentar.

Às vezes comem mal e por vingança vão cagar a outro sítio; nessas alturas os Caldenses ficam muito tristes muito (direi?) quase envergonhados e ou melindrados, porque o segredo da abundância e excelente qualidade das produções hortícolas e frutícolas das jeiras dos arrabaldes que abastecem o mercado é a alta, muita, qualidade dos estrumes caldenses.

Os caldenses quando cagam guardam a merda toda na cabeça e só a despejam para uns baldes que os matarruanos vêm depois buscar em carrocitas puxadas à mão ou por jericos quando está a abarrotar e algum turista de passagem repara nisso”.

Luiz Pacheco, este corifeu de sabedoria, morreu no Montijo, a 5 de janeiro de 2008. Detestava bufos e fascistas. Rejeitava pseudointelectuais e comissários. Topava-os à distância, pelo cheiro nauseabundo que lhes saía pelas orelhas. Haja carroças!  

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