Ruído na noite caldense
Depois da restauração local, a ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste debateu os desafios nos negócios noturnos do concelho. “Caldas da Rainha chegou a ser considerada a capital da noite do Oeste e agora é uma cidade morta sem massa crítica e oferta para a noite, com os jovens a irem para Benedita, Baleal ou Lisboa”. Foi com esta afirmação que Luís Gomes, presidente da direção da ACCCRO, deu início à tertúlia que teve lugar no dia 26 de março, e encheu a Sala Multiusos do SILOS Contentor Criativo.
No evento, que contou com a presença do presidente da câmara, Vitor Marques, o responsável pela associação comercial adiantou que “não queremos uma cidade-dormitório e é preciso inovar e oferecer opções diferentes para os amantes da vida noturna”, afirmando que a ACCCRO e o Município estão disponíveis para discutir “estratégias para atrair e fixar mais pessoas no concelho”.
Destacou ainda o trabalho criativo que Nicola Henriques tem feito no espaço do SILOS, que atrai artistas e alunos da ESAD.CR.
Novo horário para os estabelecimentos com licença para estarem abertos depois das duas da manhã, mais policiamento juntos aos espaços noturnos, mais eventos para atrair pessoas ao concelho e proibir depois de uma certa hora da noite a venda de bebidas alcoólicas a lojas de conveniência que promovem concorrência desleal. Estas foram algumas medidas que ao longo da sessão foram elencadas pelos empresários como meio de melhorar a vida noturna das Caldas e os seus negócios.
As queixas dos moradores devido ao ruído na via pública, provocado pelas pessoas e pelos bares noturnos, foi também apontado como uma das principais barreiras para os mesmos não fazerem mais festas e eventos.
A tertúlia foi moderada por Carlos Coutinho, chefe da subdivisão da Cultura e Turismo da câmara municipal de Óbidos, que no final disse que é preciso “encontrar equilíbrio entre o município, forças policiais, moradores e estabelecimentos de diversão noturna para trazer mais dinâmica para a cidade”.
Segurança na vida noturna das Caldas
O comandante da Esquadra da PSP das Caldas da Rainha, Nuno Marques, começou para recordar que sendo residente da Nazaré era estudante na década de 90 na Escola Rafael Bordalo Pinheiro, e “gostava muito da vida noturna nas Caldas, onde aos fins de semana terminava a noite nos bares na Foz do Arelho”.
Relativamente à segurança dos espaços noturnos, afirma que Caldas da Rainha é uma cidade “bastante segura”. “Há casos isolados com uma agressão ou outra, a maior parte derivada do consumo excessivo de álcool”, revelou, adiantando que a PSP continuará a fazer operações especiais de prevenção criminal. Privilegiam a segurança rodoviária e apesar do número de condutores a conduzirem com excesso de álcool ter diminuído significativamente ainda “há quem conduza com uma taxa de álcool superior ao que é permitido por lei”.
Paulo Mendes, proprietário do 120 Bar, disse que está há 38 anos na Praça 5 de Outubro, recordando que depois de ser retirado o Mercado do Peixe daquele local o seu negócio sofreu devido à pouca afluência e aí criou um novo conceito de venda de café e meio whisky que começou por comercializar por 110 escudos.
Apontou que hoje é uma referência nacional “devido à importância dada ao cliente, ao investimento e à inovação com produtos diferenciados”. Defende uma cidade tranquila, feliz e união de todos para se realizar mais eventos, para que Caldas tenha mais atratividade.
David Moniz, do Daiquiri Bar, diz que é barman desde os seus 15 anos e defende que apenas os estabelecimentos noturnos possam vender bebidas alcoólicas para consumo à noite porque as lojas de conveniência abertas 24 horas promovem concorrência desleal.
Pretende mais animação para a cidade e mais policiamento. Revelou ainda que há pessoas que levam colunas para a rua e fazem ruído e os bares são os culpados.
“Caldas é a cultura da biblioteca”
Paulo Santos, empresário lisboeta responsável pelo Cabaret Voltaire Lounge, disse que foi o saudosismo dos anos 80 e 90 que o trouxe para as Caldas.
No entanto, disse que já deu para perceber que Caldas em vez de ser a “capital da cultura” é a “cultura da biblioteca, onde não se pode fazer qualquer atividade que faça barulho”. “Não é possível haver uma atividade cultural na cidade que há meia-noite e dezassete comece a receber telefonemas e à meia-noite e trinta tenha a PSP à minha porta”, apontou.
Revelou que o seu negócio é um dos mais recentes, estando aberto há cerca de um ano, indicando que o Cabaret Voltaire ¬Lounge é o berço do dadaísmo, e que o seu contributo para a cidade é “a divulgação do artista local”. Aproveitou para lamentar não haver táxis a certas horas da noite.
Pedro Almeida, do Espaço 7 Bar, que também é um dos espaços noturnos mais recentes das Caldas, referiu que é necessário mais policiamento na Praça 5 de Outubro, porque as “pessoas não se sentem seguros naquele local”.
Revelou que aposta muito na promoção de bandas locais, com música ao vivo com artistas das Caldas. Falou também da concorrência desleal com as lojas de conveniência, cujos clientes depois mandam as garrafas de vidro para o chão.
DJ jocamp, João Campinas, que está ligado à vida noturna devido à sua atividade de promotor de eventos, disse sendo também professor tem conhecimento que os jovens ao fim de semana têm que sair da cidade para ter alguma animação. “As Caldas é uma cidade ligada à arte e é importante que exista outro rumo com mais oferta noturna”, sustentou, revelando que ouve jovens e pessoas mais velhas dizerem que “aqui não se passa nada e que Caldas é uma cidade morta”.
António Coito, vice-presidente da Tomalátuna (tuna mista da ESAD.CR), também considera que os estudantes sentem menos vontade de sair à noite por falta de espaços noturnos e devido a muitos fecharem às duas da manhã.
Considera que a Tuna Mista da ESAD.CR podia estar mais presente na cidade porque ainda há muitas pessoas que não sabem que as Caldas tem uma tuna.
Gonçalo Jorge, da Toca da Onça – Bistro, referiu que estão todos a trabalhar para que exista oferta diferenciada nas Caldas para todos os segmentos, mas falta-nos “abertura para depois das duas da manhã”. “É necessário que a autarquia e PSP consigam fazer com que haja licenças até mais tarde, porque só assim se consegue captar os jovens para que queiram viver nas Caldas”, adiantou.
“Temos uma universidade de artes muito conhecida, por isso originalidade aqui não falta, então deem asas a quem quer produzir”, manifestou.
Jorge Nascimento, um dos proprietários do Café Central (Central Silos), vê as Caldas como uma cidade-dormitório. Revelou que têm um bar na Benedita e abriram recentemente um espaço de restauração na mesma localidade e conhece muitas pessoas que vivem nas Caldas e depois de jantar vão para a Benedita ou para o Baleal. “Caldas precisa de mais oferta e diversidade porque está morta e apagada”, salientou, destacando o sucesso de Óbidos e Nazaré. Referiu ainda que evitam fazer festas no Café Central porque só traz problemas devido ao ruido, onde é certo aparecer a PSP. Destacou ainda a Frutos e o Oeste Lusitano, que traz muitas pessoas às Caldas de outros concelhos.
Ivan Martinez, do Walk About, destacou a Foz do Arelho como um local espetacular para a diversão noturna e que está “morta”. Defende mais eventos para atrair público. Revelou que nos sete anos que tem o espaço aberto fez um evento com música ao vivo em que PSP apareceu à porta à meia-noite. Questionou se o município está em conformidade com a PSP.
Estela Pereira, responsável pelo Marula Bar, apelou à compreensão da população e ao “papel das entidades competentes”, para que deixem os “bares trabalhar com música ao vivo, nomeadamente aos fins de semana”. Defende ainda uma discoteca para que os clientes da noite possam continuar no concelho.
Ricardo Figueiredo, proprietário do Cocos Veggie e Tal, na Avenida do Mar, na Foz do Arelho, referiu que mudou o nome e o conceito do seu espaço porque desistiu de lutar pela diversão à noite no concelho. Considerou que um dos grandes culpados foi o executivo anterior da autarquia que mudou o Regulamento Municipal do Ruído, que foi “a ruína da vida noturna nas Caldas da Rainha”.
Novos restaurantes nas Caldas
O presidente da Câmara declarou que a vida mudou com a Covid-19 e que vai haver mais alterações devido à economia. Afirmou que não concorda que Caldas da Rainha, com 52 mil habitantes, seja uma cidade-dormitório. “Caldas é uma cidade com comércio apelativo e temos oferta noturna”, apelando aos estabelecimentos que trabalham à noite que inovem e ajudem o Município a criar eventos e a dinamizar a cidade.
Revelou que nos próximos meses vão ser abertos quatro novos restaurantes nas Caldas.
“Falta-nos uma discoteca, mas tem que ser investimento privado”, salientou, lembrando que “por vezes não tiramos partido do que temos”.
Quanto a novidades, vão dinamizar no final de abril, com a ACCCRO e os restaurantes, pratos novos com produtos endógenos.
Na altura do dia da cidade vão realizar dois concertos com o palco em frente à sede da Câmara.
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