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Um problema, muitas variáveis

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Não é de agora. Mas há alturas em que as notícias surgem com mais vigor e nas últimas semanas os meios de comunicaçãosocial trouxeram até nós o que de tão mau pode acontecer na nossa sociedade: os maus cuidados e negligência para com aspessoas mais velhas institucionalizadas. O que temos assistido é o reflexo do […]

Não é de agora. Mas há alturas em que as notícias surgem com mais vigor e nas últimas semanas os meios de comunicação
social trouxeram até nós o que de tão mau pode acontecer na nossa sociedade: os maus cuidados e negligência para com as
pessoas mais velhas institucionalizadas.

O que temos assistido é o reflexo do que muito existe por aí por esse país fora. Lares ilegais, más condições de salubridade,
maus cuidados, negligência em nome de quem quer e faz questão de lucrar com a fragilidade dos seres humanos.

Toda a gente de uma forma ou de outra, acaba por ter uma imagem negativa dos lares e as notícias muitas vezes acabam por vir a
reforçar esse estigma.

Como toda a gente sabe, a pessoa mais velha, carece de um conjunto de cuidados, sejam eles de higiene e conforto, sejam de
saúde, sejam psicossociais e até espirituais, consequência do aumento da esperança de vida e uma maior prevalência de
doenças crónicas. Ora com mais ou menos dependência, a garantia de cuidados a todos os níveis são essenciais para
promover um envelhecimento com qualidade de vida.

Mas de quem é a culpa afinal? Da sociedade? Sim. Infelizmente a nossa sociedade ocidental vê os mais velhos como um peso
que tem que carregar. Um encargo para uma segurança social que se diz há muito falida e que é transportada para o futuro
como insustentável para as gerações atuais.

Esquecemos é que estas pessoas que agora usufruem das suas reformas, lá atrás fizeram os seus descontos e se não os fizeram, era porque não existia esse estado social que hoje é o garante de quem precisa.

Por outro lado a maioria recebe um valor quase simbólico que com os custos de vida atuais, mal dá para os medicamentos tão essenciais como são.

Como é possível pagar uma mensalidade numa Estrutura Residencial Para Pessoas Idosas (ERPI)? E vou ficar apenas por esta parte do problema, porque neste capítulo da sociedade haveria muito mais para dizer.

E a família também tem culpa? Sim. Se por um lado muitas vezes a família vê-se impotente e sem respostas, fruto da pressão
laboral e tempo disponível, por outro as respostas sociais escassas e acessíveis contribuem para o desespero.

São inexistentes as vagas em ERPI com o apoio da segurança social restando as ERPI privadas com custos difíceis de suportar,
ficando assim aberta a porta à clandestinidade, à falta de condições e aos maus cuidados.

Mas independentemente destes factores como é que uma família pode compactuar com os maus cuidados, deixando o seu familiar ao cuidado de pessoas sem formação, em sítios sem alvará e sem condições? Vale tudo, desde que a pessoa mais velha fique num lugar qualquer, longe
de tudo, principalmente do amor da família?

E onde ficam as ERPI ́s nisto tudo? Seria errado generalizar o péssimo funcionamento de algumas aos bons exemplos da
maioria mas efetivamente as notícias que surgem nos meios de comunicação social não favorecem muito essa imagem.

É pena porque acredito que a maioria desenvolve um excelente trabalho diário, onde são prestados cuidados de qualidade. Já
nalgumas ERPI que nem será justo dar essa designação, os maus cuidados são gritantes e o respeito pelo outro nem sequer
existe. Onde os idosos são vistos como meros objectos e onde só interessa o lucro que se pode obter a qualquer custo.

Para quê profissionais qualificados? Boas condições de habitabilidade? Cuidados de saúde e conforto? Alimentação? Interessa sim
alimentar a ganância de quem perde os escrúpulos com a necessidade alheia.

Mas não posso deixar de parte os profissionais que aceitam trabalhar nestes locais a qualquer preço. Hoje em dia, é uma área
em que muitas vezes escasseiam profissionais para trabalhar, principalmente pessoal auxiliar.

Ora não faltando trabalho na área porque aceitam os profissionais trabalhar em locais sem condições, perpetuando os maus cuidados e fazendo parte do problema? Se calhar porque nem sequer têm formação na área, acham que não precisam e porque encontram uma
oportunidade de garantir rendimentos mensais sem refletir um pouco naquilo que estão a fazer.

É lamentável a falta de integridade, humanidade e ética em nome do proveito próprio, mais uma vez usando a fragilidade humana do outro. E aqui não vou excluir os enfermeiros, os médicos, os diretores técnicos, entre outros que dão apoio a estas instituições.

Onde ficaram os juramentos, a ética e a deontologia? Parece-me a parte mais grave da equação tendo em conta a formação que têm de base.
Concluindo, de quem será a culpa disto tudo? É da família que diz na TV que desconhecia as condições mas deixou lá o
familiar sem ver.

É da instituição que vê o idoso como um mero objeto lucrativo. É dos profissionais ou “amadores” que aceitam
trabalhar nestes sítios, a troco de um salário “sujo”. É do estado que não fiscaliza, não apoia, não dá resposta.

É da sociedade que há muito perdeu o respeito e diria até a vergonha. As variáveis são muitas, já a humanidade e respeito escasseiam.

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