As aldeias serranas do Avenal e Pereiro voltaram a assinalar a tradição da celebração do “Pintar e Cantar os Reis” na noite de 5 para 6 de janeiro. Este acontecimento anual, por altura do Dia de Reis, voltou a atrair centenas de populares a estas aldeias da freguesia de Vilar, no concelho do Cadaval.
Como é hábito, grupos de populares percorreram as várias artérias do Avenal e Pereiro, cantaram versos alusivos ao novo ano e aos proprietários das casas por onde passaram. Outros grupos, em simultâneo, pintaram nas entradas das habitações os símbolos tradicionais (BRM – Bons Reis Magos e o ano de 2023), que representam votos de bom ano e prosperidade aos respetivos moradores e assinalam a passagem deste secular culto por aqueles locais, ano após ano.
Os ‘comes e bebes’ também são parte integrante desta tradição. Nesse sentido, durante o percurso, diversos habitantes destas aldeias abrem as portas das suas casas, garagens ou adegas e oferecem comida e bebida aos grupos presentes.
O “Pintar e Cantar os Reis” é uma tradição com origens medievais, que conjuga influências árabes e cultos pagãos da época romana. É associado à celebração da epifania, do presépio e dos reis magos, que surgiu na Península Ibérica com a chegada dos monges franciscanos a Alenquer, no século XIII. Este ato pretendia ser um voto de felicidade para o novo ano, que tinha início a 6 de janeiro no calendário romano.
O presidente da Câmara Municipal do Cadaval, José Bernardo Nunes, marcou presença no evento, assim como os restantes membros do executivo camarário que, nesta ocasião, receberam a visita de Jassira Monteiro, presidente de Câmara de Santa Catarina, da ilha de Santiago (Cabo Verde).
No dia 6 de janeiro, o auditório dos Paços do Concelho do Cadaval acolheu uma sessão de divulgação desta tradição. Organizada pela Leader Oeste e tendo David Gamboa como orador, a iniciativa abordou este culto em várias dimensões, nomeadamente, naquilo que diz respeito às origens, à simbologia e cores utilizadas pelos participantes, assim como aos versos que são cantados pelos grupos.
Também foi salientado o facto de, ao longo dos tempos, esta tradição ter sofrido várias modificações, geralmente associadas a acontecimentos marcantes. Na sequência da implantação da República, deu-se a introdução do “M” (Magos) na sigla “BR”, de modo a evitar conotações monárquicas. E, por exemplo, com o 25 de Abril deu-se a integração das mulheres nos grupos de cantores, foi retirada ou dissimulada dos desenhos a estrela do oriente, com receio de conotações políticas e a celebração deixou de ser privada e isolada para se transformar numa festa participada por todos os que dela queiram fazer parte.
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