120 anos da ACCCRO
“Caldas da Rainha Criativa e o seu Comércio”, foi o mote para a primeira tertúlia que assinalou os 120 anos da ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste. As palavras-chave foram “estratégia, criatividade, diferenciação, reinvenção e atratividade”.
A iniciativa juntou no café restaurante Maratona, no passado sábado, doze convidados ligados ao comércio e área empresarial que apresentaram a sua visão sobre o tema. “Urbanismo comercial, mais políticas públicas, lojas com conteúdos únicos, clusters com espaço para indústrias criativas, culturais e mais ligação à ESAD.CR -Escola Superior de Artes e Design”, foram algumas das mensagens transmitidas pelos convidados.
No final da tertúlia decorreu um jantar convívio, onde a partilha sobre o futuro da cidade continuou com momentos de networking.
As comemorações dos 120 anos da ACCCRO prolongar-se-ão em 2023, com um ciclo de 12 tertúlias, mensalmente, cada uma dedicada a um tema diferente, com doze convidados cada, de diferentes áreas.
Foi unânime a todos os participantes a importância da partilha de ideias e conhecimentos, bem como a rede de contactos possibilitada por este tipo de encontros informais.
O evento, que passou em direto nas redes sociais da Rádio Mais Oeste e Jornal das Caldas, foi moderado pelo presidente da Assembleia Geral da ACCCRO, António Salvador, que relembrou a sua génese, os fundadores e a história da Associação.
António Salvador iniciou o evento lembrando a posição de prestígio de Rafael Bordalo Pinheiro, que foi eleito como primeiro presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Comercial e Industrial, fundada em 1902. “Foi uma voz ativa, determinada e preocupada com a vila e o seu progresso, contribuindo para o desenvolvimento local”, contou.
O arquiteto recordou ainda que na altura toda a gente chamava à ACCCRO o “grémio”, que tinha a ver com as “cooperações e associações” e significava um “local de reunião para debater interesses comuns”.
Apesar dos 120 anos, o presidente da Assembleia Geral revelou que a ACCCRO “é uma jovem de boa saúde que vai durar muito para além de nós e continuar a representar os setores do comércio, serviços, hotelaria, restauração e similares”.
No painel de convidados, Cláudia Henriques responsável pelo espaço Sr. Jacinto, falou um pouco da dinâmica da loja que trabalha com artistas locais. Considera que a ACCCRO tem “grandes desafios” e que só vai melhorar o seu trabalho quando perceber “as necessidades de cada comerciante”. É da opinião que “cada um tem que fazer a sua parte e no conjunto se criem estratégias para o desenvolvimento do comércio tradicional”.
“Uma ligação à ESAD-CR”
Joana Marcão, designer de interiores, responsável pelo Atelier Jo Decor, no Parque Tecnológico de Óbidos, é também gestora de Alojamento Local. Considera que Caldas precisa de uma “lufada de ar fresco no comércio e nos restaurantes, e que novos empreendedores peguem nas lojas que ficaram vazias na pandemia”. Destacou a louça de Bordalo Pinheiro que “no estrangeiro é adorada e aqui tão perto da fábrica não é valorizada”. Disse ainda que a ESAD.CR está a “fabricar coisas fabulosas para o estrangeiro e não tem uma ligação às Caldas”.
Margarida Freitas, empresária e antiga presidente da Assembleia Geral da ACCCRO, disse que nos últimos seis anos fecharam “158 lojas nas Caldas da Rainha”. “Nós precisamos todos de recuperar”, salientou, considerando que Caldas precisa de “atrair clientes” e para isso tem que “oferecer novas experiências”.
Referiu ainda que “não podem ser ‘Caldas, a cidade do comércio tradicional, e depois criar várias centralidades e permitir que as grandes superfícies se instalem em cima do comércio local”.
Silvano Santos, da Loja dos Arcos, destacou a necessidade urgente de captar pessoas para as Caldas, porque o “comércio só consegue sobreviver com clientes”. Disse que as termas e o hotel de cinco estrelas que era suposto nascer nos Pavilhões do Parque são uma “forma de atrair clientes de qualidade”. No final contou que levou ao evento o seu pai, que é sócio da ACCCRO desde 1948.
Rui da Bernarda, responsável pela Mercearia Pena, declarou que é necessário “parar para pensar” e definir um “pensamento estratégico para as Caldas onde nos podemos rever todos”. O fundamental é averiguar o que “vamos fazer para atrair mais pessoas às Caldas”. Espera que esta tertúlia seja o primeiro passo ser para “construirmos uma cidade atrativa com muita autenticidade”.
Francisco Vogado, proprietário da papelaria Vogal, afirmou que “os relógios só andam para frente ou estão parados” e que é preciso parar “para analisar as medidas tomadas que não deram os resultados esperados e observar o quão longe estamos dos objetivos”. Considera importante levar os comerciantes a “cooperar e colaborar nos vários eventos da ACCCRO” e assim “discutir, partilhar e decidir novas ações e formas de funcionamento”.
Jorge Barosa, presidente da AIRO – Associação Empresarial da Região Oeste, falou da necessidade das Caldas “se reinventar”, e que é preciso que o comércio local “faça diferente” e que “trace novos caminhos para sobreviver nos dias de hoje”.
José Ramalho, diretor técnico do CCC, que reencarnou no evento a figura de Rafael Bordalo Pinheiro, deixou algumas pistas do mestre, salientando que “uma cidade que só tem uma escola superior de artes e não se relaciona com ela é algo preocupante”. “Uma cidade que pode usar esse capital criativo dos jovens para lhes entregar uma praça para desenharem plasticamente, esteticamente e tecnicamente uma iluminação de natal que se tornará única é um investimento”, sustentou, acrescentando que “ao fim de meia dúzia de anos temos um portfólio a céu aberto que vende para todo o mundo o que mais ninguém tem, porque aí fazemos a diferença”. Entre “identidade, tradição, vanguarda com transformação e inovação”, Bordalo deixou uma receita completa para abraçar, sublinhou.
“Não há empresários sem risco”
O vice-presidente da câmara das Caldas, Joaquim Beato, disse que o caminho é ter uma “cidade mais agradável, mais limpa, mais fluida em termos de mobilidade”. “Caldas tem património, história e cultura e é preciso criar as condições e perceber o que queremos como cidade em termos de futuro”, apontou.
O autarca defendeu uma política para criar dinâmica e atratividade, mas “se perdemos lojas é necessário movimentar para que os cidadãos sintam atratividade para correr o risco e não ter medo de falhar”, salientou. “Não há empresários sem riscos”, adiantou, salientando que é necessário criar “atratividade ao investimento”.
“Reconhecimento, conceito, atração, autenticidade, tradição, diferenciação, relacionamento com a ESAD.CR”, palavras de Luís Gomes, presidente da ACCCRO, que finalizou a tertúlia. Defendeu ainda a criação de uma comissão em que a ACCCRO e AIRO possam estar presentes nas sessões da Assembleia Municipal para levar os anseios dos empresários.
O evento contou com a colaboração de um aluno do Curso Técnico de Audiovisual da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, que ajudou na transmissão em direto para o Facebook da Rádio Mais Oeste e Jornal das Caldas.
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