No âmbito da comemoração do Dia Internacional da Saúde Mental, o departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar do Oeste (CHO) procedeu à inauguração da exposição “Liberdade Através de Técnicas de Impressão Manual”, no Museu do Hospital e das Caldas, na passada segunda-feira.
A exposição, patente ao público até 29 de outubro, mostra trabalhos co workshop de serigrafia promovido pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas (ESAD.CR) a oito utentes do serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do CHO, coordenado pela docente Vera Gonçalves.
Este projeto teve a particularidade de dar ênfase à liberdade de expressão com a cor através do ato de pintar. O workshop pretendeu “mesclar a arquitetura da cidade das Caldas da Rainha com imagens abstratas com que os participantes mais se identificassem”. Este exercício demandou uma “busca de identidade dos participantes através de imagens impressas e de cor”.
A iniciativa visa o estigma da doença mental e a relevância da “arte enquanto elemento comunitário integrador de pessoas em situação de discriminação”, explicou Catarina Jesus, médica especialista em psiquiatria do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do CHO, que quis com esta ação “chamar a atenção para um grupo da população que muitas vezes passa como não identificado ou que é visto de uma forma distorcida por causa do estigma”.
Patrícia Frade, diretora do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, disse que uma das preocupações é “tentar uma intervenção o mais precocemente possível”, lamentando que ainda não haja um “desenvolvimento nas políticas de saúde mental que nos permita uma intervenção atempada como nós desejaríamos”. Espera conseguir ter o financiamento “para desenvolver os projetos que temos pensado há anos e que ainda não se conseguiram realizar por falta de investimento nesta área”.
Investir no bem-estar mental significa investir em “comunidades saudáveis e prósperas”, salientou, acrescentando a necessidade de abordar o estigma e a discriminação para derrubar “as barreiras que impedem as pessoas de procurarem apoio”.
A diretora do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental aproveitou a ocasião para falar das obras que estão neste momento a decorrer para o internamento de psiquiatria na unidade de Peniche, “que é muito importante estarem a acontecer”. Revelou que também têm uma equipa comunitária que “está na fase final da sua formação para conseguirmos intervir mais na comunidade”.
João Mateus, subdiretor da ESAD.CR, destacou o papel da coordenadora deste workshop, a professora Vera Gonçalves, que teve a sensibilidade de “motivar estes participantes, encorajando na arte a libertação do que está dentro deles”.
Elogiou ainda Pedro Cá, que fez a reportagem fotográfica do evento. “Acabámos por assumir a responsabilidade da exposição e o que temos é uma espécie de viagem de uma iniciativa que permitiu colocar em prática a criatividade e liberdade dos participantes, que termina com um texto de Catarina Jesus”, descreveu.
João Mateus assumiu o “desafio da escola desenvolver outro tipo de trabalho nesta área”.
O diretor da ESAD.CR, João dos Santos, falou do estigma que considera existir nas pessoas que frequentam as escolas de artes. “Na realidade precisamos uns dos outros para poder olhar o mundo de formas diferentes e para nos podermos aceitar uns aos outros”, disse, revelando que vão criar as condições com o departamento de psiquiatria do CHO para que esta iniciativa volte a repetir-se.
A presidente do Conselho de Administração do CHO, Elsa Baião, encerrou a cerimónia inaugural da exposição, manifestando satisfação por ter “profissionais que trabalham e cuidam desta forma e de ter doentes que aceitam estes desafios”. Destacou o Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do CHO que “cada vez tem mais valências no sentido de dar mais respostas à comunidade”.
Testemunho de utente
Na sessão inaugural ouviu-se o testemunho de Liliana Puyu, da Ucrânia que foi uma utente do serviço que participou no workshop que resultou na exposição. Está em Portugal com o seu marido há 23 anos e adorou participar na atividade na ESAD.CR, “uma experiência nova, rodeada de boas pessoas, felizes e contentes enquanto trabalhávamos a arte”.
“Com a ajuda da professora Vera consegui dar vida a uma folha de papel. Durante o tempo que estive a fazer o trabalho senti-me muito calma e livre, parece que estava noutro mundo dentro da imagem que fazia com tintas”, contou, lembrando o filho, neto e nora que estão na Ucrânia em perigo de vida. Revelou que gostava de repetir a experiência, que lhe faz “muito bem à alma”.
Esta iniciativa teve o apoio da Liga de Amigos dos Hospital das Caldas da Rainha.
0 Comentários