Um centro de residências artísticas situado na cidade de Alcobaça é dado a conhecer a partir desta sexta-feira, com a inauguração da exposição de um de cinco artistas ucranianos que se encontram alojados temporariamente no espaço, num projeto criado por uma equipa que inclui um elemento formado em artes plásticas na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha.
A criação deste projeto é uma iniciativa da Babel – Organização Cultural, uma associação sem fins lucrativos em funcionamento desde 2013 e sediada em Macau. Os responsáveis pela direção geral e artística da central-periférica são Margarida Saraiva e Tiago Saldanha Quadros, e a direção de produção do projeto é da responsabilidade de Ana Battaglia Abreu, artista plástica formada nas Caldas da Rainha.
A Central-Periférica – centro de residências e investigação artística – situa-se na Rua Dr. Nascimento e Sousa, no centro histórico de Alcobaça. Para além de uma casa, o pequeno complexo inclui um jardim de cerca de mil metros quadrados, sendo que os seus limites são definidos pelo rio Alcoa e o Jardim do Amor.
É um espaço de produção no qual coexistem disciplinas artísticas e não artísticas para explorar os desafios contemporâneos da região em todas as suas facetas. Uma das principais linhas estratégicas é apoiar o tecido criativo da zona centro-oeste de Portugal, em articulação com outras periferias nacionais e internacionais.
O objetivo era que a atividade se iniciasse em 2024/25, depois de um programa de reabilitação a cargo do Crea, ateliê de arquitetura sediado no Porto. Contudo, dada a necessidade de apoiar artistas no imediato, as instalações são utilizadas desde já para o acolhimento de artistas que se encontram em situação de risco.
Os cinco primeiros artistas residentes são ucranianos e não podem regressar ao seu país em guerra: Kamilla Yanar, Valerie Karpan, Maryna Khrypu, Oleksi Voitikh e Yehor Poe.
A primeira exposição, “Temporary corner”, a inaugurar pelas 17 horas desta sexta-feira, é da autoria de Kamilla Yanar, nascida em Shaktarsk, no Donbass.
No início de 2014, juntamente com outros habitantes dos territórios ocupados da Ucrânia, Kamilla Yanar viu-se perante a necessidade de sair da sua própria casa – que de súbito passou de lugar seguro, para muito perigoso – ou esconder-se nas esquinas dos prédios da cidade onde nasceu. A decisão de partir foi o início da procura da artista pelo seu lugar no mundo e a razão pela qual se dedicou a explorar e refletir sobre o impacto das deslocações forçadas e suas implicações na identidade e na visão do mundo de cada indivíduo.
Estar constantemente na estrada, fazer pequenas paragens, conhecer pessoas novas, comunicar, ouvir as suas histórias e compreender quantas pessoas se encontram em situação semelhante. Foi assim que nasceu o conceito que consubstancia o trabalho que agora se apresenta: uma série de entrevistas com pessoas que tiveram de se mudar para irem ao encontro “do seu canto”, um lugar que pudessem chamar de “casa”.
A exposição, que será apresentada na Central-Periférica durante o mês de julho, às quintas, sextas e sábados, entre as 15 horas e as 19 horas, partilha essas histórias, que se entrecruzam com a história da própria artista, através de fotografias, textos e mapas. A mostra apresenta ainda um vídeo que recupera memórias de infância de Kamilla Yanar, interrompidas abruptamente pela guerra.
O programa de residências resulta de uma parceria entre a Central-Periférica, a Babel, a organização Artists at Risk e a Fundação Oriente.
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