A 16 de março de 1974, cerca de duzentos soldados do Regimento de Infantaria 5 (RI5), liderados pelo major Armando Santos, saíam do quartel das Caldas da Rainha rumo a Lisboa. O objetivo? Pôr fim ao regime que se iniciou em 1933, um ano após a chegada de Salazar à presidência do Conselho de Ministros.
A tentativa de golpe falha – em Lamego, Santarém e Mafra não se dão levantamentos e a comissão coordenadora do já estabelecido Movimento das Forças Armadas é arredada destas movimentações militares. Após regressarem ao quartel nas Caldas da Rainha e acabarem cercados por unidades fiéis ao regime, os envolvidos são presos e enviados para a Trafaria, enquanto o RI5 é alvo de várias transferências que tentam retirar estrutura a futuras iniciativas contra o Estado Novo.
O levantamento das Caldas, como ficou conhecido o episódio, é um dos vários reflexos da crescente oposição social e militar ao regime e também da sua incapacidade de reabsorver e reprimir as tensões que a Guerra Colonial, o isolamento internacional, o fechamento sociocultural e o subdesenvolvimento económico geravam. Prova disso – pouco mais de um mês depois, a Operação Fim-Regime executava aquilo que o seu título propunha e iniciava-se o período democrático e o PREC.
Ainda hoje, autocracias existem na Europa. A teimosia de um conjunto de pessoas, lideradas por um homem que se prolonga no poder pelos anos, em entender como deles toda uma nação, ou conjunto de nações, seja em 1961 ou desde o passado fevereiro, que querem ser ou manter-se independentes, está na origem de mais um desastre humanitário, à semelhança de tantos que já se davam fora do nosso continente.
Mais uma vez, precisa-se de paz e precisa-se de liberdade. Os homens que se levantaram a 16 de março de 1974 acreditavam nisso. Esperemos que os povos de hoje continuem a demonstrar que também acreditam.
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