A Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste (EHTO), em Caldas da Rainha, realizou na passada quinta-feira um jantar de solidariedade para com os refugiados da Ucrânia. “União e paz” foi o título do evento, que juntou cerca de trinta pessoas e que aproveitou para homenagear aquele país através de um menu com pratos típicos desse território.
O menu tradicional da Ucrânia teve o preço de vinte euros, revertendo a receita para a família de Vladislav Ivanov, aluno ucraniano de vinte anos, que desde agosto do ano passado está em Portugal, a morar em Rio Maior. Antes de a guerra começar, a mãe, que é ajudante de cozinha num restaurante em Rio Maior e é casada com um português, regressou à Ucrânia, assustada com a situação, para estar mais próximo da família e trazê-la para Portugal.
A mãe do aluno já regressou com a avó a Portugal, enquanto uma tia e dois filhos ficaram na Polónia. A mãe e a avó não puderam estar no jantar, mas o aluno, que frequenta o curso de Técnicas de Cozinha e Pastelaria, ajudou na confeção preparada pelos estudantes do primeiro e terceiro ano, com o apoio do curso de Técnicas de Serviço de Restauração e Bebidas.
A turma do primeiro ano integra um jovem de dezasseis anos que nasceu no Cadaval mas que tem pais ucranianos e boa parte da família está na Ucrânia. Denys Katorhin também ajudou na elaboração da ementa, que foi elogiada pelos participantes no jantar, onde se encontravam duas representantes da comunidade ucraniana residente nas Caldas da Rainha, a vereadora da ação social da Câmara das Caldas e o presidente do Rotary Club das Caldas da Rainha.
Daniel Pinto, diretor da EHTO, começou por agradecer aos alunos e professores, que “dedicaram as suas energias a esta causa”, sublinhando que “cada país tem a sua riqueza cultural e gastronómica, e quisemos mostrar isso mesmo”, uma prática já habitual na escola, que tem aproveitado para explorar a multiculturalidade dos povos através da comida. Deixou também um repto para que possa surgir um restaurante ucraniano, a exemplo de outros países que estão representados em estabelecimentos na cidade.
Ovidio Diniz, presidente do Rotary Club das Caldas da Rainha, organização que fez deslocar alguns elementos a este jantar, contou que na sua atividade profissional ligada à construção civil – é arquiteto – há cerca de duas dezenas de anos, aquando da primeira vaga de imigrantes ucranianos, empregou “vários ucranianos que eram engenheiros civis, médicos ou tinham outras profissões no seu país e que aqui recomeçaram como serventes, numa altura em que na Ucrânia eram más as condições de vida”.
“Hoje estão a ser mortos”, fez notar, pedindo uma reflexão sobre “para que mundo caminhamos”.
A vereadora da ação social, Conceição Henriques, manifestou que “nunca houve um êxodo de dois milhões de pessoas em tão pouco tempo, sem saber para onde vão, e não nos pode deixar indiferentes, e não deixou”. “De repente vejo a sociedade civil acudir a esta emergência. Esta é a parte boa. A Câmara a única coisa que fez foi integrar a coluna de apoio do que se tinha espontaneamente formado, para coordenar”, acrescentou.
Para a autarca, que tinha acabado de chegar do pavilhão do Arneirense, de onde saíra um camião com toneladas de bens para ajudar o povo refugiado, “é pena ser preciso uma situação tão dramática para o melhor das pessoas vir ao de cima”, pedindo aos ucranianos “resistência e resiliência”.
Yara Pernay e Uliana Ludchak, respetivamente há 21 e 22 anos em Portugal, representaram a comunidade ucraniana nas Caldas da Rainha. Ambas têm família na Ucrânia e têm colaborado na organização da ajuda para os refugiados.
Agradecendo a ajuda portuguesa, fizeram notar a “energia positiva” que têm encontrado. Yara relatou que a onda solidária tem permitido resolver necessidades de quem chega, dando o exemplo de que era preciso uma banheira de bebé e depois de divulgar essa lacuna apareceram logo sete banheiras e até pessoas a disponibilizarem-se a comprar.
O jantar na EHTO incluiu também recolha de bens e alimentos.
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