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O Trump francês

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Éric Zemmour é filho de judeus franceses argelinos, designa-se judeu berbere, tem um nome afrancesado — azemmur significa azeitona em cabila, a língua berbere da Argélia — e defende que os imigrantes devem afrancesar os nomes dos filhos. Acha inconcebível que um neto de imigrantes continue a chamar-se Mohammed. Diplomado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris (vulgo Sciences Po), jornalista, político, escritor, ensaísta, polemista, cronista…

Éric Zemmour é filho de judeus franceses argelinos, designa-se judeu berbere, tem um nome afrancesado — azemmur significa azeitona em cabila, a língua berbere da Argélia — e defende que os imigrantes devem afrancesar os nomes dos filhos. Acha inconcebível que um neto de imigrantes continue a chamar-se Mohammed. Diplomado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris (vulgo Sciences Po), jornalista, político, escritor, ensaísta, polemista, cronista…

Já foi condenado por incitamento ao ódio racial e religioso. Tem tido ameaças de morte e usa protecção policial. A revista Nouvel Observateur caracteriza-o como reaccionário integral, tendo por ídolos os teóricos franceses da extrema-direita do final do século XIX, a quem foi beber para ressuscitar o ultra-nacionalismo, a xenofobia e até o anti-semitismo. A Nouvel Observateur considera mortífero para a democracia francesa este caldo de referências.

Para Éric Zemmour, antes da Revolução Francesa, o mundo estava em ordem, havia um pacto milenar em que cada um estava no seu lugar, a cumprir o seu dever. Depois, veio ainda outra desgraça, o Maio de 68. É tudo isto que Zemmour quer reverter. Quer outro país, que idealiza branco e católico, e identifica os muçulmanos como o inimigo principal que põe em causa essa França impossível.

Os problemas franceses, segundo Zemmour, foram agravados com a presença dos imigrantes, sobretudo muçulmanos, entre os quais diz haver apenas 14% de trabalhadores. «Escola, habitação, desemprego, ordem pública, prisões, tudo está pior devido aos imigrantes e ao Islão» e «Os franceses tornaram-se estrangeiros no seu próprio país» são os chavões que mais repete, clamando que em Seine-Saint-Denis onde nasceu, e em todas as grandes periferias das metrópoles francesas, hoje já não se vive à francesa, vive-se à muçulmana. Zemmour chama-lhe “a grande substituição”. A substituição dos franceses “de souche” pelos imigrantes islâmicos. Zemmour acredita que há um plano da comunidade muçulmana para absorver a velha França cristã.

Tal como aconteceu nos Estados Unidos, quando Donald Trump levou para a campanha a questão de saber o que é um verdadeiro norte-americano, Zemmour está a seguir caminho semelhante ao apresentar-se como salvador da identidade francesa em decadência. Para tal, Zemmour pretende proibir o reagrupamento familiar de imigrantes e refugiados, suprimir o direito à nacionalidade pelo local de nascimento, proibir a vinda de estudantes africanos, acabar com a ajuda médica do Estado francês a imigrantes em situação irregular, expulsar todos os imigrantes em situação irregular, expulsar delinquentes estrangeiros e retirar a cidadania francesa a delinquentes com dupla nacionalidade. Em contrapartida, apela à natalidade entre os franceses para reforçar a família e a civilização cristãs.

Zemmour tem uma particularidade que não é irrelevante em França: é um “intelectual”, culto, com profundo conhecimento da História do seu país que utiliza como arma para o debate. Napoleão e Charles de Gaulle surgem frequentemente como referências. Sempre polémico, tem uma presença mediática incomparável a qualquer outro político. A coroar vasta produção literária, A França Ainda Não Disse a Última Palavra, o mais recente livro. É com este livro que Éric Zemmour tem percorrido o país. Salas cheias para ouvir o homem que ultrapassou Marine Le Pen pela direita.

Na primeira semana de Dezembro, formalizou a candidatura. Nas sondagens, está pouco atrás de Le Pen — ambos entre 14 e 16%.

A ascensão meteórica de Éric Zemmour explica-se pela orfandade dos eleitorados de direita e extrema-direita desiludidos com Marine Le Pen. São radicais, obcecados com a imigração e a delinquência, que ouvem o que querem ouvir quando Zemmour diz que o Islão não é compatível com a República Francesa.

Mas, eis que este paladino da xenofobia, racismo, misoginia e nacionalismo, tem duas desvantagens importantes: é muito rejeitado pelos eleitorados feminino e judeu e não se lhe reconhece estofo de Presidente, ficando nestes aspectos muito abaixo de Macron e até mesmo de Marine Le Pen.

A França é um país de imigração e, das artes às ciências, desde sempre são os imigrantes que a engrandecem. Mas está hoje mais à direita, desde que Nicolas Sarkozy introduziu na campanha de 2012 o debate sobre a identidade nacional francesa, com o objectivo de cativar a extrema-direita. Ora, essas teses entranharam-se também no centro-direita. Depois, os atentados terroristas islâmicos que se sucederam no país tornaram o discurso da extrema-direita mais aceitável. A França tem hoje mais receptividade a figuras como Éric Zemmour, que rompe barreiras, algumas inimagináveis, como quando diz que o Marechal Pétain salvou os judeus franceses ou que os franceses que apoiaram a libertação da Argélia deviam ter sido fuzilados.

Mas há quem ache tudo isto mera operação de marketing para Zemmour vender ainda mais livros. Mesmo sendo apenas uma estratégia de comunicação, tão extraordinária como irresponsável, deixará marcas profundas não só em França.

Artigo sem acordo ortográfico

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