Escaparate
Em 2009, durante a campanha das autárquicas, lancei a proposta de instalação de uma Faculdade de Medicina nos pavilhões do Parque D. Carlos I, em Caldas da Rainha. Para isso, seria oportuno firmar um protocolo com uma Universidade já existente (nomeadamente, Coimbra, Lisboa ou Porto) para que – sem excelsas burocracias, discussões político-partidárias insalubres, ou achaques insossos por parte da Ordem dos Médicos – fosse, no local indicado, instalada uma extensão daquele organismo.
Como é visível, não temos nenhuma Faculdade de Medicina nos citados pavilhões, o que há, ainda coberto com um véu de incertezas, é uma possibilidade de instauração de um hotel de cinco estrelas.
Pois bem, julgo que seria muito mais vantajoso (para este e demais concelhos vizinhos) a presença de um polo educacional naqueles moldes, que poderia aumentar consideravelmente “a produção de médicos no país”, tornando mais apelativa a profissão, menos endeusada (ter notas altas para entrar no curso não representa nenhuma prova de inteligência superior), além de valorizar de um modo muito expressivo toda a região.
Um hotel de cinco estrelas é “um empreendimento charmoso”, porém, Caldas da Rainha não possui massa crítica suficiente para tal investimento. Não vejo o turista economicamente abastado trocar Lisboa, ou Porto, por este concelho. Não há atrações culturais impactantes, o comércio tradicional continua a viver tempos de amargura, a indústria não é alvo de investimentos satisfatórios, etc.. Os caldenses não têm do que se orgulhar.
A Faculdade de Medicina nos pavilhões do Parque D. Carlos I teria impulsionado a recuperação do Hospital Termal, com o consequente desenvolvimento económico, colocando o concelho num caminho de sucesso financeiro e prosperidade humana. Finalizando-se, ainda, o encerramento da discussão de onde poderia ser instalado o novo complexo hospitalar do Oeste, pois seria muito claro o nosso potencial para albergar tal empreendimento.
Não gosto de falar de culpas, porém, aponto o dedo a dois setores:
1) Os partidos políticos locais estão mais preocupados com festarolas, luzes de Natal, e demais “atrações turísticas”, pois esse tipo de realidades, agradando aos desatentos, dá-lhes a esperança de votos nas urnas;
2) A classe médica portuguesa, bem amparada pela sua Ordem, sempre dominou os sucessivos Governos do país, impedindo o surgimento de novas Faculdades de Medicina (ou de aumento de vagas nas já existentes). Apesar dos muito eloquentes argumentos usados por estes profissionais para tal impedimento (designadamente os custos com a formação e a qualidade da mesma), bem se sabe que os reais motivos são triviais e pequenos: O receio de perda de rendimentos derivada do aumento da concorrência.
Albert Einstein (1879-1955) está completamente certo quando diz: “O mundo é um lugar perigoso para se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer”.
Más decisões, tomadas por “meia dúzia de iluminados”, são uma espécie de tragédia que afeta o coletivo. Sempre foi assim, e assim continuará a ser, pois a política alimenta-se do inexpressivo, do vazio, do sem sabor (porém bombástico, para causar impacto e atrair holofotes).
Caldas da Rainha merece muito mais do que aquilo que se vê. É ábsono o que se faz há décadas com os pavilhões do Parque D. Carlos I. O que irá acontecer-lhes se o tal hotel de cinco estrelas não se concretizar? Aliás, por quanto tempo aquelas pedras resistirão ao abandono? Estamos a foliar com a sorte. Hipócrates (460 a. C.-370 a. C.), Apolo, Esculápio, Hígia e Panacea que nos protejam!
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