Q

Previsão do tempo

13° C
  • Monday 15° C
  • Tuesday 19° C
  • Wednesday 15° C
13° C
  • Monday 15° C
  • Tuesday 19° C
  • Wednesday 15° C
14° C
  • Monday 15° C
  • Tuesday 19° C
  • Wednesday 15° C
Contos de Bárbara

No dia em que a terra tremeu

EXCLUSIVO

ASSINE JÁ
Lisboa, 1 de novembro de 1755. A terra está a tremer. Ondas gigantes entraram pela cidade dentro e arrasaram prédios, casas, ruas, quintais e ceifaram vidas de velhos, novos e crianças. Tudo cheira a destruição.

Contos de Bárbara

Lisboa, 1 de novembro de 1755. A terra está a tremer. Ondas gigantes entraram pela cidade dentro e arrasaram prédios, casas, ruas, quintais e ceifaram vidas de velhos, novos e crianças. Tudo cheira a destruição.

Uma criança pequena e franzina chama pelos pais entre os escombros. Pessoas correm e gritam e fogem sem saber para onde. O fim do mundo chegou. Pelo menos o fim de Lisboa, tal como a conhecemos.

Uma mãe grita e desfalece a chamar pela filha perdida entre os escombros. Vai caminhando apoiada ao marido, que a ampara enquanto o seu chamamento é o eco da voz fraca da mulher.

Os corpos amontoam-se. Contam-se os vivos e tratam-se os feridos.

A menina assustada corre entre a multidão e encontra uma mão esquecida da mulher que, finalmente, encontrou a filha sem vida porque uma árvore lha levou.

Os pais da menina estão perto. Os olhos parados. O rosto sem cor.

A criança nunca tinha visto a morte. Sente medo e agarra a mão esquecida da mulher que está ao seu lado, de pé, e diz-lhe:

– Já não tenho pais!

Uma onda de calor acorda a mulher de olhar perdido, que lhe responde, baixinho:

– Acabo de perder uma filha e ganhar outra.

O marido compreende o gesto e as palavras.

Se do caos nasce a luz, dos escombros pode nascer uma flor de esperança.

Afastam-se os três. Já não é hora de chorar os mortos. É hora de cuidar da flor.

(0)
Comentários
.

0 Comentários

Deixe um comentário

Últimas

Artigos Relacionados

Em Defesa do Voto Digital Seguro

Praticamente desde 1976 que a participação eleitoral em Portugal tem vindo sustentadamente a decair, com raríssimas exceções pontuais. As razões para esta tendência são de variada ordem, desde o “desafeto democrático” ao alheamento profundo sobre questões políticas.

Síndrome de Jerusalém

Em 1917, o antropólogo Alfred Louis Kroeber escreveu o famoso artigo intitulado “O Superorgânico”, que rompeu de vez pretensas relações entre cultura e quaisquer características genéticas dos indivíduos. Segundo Kroeber, é pela cultura que nos distanciamos do mundo animal. Enquanto os animais são dominados pelos instintos, nós somos influenciados pela aprendizagem, pela cultura. Um cão que nunca tenha convivido com outros cães irá sempre ladrar, abanar a cauda e alçar a perna. Já uma criança nascida na Antártida, mas trazida para Portugal e educada por portugueses será portuguesa.

francisco martins da silva 1