O Pão por Deus é uma tradição portuguesa muito conhecida. As crianças saem à rua no dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos e juntam-se em pequenos grupos para pedir o “Pão por Deus”, de porta em porta.
O Halloween, uma tradição anglo-saxónica, comemorada em 31 de outubro, está a ganhar força em Portugal há alguns anos. Depois da tradição ter passado para este lado do oceano, um pouco por todo o país comemora-se a noite mais assustadora do ano.
Apesar do Halloween ganhar cada vez mais adeptos, o nosso “Pão-por-Deus” continua a ser assinalado. Para quem acha que esta tradição tem tendência a terminar, ela ainda acontece em várias localidades da região.
Por exemplo, centenas de meninos nas Caldas da Rainha continuam a pedir Pão por Deus. As zonas da cidade mais calmas, com vivendas como o Avenal e as freguesias rurais, são normalmente as mais escolhidas pelos pais das crianças, porque consideram que são menos as situações de perigo, nomeadamente porque têm menos trânsito.
Coto mantém tradição
O JORNAL DAS CALDAS acompanhou algumas crianças que saíram na manhã de 1 de novembro na freguesia do Coto.
Um grupo de sete crianças da Escola Básica do Coto juntou-se para com os seus sacos pedir “Pão por Deus” pelas ruas daquela freguesia. “Criámos um grupo no WhatsApp da sala do 1º e 2º ano da escola do Coto e organizámos este ano a vinda ao Pão por Deus”, explicou Cátia Vasco, mãe de um dos meninos da turma.
Para esta encarregada de educação, é importante “manter a tradição viva e também é uma forma das crianças se divertirem e de conviverem com os amigos”.
Junto à Associação Recreativa Cultural do Coto pararam três viaturas com pais e seis meninos de dez e onze anos que frequentam o 5º ano da Escola D. João II e que escolheram o Coto para o Pão por Deus. Em declarações ao JORNAL DAS CALDAS, Diogo Silva disse que vive na cidade das Caldas, mas que decidiram juntar-se no Coto porque “há menos trânsito e as casas são todas praticamente vivendas, o que se torna mais fácil bater à porta”.
O aluno de dez anos acha importante comemorar a tradição portuguesa porque o Halloween está a sobrepor-se ao Pão por Deus, já que “cada vez mais se fazem festas relacionadas com a noite das bruxas”.
Carina Tavares, que acompanhou o filho, considera que o que deve permanecer é o Pão por Deus, que é uma tradição nossa muito antiga. “Quando era criança já ia de porta em porta pedir o Pão por Deus e acho que os meus filhos devem também fazer com os amigos para manter a tradição”.
“Podem assinalar o Halloween, mas o Pão por Deus não pode ser esquecido. É importante as pessoas prepararem-se para receber as crianças no dia 1 de novembro, porque se não abrirem a porta a afluência para o ano será menos”, apontou. “Viemos para a freguesia do Coto porque é mais seguro e também porque há mais adesão por parte dos residentes. Na cidade muitos já não abrem a porta”, salientou.
Armando Custódio vive na Quinta da Cuteleira, na cidade, e foi com os seus dois filhos de 5 e 7 anos para o Coto porque é onde vive a avó materna. “Acho importante ensinar a nossa tradição. Nas escolas está a incentivar-se mais o Halloween porque não se fazem festas de Pão por Deus e a vertente comercial também é explorada, o que acaba por ser apelativo para os mais novos vestirem-se de figuras assustadoras”, referiu.
Adiantou ainda que os seus filhos “estavam com saudades do Pão por Deus, uma vez que em 2020 foi desaconselhado pela Direção Geral de Saúde devido à pandemia”.
“Quisemos interagir com a população da freguesia”
Também a roulotte “À Lá Bacalhau” estacionada na freguesia do Coto aderiu ao Pão por Deus. O espaço, que tem sido um grande sucesso na venda de pão caseiro feito em forno de lenha, decidiu manter a tradição e ofereceu às crianças guloseimas e uma batata doce assada. Segundo Marco Russo, responsável pela roulotte, “quisemos interagir com a população da freguesia e optámos por fazer uns saquinhos com doces para os mais pequenos e como manda a verdadeira tradição assámos batatas doces no forno de lenha e oferecemos às crianças e pessoas que vieram à roulotte nesse dia”, contou. Antigamente as crianças andavam de porta em porta a pedir “Pão por Deus” aos vizinhos e em vez de guloseimas recebiam maçãs, castanhas, nozes, batatas doces que eram colocados na saca de pano do pão.
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