O Centro Hospitalar do Oeste (CHO) assinalou a 11 de outubro o Dia Mundial da Saúde Mental, com uma conferência sobre “A Saúde Mental dos Profissionais de Saúde em tempos Covid-19”, organizada pelo Centro de Responsabilidade Integrado (CRI) de Psiquiatria e Saúde Mental, que decorreu nas instalações da unidade das Caldas da Rainha.
Além da melhoria ao acesso a uma consulta de saúde mental aos utentes, o CHO tem ainda um conjunto de ferramentas de atenção ao bem-estar dos colaboradores da instituição.
Segundo a presidente do conselho de administração do CHO, Elsa Baião, o centro hospitalar tem bons motivos para comemorar porque “tem havido uma evolução extraordinária ao nível da saúde mental nos últimos anos, com mais recursos e investimentos para esta área”.
“A lista de espera nas Caldas para uma consulta nesta área, depois do doente ser referenciado pelo médico de família, é inferior a três meses”, contou.
Elsa Baião referiu que se pretende também “melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, identificar os que estão em risco e prevenir esse risco”.
A responsável reforçou ainda a necessidade de dar visibilidade e debater o tema da saúde mental, uma vez que continua a ser estigmatizado pela sociedade.
Patrícia Frade, diretora do CRI de Psiquiatria a e Saúde Mental do CHO, realçou a importância de “estarmos atentos à saúde mental dos profissionais de saúde, porque se não estiverem bem certamente que os cuidados não vão ser de qualidade e haverá um maior risco de erro”.
Foi criada em 2019 (antes da pandemia) a comissão de humanização do CHO, onde, segundo Alexandra Seabra, psicóloga e coordenadora da comissão, “tínhamos um conjunto de projetos virados para a saúde mental dos profissionais no sentido de humanizar e já na altura os trabalhadores de saúde apresentavam indicadores de alguns maus tratos da saúde mental e a Covid-19 veio trazer-nos outros desafios”. O objetivo é “retomar os projetos, articular e também olhar para o futuro com novas medidas e atividades com o objetivo de contribuir para o bem-estar dos profissionais da instituição”, adiantou.
“Exaustão emocional”
A médica de medicina interna, Joana Louro que foi coordenadora do Internamento Covid, relatou as emoções, conquistas e dificuldades que a sua equipa atravessou no combate à pandemia de Covid-19 e esclareceu que provocou uma “exaustão emocional” aos profissionais de saúde, facto que se tem refletido na saúde mental dos mesmos.
“Tivemos sempre a saúde mental connosco e o segredo do elevado nível de desempenho foi a definição dos nossos objetivos, uma comunicação frequente, atempada e rigorosa, onde todos os dias tínhamos que resolver problemas de primeira ordem”, relatou.
E quando acabou o internamento Covid-19, “aí sentimos que nos estávamos a desmoronar”, salientou a médica, acrescentando que aconteceu no hospital das Caldas aquilo que é um “fenómeno transversal pelo país e pelo mundo, que é as pessoas com maior capacidade de trabalho serem descartadas”. “Havia pessoas no internamento Covid-19 sem qualquer papel de coordenação que foram verdadeiros líderes dentro da equipa que agora não foram reaproveitadas”, contou, lamentando que “profissionais com um conhecimento e competência voltem a uma estrutura que está velha, desgastada e desmotivada e que tem muita dificuldade a adaptar-se a outras formas de trabalhar”.
Joana Louro disse que agora é tentar “arrumar gavetas” considerando que “se os profissionais de saúde vão ficar bem ou não”, depende da “capacidade de resiliência e encaixe mental de cada um”. No entanto, afirmou que há muito trabalho pela frente, nomeadamente na patologia crónica, que “ficou esquecida durante este tempo onde houve um grande acréscimo de enfartes e acidentes vasculares cerebrais (AVC)”.
“Muitas pessoas com depressão”
Por videoconferência e perante uma plateia de profissionais de saúde, o psiquiatra Daniel Sampaio relatou a sua luta pela própria vida. Infetado pelo vírus SARS-CoV-2 aos 74 anos, esteve internado durante 50 dias e precisou de ser entubado e ventilado e esteve quinze dias em coma induzido.
“Esta doença tem grande repercussão na saúde mental. Como psiquiatra, vejo que continuam os sintomas ansiosos e vamos ter muitas pessoas com depressão por várias razões provocadas pela pandemia”, referiu.
Daniel Sampaio disse que são necessários mais técnicos, sobretudo a nível da psicologia e terapia ocupacional. “Precisamos de dotar o SNS de recursos que possam fazer face a este período pós-pandémico, que vai ser particularmente difícil para as questões de saúde mental”, apontou.
Ex-diretor do serviço de psiquiatria no Hospital de Santa Maria, esteve na coordenação do projeto de psiquiatria do CHO e revelou que este é particularmente importante para si e que tem assistido ao seu desenvolvimento. “O serviço, que começou com consultas feitas pelos médicos do serviço de psiquiatria do Hospital de Santa Maria, foi ao longo dos anos se desenvolvendo”, indicou.
O psiquatra disse esperar que “em breve possa existir um serviço de psiquiatria com internamento e hospital de dia, como é desejo dos profissionais e, sobretudo, das populações desta zona, porque o acesso a Lisboa, apesar de não ser longe, por vezes não é fácil para as famílias oestinas”.
Em declarações à imprensa, Elsa Baião revelou aguardar que o serviço de internamento de psiquiatria, no Hospital de Peniche, possa estar concretizado dentro de um ano, com quinze camas, e a perspetiva de depois alargar para mais dez camas.
Patrícia Frade considerou “urgente” que se façam obras no Hospital de Peniche para conseguirem dar resposta localmente aos doentes. No entanto, apontou que com o internamento “serão necessários mais recursos humanos, nomeadamente psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e assistentes operacionais”.
Atualmente a equipa de saúde mental do CHO é constituída por oito psiquiatras, quatro psicólogos e cinco enfermeiros.
0 Comentários