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Costa Motta (Sobrinho) e as Caldas da Rainha

Rui Calisto

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António Augusto da Costa Motta, Sobrinho (1877-1956) foi um dos mais prolíficos escultores portugueses. Amigo pessoal de Manuel de Brito Camacho (1862-1934), foi, no ano de 1906, por este apresentado a Manuel Augusto Godinho Leal (?-?), proprietário da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Desse encontro surge o convite para que o escultor assumisse a direção artística da citada empresa.

Costa Motta, recém-chegado de Paris, ao aceitar a empreitada, inicia, ali, um importante trabalho de renovação técnica, onde estava incluída a educação estética da população local; uma aprimorada correlação entre a criação cultural e o modo de produção industrial; e o aperfeiçoamento da formação, especialmente a artística, do modesto operariado, sem que se perdesse o sinal distintivo da faiança caldense, porém, com um aprimoramento de estilo nos fundamentos da flora e da fauna, da aplicação de esmaltes, da procura de diversos efeitos metaliformes, da busca de inovadoras faces texturadas, com revolucionárias matizações cromáticas e seus empastamentos.

Com o seu tecnicismo escultórico apurado, Costa Motta consegue transportar para a peça cerâmica o seu bom gosto na assimilação da expressão humana, por exemplo, no sorriso de um petiz, ou na fisionomia carregada de um ancião. Deu-se, então, a fusão entre a escultura e a cerâmica, destacadamente percetível, nomeadamente, nos diversos bustos produzidos, naquela época, na empresa.

A confirmação do seu sucesso, nas Faianças das Caldas, veio com a Medalha de 1a Classe no 7o Salão da Sociedade Nacional de Belas-Artes (7a Exposição de pintura, escultura, arquitetura, desenho, aguarela, etc.), na categoria “Arte Aplicada”, realizada de 19 de abril a finais de maio de 1909 na Escola Superior de Belas-Artes, na cidade de Lisboa. Costa Motta nesse certâmen concorreu com as seguintes peças (cujos números de exposição podem ver-se entre parêntesis): Par de Jarras, imitação de ferro fundido (nos 326, 327 e 328); Par de Jarras, barro a duas cores (nos 329 e 330); Jarra, barro a duas cores (331); Ânfora (332); Jarra (333); Palmatória (duas peças, nos 334 e 335); Pastiche (336); Caneca (337); Jarra (338); Pote (339) e Busto de Preto (340).

Esse renomado escultor inovou também no modo de patentear a produção das Faianças das Caldas da Rainha, ao organizar inúmeras exposições nas cidades de Lisboa e Porto, dando-lhe o enfoque inédito de obra de arte, e não de simples utensílio.

A renovação da cerâmica caldense baseou-se, principalmente, no facto das peças passarem a ter menos influência do estilo de Bernard Palissy (1510-1589), surgindo daí outro apuro e estilização de forma, inteiramente adaptadas ao género Arte Nova.

No ano de 1913, a pedido de Júlio Dantas (1876-1962), modela e executa o busto de Fialho de Almeida (1857-1911) para a Biblioteca Nacional. Estava aberta a porta para o seu regresso à Capital, o que veio a ocorrer no ano seguinte, dando, assim, por concluída a sua participação na direção artística da empresa caldense.

Costa Motta, que nascera na freguesia de São Bartolomeu, em Coimbra, no dia 6 de fevereiro de 1877, fez o Curso Geral de Desenho da Escola de Belas-Artes de Lisboa. Entre 1904 e 1906 foi pensionista do legado do visconde de Valmor em Paris, onde trabalhou com Jean-Antoine Injalbert (1845-1933). Durante toda a sua vida foi um dedicado e fecundo escultor, deixando uma herança escultórica rica e sobrelevada, disseminada por várias localidades, especialmente Lisboa, Bussaco, Seia, Chaves, Reguengos de Monsaraz, Timor e São Paulo.

Morreu na sua residência, na rua Heliodoro Salgado, em Lisboa, era o dia 14 de maio de 1956.

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