As imagens da agressão foram gravadas pelo telemóvel de uma testemunha que se apercebeu da situação, ocorrida a 13 de junho do ano passado, em Alcobaça.
O vídeo foi partilhado nas redes sociais e mostra a altura em que Fernando Rodrigues, de 60 anos, dá bofetadas e está com um cinto a bater no pai, de 91 anos, que se encontrava sentado ao volante de um carro.
O arguido alegou que tinha ido em perseguição do progenitor com medo que ele pudesse causar algum acidente de carro e que acabou por descontrolar-se.
No tribunal de Alcobaça, mostrou-se arrependido pela forma como agiu. Admitiu que o seu ato de agressão ao pai “foi desumano e deplorável”. Disse ter sido surpreendido com o aparecimento do pai em São Martinho do Porto, onde tem um apartamento, depois de ter conduzido cerca de 60 quilómetros desde a Gouxaria, no concelho de Alcanena, onde residia sozinho, apesar de ter uma filha a cem metros que todos os dias lhe preparava as refeições e prestava assistência.
O idoso pegou no carro na véspera e saiu de casa sem dar satisfações à filha e só houve notícias dele em São Martinho, o que causou preocupação.
Ainda assim, Fernando Rodrigues relatou que acolheu o pai e deu-lhe jantar e no dia a seguir, uma vez que o idoso se queixava que não tinha com ele os medicamentos que tomava, pediu à companheira para ir até à Gouxaria buscar.
Enquanto aguardavam a sua chegada foram a um café em São Martinho e foi a partir daí que o caso se desenrolou.
O arguido contou que o pai saiu do café e que fingiu ter deixado as chaves do carro no interior. Fernando Rodrigues voltou ao estabelecimento mas apercebeu-se depois que o pai estava dentro do carro, com “os vidros fechados, as portas trancadas e o motor a funcionar”, acabando por sair do local.
Quer Fernando Rodrigues, quer os irmãos que testemunharam em tribunal, sublinharam que o idoso “era um perigo a conduzir”, razão pela qual o arguido disse ter ido em sua perseguição no seu carro.
Quando finalmente o idoso encostou o carro, na rotunda de uma zona comercial da cidade de Alcobaça, junto ao Pingo Doce e à Decathlon, pouco utilizada por clientes, foi consumada a agressão, gravada por uma testemunha com recurso a um telemóvel.
“Saí do carro e dei-lhe umas bofetadas, tirei o cinto dele e bati-lhe com a ponta na parte de cima das pernas”, contou o homem, afirmando que “não queria magoar o meu pai”, mas que “estava completamente descontrolado”.
“Estava fora de mim. Tenho uma vergonha tremenda”, declarou. “Não tenho palavras para descrever o ato que fiz”, manifestou, adiantando que no dia a seguir “pedi desculpas ao meu pai”.
O idoso buzinou várias vezes enquanto foi continuamente agredido, até ser chamada a PSP de Alcobaça e receber os primeiros socorros.
“Em consequência dessas condutas do arguido, sofreu a vítima lesões na face e no tórax, designadamente, escoriações e equimoses, as quais determinaram um período de dez dias de doença, dois dos quais com incapacidade para o trabalho geral”, referiu o Ministério Público.
Fernando Rodrigues respondeu pelo crime de ofensa à integridade física qualificada e foi condenado a um ano e oito meses de prisão, pena suspensa na sua execução.
O crime de condução perigosa, de que estava acusado pelo Ministério Público, foi alterado. Por ter infringido o Código da Estrada, ao ter ultrapassado num risco contínuo e não ter parado num semáforo vermelho quando perseguiu o pai de carro, pagou voluntariamente duas coimas de 120 euros por contraordenações muito graves, levando a uma sanção acessória de cinco meses de inibição de condução.
A vítima está agora a viver num lar de idosos.
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