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António Salvador, administrador da Medioeste

“Se não houver um jornal ou rádio local, os políticos não têm como comunicar com a população”

Marlene Sousa

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António Salvador, arquiteto, ex-autarca e administrador da empresa comunicação social Medioeste, foi o convidado do programa “Especial Autárquicas 2021”, da Rádio Mais Oeste (94.2 FM), que decorreu no passado dia 9. Tratou-se de uma de muitas entrevistas de preparação para as autárquicas. Esta emissão marca a estreia do novo estúdio da Rádio Mais Oeste, que está agora em instalações junto à redação do Jornal das Caldas, na Rua Leonel Sotto Mayor (junto ao CCC).
Entrevista ao administrador do Grupo Medioeste, António Salvador

Com o aproximar das eleições autárquicas marcadas para 26 de setembro, avizinha-se um verão mais quente com as campanhas eleitorais. Para o arquiteto, “vão ser umas autárquicas que vão decorrer de uma forma muito atípica e também nós estamo-nos a adaptar a essa realidade de campanhas que muito poucos políticos estarão preparados para o fazer muito diferente daquilo que é habitual”.

Antes de comentar a dinâmica das próximas eleições autárquicas na região Oeste, António Salvador falou da sua experiência autárquica.

Foi vereador na Câmara da Nazaré durante dois mandatos (2005/2009 e 2009/2013), com os pelouros de ordenamento do território, planeamento e urbanismo, desenvolvimento económico e turismo.

Representou a Câmara Municipal junto de vários organismos do poder central e coordenou diversos processos de planeamento, municipal e regional.

António Salvador recordou que fez diretamente o percurso para número dois de uma lista candidata à Câmara Municipal da Nazaré, que “provavelmente teria a ver com a competência técnica e notoriedade social que fui adquirindo na Nazaré quer em termos familiares quer em termos pessoais”. “Quem me convidou sabia que estava a fazer um convite a alguém que seria capaz de ajudar a governar os destinos numa Câmara Municipal e fui isso que tentei fazer”, contou.

Lembrou que apesar de nunca ter estado anteriormente na política, disse que sim a um grupo de independentes que o convidaram tendo “em conta que tinha confiança no seu número um”, apontando que “é fundamental ter um grau de confiança muito grande com as pessoas que vamos trabalhar e infelizmente isso é cada vez mais raro acontecer”.

“A verdade é que nós em 2005 nos candidatámos na altura como um grupo de cidadãos independentes à Câmara Municipal e concorremos a todas as freguesias e tivemos 24% da votação a nível do concelho, mais 3% que o PS, que é quem governa normalmente a Câmara da Nazaré. “Não ganhámos as eleições provavelmente porque houve alguma difamação provocada por outra força política menor”, adiantou.

António Salvador já tinha, desde 1999, cinco anos de funções na Câmara Municipal de Alcobaça como arquiteto, portanto “conhecia muito bem os meandros do funcionamento administrativo das Câmaras Municipais, neste caso de três autarquias aqui da região, e por outro lado também tinha muito contato com os políticos diretamente com quem atuava e se havia algum à vontade nessa relação naturalmente também aprendi muito com eles para o bem e para o mal”, referiu.

Foi também diretor de campanha, já como número dois do PSD às eleições autárquicas do Município da Nazaré.

Em 2013, já contra o sistema com um movimento independente que formou, foi candidato à Câmara da Nazaré, porque em 2012 surgiu um processo em que fez a “rutura com o partido e poder instalado no município”. “Surgiu numa reunião do executivo camarário de qual eu não tinha conhecimento, um concurso para privatizar as águas e fiquei sozinho a votar contra todos os outros vereadores e fui o único político, para além de alguns membros da assembleia municipal, que teve coragem de assumir a minha posição contra esse processo”, explicou. A verdade, segundo o arquiteto, é que “o movimento que se gerou pela tomada de posição pública que eu fiz acabou por boicotar por completo esse sistema e felizmente hoje a água da Nazaré é explorada pela entidade municipal”.

Questionado sobre as principais dificuldades das candidaturas independentes face a não estarem inseridas na máquina partidária, António Salvador disse que “os partidos não veem muito bem quem pensa por si e quem tem as suas ideias próprias”.

“Os movimentos independentes surgem porque há pessoas que têm ideias próprias”

Segundo este responsável, os movimentos independentes surgem porque “há pessoas que têm ideias próprias e não se querem sujeitar à disciplina dos partidos, mas também porque há por vezes um sentido de oportunidade de achar que tem condições para fazer diferente e melhor”.

“A máquina de um partido de maior dimensão naturalmente está muito ajustada às realidades eleitorais e toda a máquina se põe em movimento”, apontou, acrescentando que “soube o que era isso quando tive o aparelho todo do meu lado e também soube o que era isso quando estava sozinho a puxar pelo instrumento certo”.

“Uma máquina organizada dá muito jeito ao contrário de uma que tenha que ser puxada por uma ou três pessoas. No entanto, os resultados também aparecem”, sustentou.

António Salvador não vê de forma negativa que os partidos tenham uma certa disciplina “porque o líder tem que mandar para haver ordem”.

Quanto à candidatura independente de Vítor Marques a presidente da Câmara das Caldas, que deixou muitos partidos surpreendidos, nomeadamente o PSD, uma vez que ele foi eleito presidente da União de Freguesias Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório por esse partido, o arquiteto disse que “são coisas que acontecem e talvez outros partidos ficaram mais surpreendidos do que o próprio PSD”. “Faz parte das regras do jogo, ou seja, quem está dentro dos partidos está a exercer o poder ou está na oposição. Têm que contar com todas as variáveis porque a direção de campanha eleitoral numa autarquia é prever todas as situações improváveis e conseguir fazer delas uma vantagem”, referiu.

“A quantidade de exigências do Estado é desproporcionada aos apoios”

O Grupo Medioeste detém a Rádio Mais Oeste (94.2FM) e conta com os títulos regionais JORNAL DAS CALDAS (online e papel), Região da Nazaré (online e papel) e Oeste (online).

Numa segunda parte da entrevista, o administrador da Medioeste foi confrontado com o spot que as rádios passam que diz que oEstado exige às estações emissoras radiofónicas uma carga burocrática maior do que a qualquer gigante empresarial cotado na bolsa de valores mobiliários. “É verdade! O Estado em vez de apoiar as rádios locais, asfixia-as com exigências, taxas e taxinhas! Acho que as pessoas estão muito enganadas sobre a forma como as rádios e jornais locais e regionais funcionam”, salientou, revelando que “a única forma de sobrevivência que têm é sobretudo a publicidade que os órgãos e as empresas e os agentes económicos possam fazer”.

Garantiu que nunca houve “nenhum apoio específico do Estado relativamente às rádios ou jornais”. “A única coisa que sempre teve, mesmo assim reduziu de 90 para 40 por cento, é o apoio ao envio dos jornais pelo correio como incentivo à leitura, que se chamava taxa paga. As rádios nunca tiveram nada de similar”, contou.

Segundo o arquiteto, o Grupo Medioeste nunca recorreu a qualquer apoio porque “entendíamos que a quantidade de exigências que o Estado nos fazia era desproporcionada relativamente ao apoio que nos dava”.

Por outro lado, António Salvador recordou que o Estado “exige tudo dos jornais, mas ainda mais das rádios”.

“Eu tenho a certeza porque é fácil qualquer cidadão hoje em dia consultar que a Anacom (Autoridade Nacional de Comunicações) não precisa para nada das receitas das rádios locais a nível de taxas”, fez notar.

“Uma rádio paga duas taxas de supervisão, uma à Entidade Reguladora da Comunicação Social e depois ainda paga outra taxa pela utilização de uma frequência cujo montante de centenas de euros, em média, não tem qualquer expressão no orçamento da própria Anacom”, explicou.

“Quem é o culpado disto?”, questionou o administrador do Grupo Medioeste, salientando que “são os governantes e a Assembleia da República”. “Nenhum deputado, nem mesmo daqui da nossa região, tem esta noção”, referiu.

Contou que “a Anacom está com um leilão de 5G, que faz com que o país seja o penúltimo da lista da União Europeia a ter 5G comercial e já vai em cerca de 300 milhões de euros no valor que vai receber em leilão pela venda de uma licença que deveria ser o serviço público a entregar aos operadores todos e não depois fazer com que um fique com o leilão e depois passem a alugar aos outros o direito de utilizar essa mesma frequência”.

Para António Salvador, “é impressionante como uma entidade que tem esses milhões todos de receitas e que tem por detrás o Estado, não me venham dizer que é um regulador totalmente independente, porque nisso não acredito”.

“Sem meios de comunicação não há democracia”

O arquiteto indicou ainda que “as autarquias não podem apoiar diretamente os órgãos de comunicação dos quais depende para efeitos de cobertura dos eventos autárquicos”.

“Sem meios de comunicação locais não há democracia e eles próprios deixam de ter palco onde podem apresentar e debater as suas ideias porque é aí que prestam contas à população”, afirmou.

“Eu gostava de ver o dia em que o senhor presidente de uma Câmara Municipal não tenha um jornal local para lhe fazer uma entrevista”, vincou, acrescentando que “só damos valor às coisas quando as perdemos”. “Se não tiverem um jornal local ou regional, se não tiverem uma rádio local ou regional, eles não têm como comunicar com a população”, sustentou.

António Salvador diz que as “redes sociais e os sites dos municípios não substituem os jornais e rádios locais e a pandemia veio provar isso”.

No terreno, os autarcas “que foram quem mais fez para ajudar localmente na pandemia de Covid-19, também contaram com a ajuda da imprensa local, que relatou com rigor as necessidades e ajudas às pessoas, instituições, associações e unidades de saúde”.

O arquiteto defende a garantia dos postos de trabalho dos jornalistas e que continuem a ser “ocupados por profissionais qualificados e não por qualquer um que escreve nas redes sociais aquilo que lhe apetece e depois não é responsável por nada”. “E isso é um mal que se propaga na sociedade”, afirmou.

Critica a “desinformação” nas redes sociais, onde, alega, é possível “mentir” sem que os destinatários saibam qual a origem da informação.

Diz que não está “a dizer para as pessoas deixarem de poder escrever aquilo que querem nas redes sociais. O problema é a responsabilidade perante o que escrevem”. “Muitas vezes desconhece-se quem edita e divulga determinada informação, muitas vezes falsa”, declarou.

“Nós também quando temos um colunista que publica no jornal colocamos que o conteúdo é da exclusiva responsabilidade de quem o escreveu, porque é uma pessoa que não está obrigada a um conjunto de regras deontológicas, como é o caso dos jornalistas com carteira profissional”, apontou.

O administrador do grupo Medioeste também destacou a proximidade como valor no jornalismo local. “A nossa preocupação é divulgar os grandes temas, mas sobretudo estar atentos às notícias da própria população desta vasta região, o que a grande imprensa nacional não faz”, relatou.

No programa foi realçado que mesmo numa altura de crise devido à pandemia o Grupo Medioeste avançou com o investimento nas novas instalações da Rádio Mais Oeste, o que “é um importante passo para o crescimento da comunicação social desta região”.

“Temos novos estúdios aqui no centro da cidade, perto das pessoas”, destacou António Salvador.

Licenciado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, António Salvador é natural da Nazaré. É técnico superior – arquiteto urbanista, com nomeação definitiva no quadro da Câmara Municipal das Caldas da Rainha (em licença sem vencimento). É ainda administrador de empresas de investimentos e administração de imóveis, gestão imobiliária e turismo.

Tem uma atividade associativa e pública bastante ativa. É presidente da Assembleia Geral da Associação Comercial, Industrial e Serviços da Nazaré, da Assembleia Geral da Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste, da Assembleia Geral da CulturCaldas/CCC – Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha, e faz parte da direção da “Centro Portugal Film Commission”.

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