Do meu pai, poeta de muitos Jogos Florais, a que concorria por todo o país com quadras e sonetos, guardo com orgulho e respeito, na casa das Caldas, o prémio de eleição: a bonita placa de prata da Topázio – com uma pervinca em alto relevo – gravada com o seu primeiro prémio na modalidade Quadra Popular na Praia da Rocha em 1955.
Para capa do “Acaso” servi-me de uma carta do Luiz Pacheco para o meu pai, enviada do Limoeiro em 1968, onde estava preso por “mau comportamento”.
Nesse texto o “nosso” Pacheco agradecia o envio de maçãs e cavacas e corrigia a métrica e o estilo de um soneto, que o meu pai juntou à carta que acompanhou os víveres.
Um texto delicioso com a verve “pachecal” de sempre, apesar das, cito, “caras sinistras” que o rodeavam na prisão.
Já no Lar do Príncipe Real, o Luiz Pacheco conseguiu descobrir o meu/nosso livro e escreveu ao editor que lhe enviou cinco exemplares, a pedido.
A carta resposta, muito simpática, recordava o meu pai e considerava-nos poetas, o que ainda hoje me espanta vindo de quem veio.
Em resumo, o romance histórico ficou ancorado no cais de Alcântara, o guião do filme é a sinopse da sinopse, sem título…sem nada…as memórias são curtas. Sai poema
Contos brancos
Brancos porque escritos na noite que vai passando…
Como actor que em cena esquece o texto, as
palavras escondem-se dentro do papel em jogo
que parece perdido.
Dissimuladas entre a pontuação, atravessam-se.
Deixam para trás quem as persegue.
Esquecem quem as dita.
São palavras brancas sobre papel branco.
Nada.
Ghost-writer
Sou escritor fantasma de mim próprio, contratado a prazo certo.
Escrevo a frustração de não passar a limpo a minha inépcia.
Não quero ser a prova provada da mediocridade
dos nossos tempos: nos livros, nos jornais, no
éter…em tudo se comunica demais.
Além da espuma dos dias, não fica grande coisa
desses fantasmas que não pensam mas escrevem.
0 Comentários