Fernando Rodrigues, de 60 anos, disse ter sido surpreendido com o aparecimento do pai em São Martinho do Porto, onde tem um apartamento, depois de ter conduzido cerca de 60 quilómetros desde a Gouxaria, no concelho de Alcanena, onde residia sozinho, apesar de ter uma filha a cem metros que todos os dias lhe preparava as refeições e prestava assistência.
O idoso pegou no carro na véspera e saiu de casa sem dar satisfações à filha e só houve notícias dele em São Martinho, o que causou preocupação.
Ainda assim, Fernando Rodrigues relatou que acolheu o pai e deu-lhe jantar e no dia a seguir, uma vez que o idoso se queixava que não tinha com ele os medicamentos que tomava, pediu à companheira para ir até à Gouxaria buscar.
Enquanto aguardavam a sua chegada foram a um café em São Martinho e foi a partir daí que o caso se desenrolou.
O arguido contou que o pai saiu do café e que fingiu ter deixado as chaves do carro no interior. Fernando Rodrigues voltou ao estabelecimento mas apercebeu-se depois que o pai estava dentro do carro, com “os vidros fechados, as portas trancadas e o motor a funcionar”, acabando por sair do local.
Quer Fernando Rodrigues, quer os outros dois irmãos que testemunharam em tribunal, sublinharam que o idoso “era um perigo a conduzir”, razão pela qual o filho disse ter ido em sua perseguição no seu carro.
De acordo com a acusação, o arguido terá efetuado uma “condução perigosa” e cometido “uma contraordenação muito grave”, por alegadamente ter passado um semáforo vermelho, mas Fernando Rodrigues rejeitou ter cometido alguma infração ao Código da Estrada quando tentava parar o pai, na estrada entre São Martinho do Porto e Alcobaça.
Uma testemunha, que se apercebeu de uma “condução estranha”, acabou por gravar com o telemóvel parte do percurso, mas mais importante foi o momento captado quando finalmente o idoso encostou o carro, na rotunda de uma zona comercial da cidade de Alcobaça, junto ao Pingo Doce e à Decathlon, pouco utilizada por clientes.
É o vídeo que acabou por ser partilhado nas redes sociais e que mostram a altura em que Fernando Rodrigues está com um cinto a bater no progenitor, que estava sentado ao volante do carro que conduzia.
“Saí do carro e dei-lhe umas bofetadas, tirei o cinto dele e bati-lhe com ele, na parte de cima das pernas”, contou o homem, afirmando que “não queria magoar o pai”, mas que “estava completamente descontrolado”.
O vídeo permite perceber a raiva e a violência com que o idoso é agredido, sem ter oportunidade de se defender ou de abandonar o local.
O idoso buzinou várias vezes enquanto foi continuamente agredido, até ser chamada a PSP de Alcobaça e depois receber os primeiros socorros.
“Em consequência dessas condutas do arguido, sofreu a vítima lesões na face e no tórax, designadamente, escoriações e equimoses, as quais determinaram um período de dez dias de doença, dois dos quais com incapacidade para o trabalho geral”, refere o Ministério Público.
O arguido, que responde pelo crime de ofensa à integridade física qualificada, confessou as agressões, mas negou ter sido o autor de pancadas no peito, zona abdominal e braço esquerdo, como consta da acusação.
De qualquer forma, mostrou-se arrependido pela maneira como o procurou travar, como afirmou várias vezes em tribunal. “Não tenho palavras para descrever o ato que fiz”, manifestou, adiantando que no dia a seguir “pedi desculpas ao meu pai”.
Os dois irmãos do arguido afirmaram em tribunal que pai e filho tinham um bom relacionamento, apesar de o idoso “ser intransigente e não gostar de ser chamado à atenção”.
O homem encontra-se em liberdade, sujeito às medidas de coação de proibição de contactar a vítima e de frequentar ou permanecer na área de residência da mesma.
O julgamento prossegue no dia 24 de junho, altura em que a juíza do tribunal de Alcobaça vai visualizar o vídeo que registou a agressão e ouvir o depoimento do idoso, já gravado.
O idoso, agora com 92 anos, encontra-se internado num lar de idosos e não estará presente na sessão, em que deverão ter também lugar as alegações finais.
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