É grande a extensão de árvores cortada no pinhal e foi isso mesmo que alertou a população, que foi surpreendida com o abate. Os moradores nas redondezas estão chocados.
“As árvores foram para o chão. Aqui nidificavam gaios e corvos, e as aves estão a sobrevoar à procura dos ninhos que desapareceram. Os esquilos andam à procura de comida nos quintais”, relatou Anabela Barosa, que manifestou que o pinhal “é utilizado para lazer, correr ou andar de bicicleta, e ficámos sem uma mancha verde, um pulmão”.
Madalena Rebelo comentou que “este abate é uma razia. Podiam ser cortadas as árvores doentes e velhas e as restantes ficarem intactas, e não é isso que está a acontecer. Dá-me vontade de chorar”.
Para Pedro Leitão, aquele pinhal “é um local de repouso e extremamente bonito, é muito triste vê-lo ser destruído com pouco critério”. Segundo apontou, “algumas destas árvores têm um estatuto especial de proteção, como sobreiros, e embora não tenham sido cortados, ficaram extremamente danificados com o corte dos pinheiros”.
Rodolfo Morais foi outro dos populares que compareceu no local na passada segunda-feira de manhã para “expressar o meu descontentamento”. “Houve um desbaste enorme. Podiam cortar uma árvore e deixar duas ou cortar duas e deixar uma, mas nem isso tiveram cuidado. Foi mesmo para arrasar”, declarou.
Hospital justifica corte com ameaças de coimas
A administração do CHO explicou ao JORNAL DAS CALDAS que o pinhal “apresentava patologias de diversa natureza, tendo sido inclusivamente objeto de queixa por parte de um morador vizinho [o JORNAL DAS CALDAS apurou tratar-se uma situação mais próxima do Bairro de São Cristóvão e não na área agora cortada]”.
Em concreto, tinha “uma densidade muito elevada, com os pinheiros em competição, muito altos e finos, com árvores a secar e a morrer e já com árvores marcadas pela presença de nemátodo do pinheiro [doença da murchidão], que obrigava ao corte das árvores afetadas e de outras que se viessem a revelar afetadas”.
Por outro lado, o pinhal “não possuía a Faixa de Gestão de Combustíveis, sendo que as copas das árvores não distavam entre si os dez metros de separação regulamentarmente estabelecido para o pinheiro bravo”.
“Por estas razões o pinhal encontrava-se sinalizado para coimas pela GNR, que não foram concretizadas por atenção às ações do CHO no sentido de resolver a situação, embora mais demorada por força de toda a turbulência resultante da pandemia”, informou a administração hospitalar.
Para além disso, acrescentou, “o pinhal já havia ultrapassado o seu termo de explorabilidade, pelo que haveria que proceder-se também ao abate das árvores”.
Segundo o CHO, foram cortados pinheiros bravos e toda a gestão desta ação “foi articulada e acompanhada com a Câmara Municipal de Caldas da Rainha, através do seu Gabinete Técnico Florestal, suprindo dificuldades técnicas do CHO nesta matéria”.
Confrontada com a contestação popular, a administração garantiu que “o abate das árvores decorreu de forma não só regulamentar, como articulada com as entidades competentes e o processo foi público e absolutamente transparente [segundo o JORNAL DAS CALDAS teve conhecimento, foi publicado na imprensa um edital de concurso público para a realização do serviço]”.
“Terá havido algum desconhecimento dos factos concretos e que levou a que alguns populares fizessem um juízo não correspondente à salvaguarda pelo CHO deste pinhal”, afirmou a administração, assegurando que será feita a reflorestação do Pinhal de Santo Isidoro, “uma vez terminado o processo de corte atual”.
Câmara pede intervenção do ICNF
O assunto foi levado na passada segunda-feira à reunião de Câmara pelo vereador do PS, Luís Patacho, tendo o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, pedido para ser contactado o Instituto de Conservação de Natureza e Florestas (ICNF) para ajudar a dissipar dúvidas se houve alguma irregularidade na intervenção.
Apesar de achar que foi feito dentro da legalidade, Luís Patacho considerou que o abate “foi excessivo”, declarando que agora “há que pressionar o CHO para reflorestar de imediato”.
Por outro lado, espera que a ação não seja repetida caso tenha de haver uma intervenção mais próxima da Escola de Artes e Design das Caldas da Rainha.
Vítor Dinis, da Comissão de Utentes do CHO, que contactou o Gabinete Técnico Florestal da Câmara, manifestou que “embora a ação respeite a legalidade, o corte devia ser gradual, de forma espaçada”.
“O impacto visual era outro e a segurança mantinha-se”, sustentou.
0 Comentários