Viver em harmonia e paz é respeitar o pensamento do outro, não o achincalhando com elucubrações mentirosas, destiladas em venenos. Quem age deste modo não merece estar numa roda de amigos, em saudável camaradagem.
Admitir que toda a pessoa é única é um exercício que deve ser feito constantemente. Compreender que cada um pode possuir uma religião, uma nacionalidade, e uma ideologia política diferente da nossa, é um passo enorme em direção à não-violência.
Sem homofobia, sem racismo, sem machismo/feminismo exacerbados, espontaneamente, alteramos o pensamento, encaminhando-o para uma dimensão onde a tolerância nos conduzirá a caminhos de maior reflexão, regiões cerebrais que nos farão compreender, por exemplo, que a corrupção é o grande problema da Humanidade, e que, acabar com esse mal absoluto levar-nos-á a suprimir a fome que assola diversos países.
Pensar no outro de um modo amplo, estendendo-lhe a mão quando necessitar, pode evitar muitas manifestações irracionais.
A maioria dos seres humanos ainda não consegue compreender o significado de liberdade, de justiça, de harmonia, de fraternidade, de igualdade e todos os discursos distorcidos que pronunciam visam apenas o lucro fácil, a posição política e a soberba social. Nada tenho contra os que assim pensam, mas como deixam de existir pontos de debate, quando a matéria se sobrepõe ao espírito, as conversas diluem-se e, certamente, a amizade se esvanece.
Alphonse de Lamartine (1790-1869), em pequena, porém sábia, reflexão, disse-nos que “O egoísmo e o ódio têm uma só pátria. A fraternidade não a tem”. Não pode ter, pois deve ser ampla e irrestrita, planetária – e, um dia, quem sabe, (multi)universal.
A civilização do amor deve sobrepor-se à do ódio, ponto inicial para a edificação de uma sociedade melhor.
“Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade” (“Fratelli Tutti”. Papa Francisco).
“Todos Irmãos”. Com esta enunciação o Papa evoca São Francisco de Assis (1181 ou 1182-1226), sugerindo que cada um de nós siga o seu caminho, colocando um pouco de sabor a Evangelho na sua vida. Sábias palavras, inspiradas, certamente, pela real unidade do ser, pelo amor ao próximo, e pela compreensão do que está contido na origem da fraternidade.
Francisco poderia estar connosco naquele jantar. Se estivesse, com certeza, pedir-lhe-ia para explanar acerca de “Quem é o meu próximo?”, para reavivar outros valores que estão esquecidos por todos nós. Préstimos de tal importância que podem – com a força anímica que possuem – ajudar na reconstrução do Templo de Salomão que há dentro de cada um, sem sentimentos vagos e sem ideais abstratos.
Essa reedificação, seguindo o mestre de construção Hiram Abiff, influenciará a nossa alma a investir numa conduta virtuosa, fraterna e ecuménica.
0 Comentários