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Histórias do Termalismo

12. Salões Nobres

Jorge Mangorrinha

EXCLUSIVO

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No passado 15 de maio assinalou-se o Dia da Cidade e, simultaneamente, a SIC difundiu o programa “Boa Cama, Boa Mesa”, fazendo alusão às Caldas da Rainha. A dado passo, é dito que D. João V mandou construir o Parque D. Carlos I, quando a verdade é que nas obras de refundação do Hospital Termal apenas se garantiu uma área exterior para futuro passeio dos aquistas.
Jorge Mangorrinha

O rei D. João V morreu em 1750, o Passeio da Copa é de 1799 e o alargamento deste processou-se desde 1890, surgindo então o Parque D. Carlos I. Esse erro histórico, com origem em informações transmitidas à produção do programa ou por troca de elementos por parte desta, deu-nos o mote para este artigo, complementado pelo estriduloso concerto permitido no interior do Salão Nobre do Hospital Termal, difundido pela Internet, na noite anterior.

Então, o que se pretenderá com esta ligação entre dois factos ocorridos proximamente? Em primeiro lugar, importa sintetizar as origens e as características deste Parque nascido para as termas e apropriado pela cidade. Realmente, desde o século XVIII que, na Europa, os espaços exteriores foram projetados seguindo premissas higienistas e, no caso das termas, a prescrição médica ia ao encontro da necessidade de os aquistas fazerem caminhadas como modo complementar da terapia pelas águas. Nas Caldas, o Passeio da Copa foi construído em 1799 e, apenas em 1878, o administrador Francisco Eduardo de Andrade Pimentel fez criar a Rua Andrade, que passou a estabelecer a ligação do Passeio da Copa ao Pinhal e que, em nível superior, se desenvolveu a sul, quase duplicando a capacidade de acolhimento. Na época, já se observavam grandes massas arbóreas no Passeio da Copa, visto desde o Pinheiro da Rainha, no cimo da Mata, bem como terrenos de cultivo agrícola.

No final do século XIX, no reinado de D. Carlos I, lançou-se a ideia de um Parque, integrando e ampliando para mais do triplo a área de recreio existente. Em 1890, fez-se o arranque da vinha e a remoção de construções, tais como tanques, degraus e socalcos de alvenaria. O Parque D. Carlos I foi projetado por Rodrigo Berquó, com uma rede de caminhos sinuosos, de desenho romântico, contrariando a rigidez dos alinhamentos barrocos do Passeio, de que alguns plátanos existentes ainda traduzem a planta de trapézios que, no final do século XX, eu trouxe ao conhecimento público, através da investigação em arquivos nacionais. No Parque, foram previstos o lago, com uma grande ilha central, e o recinto circular dos jogos onde, em nove campos, se pretendia a prática recreativa, desde o ténis ao jogo da bola, do tiro aos passeios de bicicleta, bem como os Pavilhões do Parque. O conceito foi o da realização de um parque arbóreo, para o qual se encomendou ao Choupal de Coimbra e aos viveiros do Buçaco mil eucaliptos glóbulos, mil arbustos de diferentes espécies, 500 acer negundos, 200 castanheiros-da-índia, 1500 espinheiros-do-norte, 300 catalpas e 200 giestas.

Meio século depois, com a inauguração do novo edifício do Museu Provincial de José Malhoa, em 1940, o arquiteto Paulino Montez também projetou o jardim formal envolvente, a pérgola e o roseiral. Mas foi a partir de 1948 que, com o Anteprojeto de Remodelação do Parque, do arquiteto paisagista Francisco Caldeira Cabral, se avança para uma remodelação profunda do conceito inicial deste Parque. O mesmo autor seria de novo chamado, em 1982, para apresentar uma nova proposta de reformulação e, em 2002, o engenheiro João Caldeira Cabral assumiu a consultoria técnica da Administração do Centro Hospitalar, para os assuntos do Parque e da Mata, procedendo-se à regeneração e manutenção destas áreas verdes.

Presentemente, cabe à União de Freguesias de Nossa Senhora do Pópulo, Coto e São Gregório a gestão e a manutenção, por delegação de competências da Câmara Municipal.

Esta é uma área arbórea e faunística fundamental para a cidade e para o termalismo, cujas características a tornam num equilibrador ambiental e numa zona distinta de boas-vindas, ao mesmo nível do salão nobre do Hospital Termal, no que diz respeito ao edifício-mãe da cidade. Ambos os espaços são joias patrimoniais, pelo que não devem estar sujeitos a agressões ambientais, designadamente sonoras.

Em geral, deterioração, descaracterização, abandono e mesmo destruição do património são ocasionados por consciencialização deficiente. Para a salvaguarda do património cultural e natural é necessário que a gestão esteja de acordo com o valor dos bens, e quando estes são de exceção, pois bem, não são aceitáveis usos absurdos e atentatórios do património e de tantas gerações de caldenses que os mantiveram.

A história e a cultura são o maior património. Preservá-lo é resgatar a memória. Recuperá-lo é enobrecê-lo ainda mais. Perpetuar valores é permitir que as novas gerações não vivam sob as trevas do anonimato. Educar o gosto é elevar o nível cultural da comunidade, de acordo com um regime político supostamente democrático e progressista.

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