Em 5 de Outubro de 2017, chegaram trinta desconhecidos armados que atacaram três postos de polícia no distrito de Mocímboa da Praia e mataram cinco pessoas. Desde então, foram assassinados nesta região cerca de três mil moçambicanos e muita gente teve de abandonar as suas casas, gerando uma onda crescente de setecentos mil deslocados, para fugir a um pesadelo que dura há mais de três anos. A recente reportagem de Nuno Amaral, ao serviço da RDP, reproduz uma miríade de testemunhos lancinantes de quem viu decapitar pais, mães e irmãos e incendiar as suas casas, ficando na mais absoluta miséria e desespero.
O observatório que avalia a violência armada em todo o mundo (Armed Conflict Location & Event Data Project) considera que este conflito está entre os dez piores de 2021 e estima que os ataques em Cabo Delgado continuarão e até poderão intensificar-se durante este ano.
Assif Osman, notável empresário da cidade portuária de Pemba e figura eminente da comunidade islâmica de Cabo Delgado, defende que Moçambique precisa de muita ajuda internacional, mas não para intervir militarmente. Defende que, apesar da crescente internacionalização do conflito, quem tem de o resolver militarmente são os moçambicanos. A grande ajuda que a comunidade internacional pode dar é ao progresso de Moçambique, pois povo que viva bem não se engaja militarmente. E no Norte de Moçambique vive-se mal, sendo por isso terreno fértil para os insurgentes do Al-Shabaab recrutarem jovens moçambicanos. Para Assif Osman é claro que a origem da horrível tragédia de Cabo Delgado é a pobreza, que é tanto mais inaceitável por se tratar da região de Moçambique mais rica em recursos naturais (rubis, grafite, gás natural e petróleo).
O Estado Islâmico tem reivindicado alguns dos ataques. São terroristas sem rosto. Não se conhecem lideranças ou sequer reivindicações, apenas se depreende o mais desvairado fanatismo religioso, o que afasta a possibilidade de negociação. Tarda, pois, a intervenção militar. Durante este mês, Portugal enviará sessenta peritos em operações especiais, para dar formação ao exército moçambicano.
No plano da defesa, o contributo europeu tem sido na formação e não no apoio militar no terreno. O papel da UE resulta de entendimentos com os países em conflito e nunca da imposição de soluções contra a sua soberania. Estas acções de formação já têm decorrido no Sael e na Somália. No caso de Cabo Delgado, acordou-se com as autoridades moçambicanas a formação das forças militares, mas também assistência humana e apoio ao desenvolvimento da região — a chamada abordagem de triplo nexo, em que se enfrentam de forma integrada as questões securitárias, de desenvolvimento e humanas, em entendimento, neste caso, com as autoridades moçambicanas.
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