As ruínas romanas de Eburobrittium, a Lagoa de Óbidos, a classificação de monumento nacional, a riqueza do centro histórico, a magnificência do castelo, a grandiosidade da escola de pintura barroca, fundamental em todo o barroco português, são alguns dos imperativos importantes para que esse desejo se torne realidade, porém, até hoje a engrenagem não avançou, pois é acentuado o desinteresse da autarquia em tal promoção.
Óbidos possui vestígios e elementos suficientes que confirmam a sua particularidade e a sua importância nos quesitos história e património, o que significa que, por puro descaso político não se prosseguiu ainda com essa candidatura. Se há culpados, estão em todos os lados, da esquerda à direita, porém, naturalmente, a maior fatia pertence a quem está no poder.
Inevitavelmente, se a vila de Óbidos fosse reconhecida como património da humanidade, a região daria um salto qualitativo importante também na questão financeira, na obtenção de apoio técnico especializado para diversas áreas, sendo também uma alavanca para a economia local e, quem sabe, finalmente, conseguir-se-ia organizar o turismo (que nos últimos vinte anos tem sido insuflado por muita propaganda, porém, sem o mínimo de preocupação com quem vive e trabalha na região).
Deixei, desde tempos imemoriais, de ouvir falar na criação da comissão da candidatura, na elaboração da carta do património e na definição do modelo de gestão de todo o processo. Ou seja: A situação empacou e a oposição adormeceu. Típico de quem quer a política apenas para o seu bel-prazer, e não para, de facto, ajudar o concelho e a sua população.
Se verificarmos a lista estabelecida do património mundial, elaborada pela Unesco, encontramos 890 bens, sendo, a sua maioria (689) de âmbito cultural, o restante está dividido em naturais (176) e mistos (25), a vila de Óbidos enquadra-se perfeitamente em todos eles.
Para que a vila seja uma das grandes candidatas a património da humanidade, é necessário uma preocupação mais cultural, deixando o entretenimento em segundo plano, Sendo fundamental, também, que se dê outra atenção ao centro histórico, com outra (existe alguma?) estratégia de recuperação patrimonial. As antigas promessas (“capacitação cultural das escolas, dinamização do parque tecnológico, novo modelo de turismo, tudo assente no conhecimento, cultura e criatividade”) ficaram pelo caminho, sendo engavetadas como simples promessas de campanha política. Coisa natural, de quatro em quatro anos e, infelizmente, ditas por políticos de todos os quadrantes.
Recordo-me, inclusive, de uma universidade portuguesa, “interessadíssima” em preparar a candidatura do centro histórico de Óbidos. Assunto também atirado para trás das costas. Deveria ser mais uma promessa de campanha “para ajudar a eleição de algum amigalhaço político”.
O modo como em Portugal se tratam os assuntos culturais, especialmente aqueles que podem alavancar as economias locais, mostram-nos que algo vai mal nas escolhas eleitorais da população.
Segundo Michel Foucault: “A proposição está para a linguagem como a representação está para o pensamento: a sua forma é a um tempo a mais geral e mais elementar, pois que, se a decompusermos, já não encontramos o discurso…”, e de arengo em arengo, promessa em promessa, as mediocridades avançam, e os territórios perdem, neste caso específico, quem perde é uma das vilas mais importantes da Europa. Paz à sua alma!
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