O isolamento decorrente da pandemia Covid-19 tem vindo a criar mais instabilidade e a potenciar o aumento de violência doméstica, porquanto obriga à presença em comum na habitação, por períodos mais alargados de tempo, da vítima e do agressor, “permitindo ao agressor um aumento do controlo e domínio, impossibilitando que a vítima se desloque ao GAVVD ou às forças de segurança, e impedindo outro qualquer contacto com as referidas entidades/serviços ou com familiares, amigos e vizinhos”.
No decorrer do contexto pandémico, o GAVVD tem verificado um aumento da instabilidade emocional e uma “maior possibilidade de se desenvolver um quadro traumático, fruto de uma maior exposição ao nível de violência, agravando-se a condição emocional/psicológica em que as vítimas se encontram quando vêm solicitar apoio”.
Assim sendo, tem maior importância o papel do GAVVD e de outras entidades, nomeadamente a “saúde, forças de segurança, estabelecimentos de ensino, assim como dos familiares, amigos, vizinhos, entre outros, denunciando as situações com vista a minorar/ultrapassar a problemática da violência doméstica”.
Segundo as responsáveis pelo GAVVD, as “mulheres estão ainda sujeitas a muitos preconceitos, não por terem menos capacidade e habilitações, mas porque a pressão da sociedade é ainda muito decisiva, continuando a sofrer vários tipos de discriminação, exemplo disso é o mercado de trabalho, onde as mulheres, mesmo mais qualificadas, continuam a estar em menor número nos lugares de liderança, o que faz com que, em média, ganhem menos do que os homens, mesmo quando exercem as mesmas funções”.
Outro preconceito, destacado por esta entidade, consiste no facto de ainda “estar muito enraizada a ideia de que compete às mulheres a realização das tarefas domésticas e tratar dos filhos, fazendo com que as mulheres trabalhem mais horas do que os homens, desenvolvendo a sua atividade profissional acumulada com o trabalho doméstico. Por esta razão é-lhes exigido um esforço acrescentado e um desempenho exemplar”.
“Continuamos a assistir a um certo determinismo relativamente à orientação vocacional na escola. Mais tarde, as instituições de ensino superior alimentam esse desequilíbrio e o meio empresarial efetiva os erros entretanto cometidos, criando barreiras de acesso à igualdade de oportunidades entre homens e mulheres”, referiu o GAVVD, que considera muito importante atuar neste domínio porque “quanto mais tarde agirmos, mais difícil será alterar o sistema de valores e, consequentemente, as atitudes”.
“Deve-se continuar a debater publicamente estes temas, incluindo a sociedade civil, classe empresarial, meio associativo e educativo”, manifestou.
Videoconferência
Para sensibilizar a comunidade para este flagelo e em simultâneo assinalar o Dia Internacional da Mulher, decorreu no dia 8 de março uma videoconferência intitulada “Conversa no feminino e no masculino sobre a Igualdade”. A iniciativa foi organizada pelo GAVVD e foi transmitida em direto a partir do Auditório Municipal das Caldas da Rainha, através da página de Facebook do município das Caldas, onde ainda pode ser visto e já tem cerca de duas mil visualizações.
A vereadora responsável pelo pelouro da ação social, Maria da Conceição, que foi a moderadora da iniciativa, destacou a videoconferência como forma de abordar “comportamentos, estereótipos de género, e qual o caminho a seguir se queremos uma sociedade mais justa”. Segundo a autarca, “continuam a ser as mulheres as principais vítimas de violência doméstica e é a mulher que depois de agredida que tem que sair de casa e não o agressor”.
Engrácia Leandro, professora catedrática e investigadora fez uma intervenção relembrando as lutas sociais, políticas e económicas das mulheres.
Segundo esta responsável, fez-se um caminho extraordinário, mas ainda estamos muito longe de atingir a plena igualdade de direitos entre homens e mulheres. “Os dados estatísticos demonstram que continuam a existir discriminações e desigualdades complexas e persistentes no mercado de trabalho”, disse, acrescentando que “as mulheres continuam a ganhar menos que os homens para realizarem trabalho igual”.
Salientou ainda o facto de na Europa cerca de 30% das mulheres que entrou no mercado de trabalho sobretudo na segunda metade do século XX trabalha no setor de serviços, “onde os ordenados são mais baixos”.
A nível da família disse que “as mulheres têm uma sobrecarga mental muito maior que os homens” porque por exemplo no trabalho “estão a pensar nos filhos que e no que vão fazer para o jantar, têm que estar atentas a outras coisas, enquanto os homens focam-se mais no trabalho”.
Sandra Mónica Correia, responsável pela área jurídica do GAVVD, afirmou que hoje “vivemos muito focados na palavra felicidade e para a igualdade de género esta palavra e é essencial”.
A responsável referiu que os números de violência doméstica continuam a ser “assustadores” e que “80% das vítimas são mulheres”. Para Sandra Mónica Correia, continua a ser uma das vertentes de igualdade de género que “merece a nossa atenção e um acompanhamento muito grande”. “Continuam a ser as mulheres que saem de casa muitas vezes sem capacidade económica e muitas vezes resistem ao tratamento abusivo dos homens porque os sentidos de proteção dos filhos as levam a recuar”, apontou. Sublinhou que é um “crime público, por isso deve denunciado por testemunhas ou qualquer pessoa que tenha conhecimento do crime”.
A responsável pela área jurídica do GAVVD falou ainda no trabalho que tem feito junto dos jovens relativamente à violência no namoro, que nem sempre a surpreende pela positiva.
Participaram ainda na videoconferência dois alunos da Escola Rafael Bordalo Pinheiro. Laura Marques recordou os progressos que houve em relação ao papel da mulher, fazendo notar que em janeiro votou nas eleições presidenciais e vai em setembro ingressar na faculdade “graças à luta das mulheres no passado”.
No entanto, lamentou o “longo caminho ainda para acabar com a violência doméstica” que com o “confinamento aumentou cerca de 30% em todos os países europeus”. Laura considera que nunca a sociedade vai atingir a “plena igualdade”, no entanto, quer “acreditar que um dia será possível”.
Já João Silva declarou que o grande problema são os “estereótipos entre mulheres e homens estarem enraizados na nossa cultura”. O jovem considera que para mudar esta mentalidade é preciso mais “informação” e que “a internet e as redes sociais são ótimas para ajudar no combate à desigualdade”.
No início da sessão foi exibido um vídeo, criado no âmbito de assinalar o Dia Internacional da Mulher, que resulta do trabalho conjunto das disciplinas de Cultura Geral, Pintura e Informática da Universidade Sénior Rainha D. Leonor.
0 Comentários