A propósito, no início do século XX, distando sete quilómetros das Caldas da Rainha, a freguesia da Serra do Bouro possuía potencial paisagístico e estava dotada de equipamentos comerciais e de alojamento, segundo as memórias descritivas da época, esperando-se pela conclusão da estrada de ligação à estação ferroviária de Bouro, que se situa a três quilómetros.
Nos anos de 1914 e 1915, três interessados requereram, sucessivamente, licença para exploração das três nascentes da Serra do Bouro, nos limites do lugar denominado de Zambujeiro: José da Costa, João Manuel Camelo e Delfim de Almeida. Duas das nascentes brotavam em terrenos de vinha pertencentes, respetivamente, a José da Costa e a António Pedrosa, no lugar do Bacalhau, nos limites de Zambujeiro. A terceira nascente brotava também em Zambujeiro, em terreno pertencente a José Antunes.
O primeiro requerente pediu a concessão para a exploração das nascentes situadas no seu terreno e outras que com ele confinam. Os segundo e terceiro requerentes pediram a concessão da exploração das três nascentes. As propostas são instruídas com a análise às águas, efetuada em 1914 pelo químico Carlos von Bonhorst, e um projeto de abrigo de planta circular e de cobertura abobadada, de desenho cuidado, pouco comum para este tipo de equipamento. Em conformidade com um parecer da Procuradoria Geral da República, o Conselho Superior de Minas, em 1916, deu o seu parecer favorável à concessão de licença para exploração das nascentes a favor de José da Costa. Os outros interessados levaram recurso deste alvará para o Supremo Administrativo, em 1920, mas nenhum dos três requerentes se encontrava dentro dos termos legais exigidos. Em 1923, ainda são indeferidos requerimentos de João Camelo e Delfim de Almeida, que não tiveram aceitação por parte das autoridades (Diário do Governo n.º 53, II série, de 6 de março de 1923).
Em 1924, o químico francês Charles Lepierre fez a única análise completa destas águas. Na época, os terrenos em redor da Serra do Bouro eram providos de muitas nascentes, que revelavam a existência de grandes massas de água acima dos pontos onde afloravam e que, geologicamente, davam a garantia da permanência das nascentes. Porém, esta concessão seria declarada abandonada, em 1937, por Despacho Ministerial de 20 de março, apesar de continuarem a ser usadas pela população residente, em ingestão, podendo com ela fazer-se clisteres, já que era vendida em garrafões nas farmácias das Caldas da Rainha, designadamente nas de Custódio Maldonado Freitas.
Estas águas eram recomendadas para obstipações intestinais, litíase renal e dermatoses.
No local, ainda até há pouco tempo, viam-se os restos de uma construção: o espaço interior dividia-se em três planos; na parte mais alta, encontrava-se o “poço” (um grande depósito de água onde deveriam convergir as três nascentes); uma escada conduzia a um plano intermédio onde, a ladear todo o espaço, existia uma bancada em pedra; daqui descia-se às bicas de engarrafamento, por uma escada de três degraus.
Mas quase tudo se perdeu, talvez a água ainda por lá corra e motive a atual geração de caldenses a retomar o seu estudo e uma eventual utilização. A ver vamos!
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