E a 13 de Setembro de 2004, eu, como vereador, propus por escrito, registado em Acta das Sessões de Câmara, que, com base no valor patrimonial deste antigo balneário e no parecer da Junta da Freguesia de Santo Onofre, se deveria fazer o seguinte:
– Elaboração de uma análise química sumária e uma análise bacteriológica no valor total de 812,00 euros mais encargos com a deslocação, de acordo com proposta do Instituto Superior Técnico.
– Recuperação da envolvente paisagística do antigo balneário.
– Preservação das banheiras de pedra, com a sua remoção destas do exterior para lugar onde pudessem ser acondicionadas até à sua colocação em exposição como enquadramento à história do edifício.
– Criação de um Centro de Interpretação no próprio edifício onde se expusesse a importante história deste balneário, do ponto de vista da prática termal. O programa seria desenvolvido por especialistas sob coordenação do Gabinete do Vereador do Património Histórico-Cultural. A criação deste Centro de Interpretação deveria ser articulada com o Grupo de Escuteiros, que se encarregariam de dinamizar a componente educativa e lúdica para os visitantes. Com a criação do Centro de Interpretação das Águas Santas procurar-se-ia responder a duas questões estruturais:
– Assumir, frontalmente, a ausência de uma colecção museológica, composta por peças originais, que se perderam;
– Assumir, também, que a sua implantação no local onde existiu uma actividade termal de efeitos curativos evidentes é a sua mais-valia.
Este projecto teria evidentes benefícios:
– Em termos históricos e patrimoniais, porque finalmente se conferirá maior dignidade ao local do antigo balneário;
– Em termos culturais, porque permitirá um reforço da identidade histórica das Caldas da Rainha ligada ao poder curativo das suas águas;
– Para a própria população residente próxima, quanto à valorização da envolvente.
Como se sabe, o mandato autárquico terminou no ano seguinte (Outubro de 2005), a decisão colegial foi enlaçada e, nos mandatos seguintes nada foi feito neste sentido. Vamos, então, sentir o que nos diz história.
A Câmara das Caldas explorou as Águas Santas desde 1853, em terrenos da sua propriedade, junto à Ribeira dos Moinhos. Havendo, inicialmente, um barracão em madeira contendo 8 tinas, a frequência justificaria, porém, no ano seguinte, a eleição de uma Comissão de Angariação de Fundos, destinados estes à construção de um albergue através de subscrição pública. A reunião de preparação desta subscrição realizou-se a 17 de Novembro de 1853, no Clube de Recreio da então vila, seguindo-se a realização de um bazar e de um baile, ambos concorridos.
As obras decorreram durante o ano de 1855. Neste ano, António Macedo, do Governo Civil de Leiria, escrevia: “quando o tempo operar os seus efeitos, levantar-se-á também outro hospital naqueles sítios. Serão dois marcos a abranger uma grande povoação, que os nossos descendentes verão brilhar com o nome de uma formosa cidade”.
Esse sonho não teve concretização. Mais tarde, já em 1895, foi requerida pela Câmara a continuação da exploração “dentro dos limites dos seus orçamentos anuais”, bem como a conservação das nascentes “frequentadas por aquistas nacionais e estrangeiros”, apresentando-se, para tal, um levantamento das instalações com um projecto de ampliação, por forma a criar-se um pequeno hospital para leprosos. A reabertura solene da actividade fez-se em Maio de 1897.
Em 1920, o estabelecimento seria adjudicado à exploração privada que, contudo, não cumpriu com o contrato de arrendamento, o que obrigou à rescisão do mesmo em 1926. Em sessão de Câmara de 30 de Janeiro, o município aceitou a rescisão de harmonia com a pretensão do concessionário, solicitando à Inspecção de Águas a competente autorização para abrir um novo concurso de adjudicação. Nesses seis anos, o estabelecimento recebeu melhoramentos gerais, que lhe permitiram aumentar as suas condições higiénicas. Porém, faltou o alargamento das instalações com a construção de um hotel.
Mantendo-se sob gestão camarária – que, logo em 1926, desafectaria o edifício dos leprosos –, a actividade termal continuou normalmente até aos anos 60. Mas, em 1967, o presidente Botelho Moniz dirigiu-se à Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos (DGMSG), a propósito do estado de abandono do balneário, solicitando apoios do Governo para a sua recuperação. A Direcção-Geral informou que “outras Câmaras Municipais, também concessionárias de nascentes mineromedicinais, estão, precisamente, nesta altura a procurar desenvolver as suas explorações termais com a construção de novos balneários os quais pediram ou vão pedir a comparticipação do Estado, ou então a melhorar as instalações existentes, caso de Vila da Feira, ou ainda a adquirirem concessões como o caso de Amarante”. Propôs a mesma DGMSG que houvesse cedência simples de concessão, mas, caso houvesse interesse em haver melhoramentos, a Direcção não poderia ir além da assistência técnica e a remodelação das captações teria que ser feita segundo um plano aprovado superiormente e elaborado por técnico idóneo.
À entrada da década de 70, com a concessão “sem actividade produtiva”, o presidente Paiva e Sousa reafirmou os propósitos da Câmara em revitalizar o estabelecimento, para o que foi nomeada uma comissão de estudo para realizar, no prazo de seis meses, um plano de pesquisas e captação. A realização deste plano fez-se em 1971 e 1972, após o qual a Câmara abriu concurso público para a exploração do balneário. Mas antes procedeu a uma diligência junto da Comissão Instaladora do Centro Hospitalar das Caldas da Rainha, no sentido de esta tomar a seu cargo a dita exploração. À resposta negativa da Comissão, a Câmara realizou o concurso público que não trouxe efeitos práticos, perdendo-se a possibilidade de revitalização destas águas.
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