A febre, a tosse seca e a falta de ar são sintomas que todos conseguimos “ver” e associar a este novo vírus, no entanto, a depressão, a ansiedade e a angústia são alguns dos sintomas “invisíveis” associados a perturbações da saúde mental que não devemos ignorar. É inegável que o confinamento, o distanciamento físico, a incerteza no futuro e o medo que a pandemia trouxe, teve e tem repercussões na saúde mental de todos pois, obrigados a ficar confinados em casa, fomos também obrigados a reajustar a vida. Muitos jovens viram os seus sonhos e planos adiados, outros perderam os seus empregos, e o isolamento já tão presente na vida dos mais idosos aumentou em consequência de muitos dos serviços dos quais dependiam serem interrompidos. E, além de todos estes, é importante mencionar os que estão na linha da frente, que, sujeitos a longos turnos de trabalho, lidam ao longo dos dias com a pressão, o medo, o cansaço e a solidão por estarem afastados das suas famílias.
Todo este aumento de mortes a que temos vindo a assistir torna essencial abordar o luto, pois se em circunstâncias normais já seria traumático passar pela perda de um ente querido, em tempos de Covid todo este processo é ainda mais avassalador. O isolamento a que a Covid-19 nos obriga faz com que muitos não tenham com quem partilhar a sua dor, algo que é essencial para quem passa por esta situação. Não há missa, não há velório, o caixão vai fechado, não há palavras de despedida, não há abraços, e só resta um nó na garganta por não ter estado presente naqueles que foram os últimos dias de vida dos familiares. Tudo isto cria sentimentos de culpa, angústia e desespero, pelo que é fundamental ter o acompanhamento devido nestas situações.
Com o início da vacinação surgiu um sentimento de esperança, como se esta vacina fosse “uma luz ao fundo do túnel”, no entanto, não existe uma vacina que salve a crise económica em que o país está a mergulhar, pelo que devemos estar conscientes de que a pandemia vai deixar um longo rastro de destruição a diversos níveis, e que para que a economia recupere é necessário que as pessoas também recuperem a nível psicológico. Existem, assim, para o efeito e adaptadas à situação pandémica, várias linhas telefónicas dispostas a prestar auxílio a quem se sente mais perturbado, ansioso, aflito ou assustado nesta fase, pelo que apelo à pesquisa, ao diálogo e à procura de ajuda por quem a necessita pois estamos todos “no mesmo barco”.
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