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Testemunho de caldenses que estão há meses em teletrabalho

Marlene Sousa / Mariana Martinho

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Desde o início de março do ano passado que há milhares de portugueses em teletrabalho. O JORNAL DAS CALDAS falou com quatro caldenses que fazem parte do grupo de pessoas que continuam a trabalhar em casa.
José Ribeiro gosta do teletrabalho mas admite que sente falta da presença humana

O psicólogo caldense José Ribeiro, que trabalha no Serviço de Emprego, está em teletrabalho desde maio do passado ano.

A sua organização assegura os equipamentos. Um dos requisitos para exercer as suas funções em regime de teletrabalho era possuir “acesso adequado à internet, o que tinha na residência”.

Para José Ribeiro há vantagens no teletrabalho, no entanto, a mais importante neste momento é “a diminuição das possibilidades de contágio, resguardando utentes e trabalhador”.

Há outros ganhos igualmente importantes, como o tempo que se poupa em “deslocações”. “Esta situação tem motivado as organizações para reverem os seus processos de negócio”, apontou, acrescentando que “haverá igualmente menos trânsito, tornando o teletrabalho uma forma efetiva de as organizações apostarem na sustentabilidade”.

José Ribeiro, que foi o presidente do Partido Socialista das Caldas, diz que em Portugal ainda existe muito a cultura do “presentismo”, uma forma “completamente atávica de gerir as organizações, achando que quanto mais presente, mais horas estiver a pessoa no seu posto de trabalho, melhor”.

O psicólogo salienta que “não é por estar 12 horas no posto de trabalho ou por enviar e-mails à meia-noite que alguém trabalha ou produz mais”. “Pode ser que o teletrabalho ajude as organizações a perceberem isto claramente e a darem importância a outras dimensões”, apontou.

E quanto às desvantagens, José Ribeiro disse que se prende com a nova metodologia de trabalho, “há muito prevista, mas pouco praticada, pelo menos em Portugal”. “Um hábito novo demora o seu tempo a ser interiorizado, quer pelas organizações quer pelos trabalhadores”, referiu, considerando que “estar em home office exige primeiro saber conciliar a casa, e as suas pessoas, com o trabalho”.

Recorda que no início da quarentena não foi fácil gerir o “ruído, o descanso e a própria internet”. “O espaço físico em casa não está, em regra, preparado para o trabalho, exige alterações de logística e de rotinas”, apontou.

O que sente mais falta do trabalho presencial? O psicólogo respondeu que se verifica a “desumanização das relações”. “As novas tecnologias são fantásticas, mas se há coisa que esta pandemia demonstrou é que nada substitui um abraço, um olhar ou o contacto ao vivo”, salientou. “Empobrecemos, desmaterializamo-nos, passamos a existir como uma espécie de prolongamento de aparelhos e de cabos que depauperam a comunicação”, declarou.

José Ribeiro espera que esta situação tão má possa “contribuir para as organizações reverem alguns procedimentos e possam perceber que é e será sempre o lado humano que faz crescer e dá significado ao trabalho”. Considera que um local de “trabalho saudável, focado nas pessoas, no seu bem-estar e no tratamento digno é o único caminho para o sucesso e para o crescimento”.

No entanto, o psicólogo defende o teletrabalho nesta altura de crise sanitária “quando possível e nas situações que se justificam, não obstante poder ser alargado no futuro, enquadrado numa filosofia que favoreça a conciliação entre a vida familiar, pessoal e profissional”.

Deixou uma última palavra de apreço para os homens e mulheres que “não podendo estar em teletrabalho asseguram que tudo continue a funcionar, a começar pelos profissionais de saúde e ao nosso SNS em geral, às forças de seguranças e da proteção civil, às pessoas que trabalham em fábricas e supermercados, em lares e centros de dia, nas clínicas e nas lojas, aos funcionários municipais”.

“Maior conciliação entre a vida profissional e a vida familiar”

A caldense Ana Gonçalves é técnica superior do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE) em Lisboa. Está em teletrabalho na sua residência nas Caldas há dez meses e a empresa assegura os necessários equipamentos de trabalho e comunicação, bem como o pagamento das respetivas despesas de instalação e comunicação.

Para esta responsável, o facto de passar mais tempo em casa em regime de teletrabalho permitiu-lhe uma maior “conciliação entre a vida profissional e a vida familiar e maior concentração na realização das tarefas e que influenciam positivamente a produtividade”.

Ana Gonçalves diz que tem maior “capacidade de gestão do tempo, permitindo alocar mais horas à realização das tarefas”. Outra vantagem é a “inexistência de custos de deslocação, aumento da qualidade de vida e reaprender a observar tudo o que nos rodeia numa nova perspetiva”.

A maior desvantagem é o “isolamento social e por vezes a dificuldade em “desligar” da vida profissional e vida pessoal e/ou vice-versa”. “A maior dificuldade que sinto é o distanciamento físico com a equipa a que pertenço e chefias, embora existam formas de o diminuir (telefonemas, videochamadas, email, chat, entre outros)”.

Quando voltar ao trabalho presencial vai sentir “um misto de sentimentos”. “Por um lado, a alegria do reencontro presencial com colegas e chefias e o regresso a uma dinâmica profissional com a qual me identifico muito e por outro lado a angústia de saber que irei voltar a um ritmo de vida muito stressante”. “Acordar todos os dias às seis da manhã e chegar a casa por volta das 19h00 ou mais tarde, o passar cerca de três horas por dia na deslocação de casa-trabalho-casa, o distanciamento familiar são realidades que não sinto com o teletrabalho”, conta a funcionária do POISE.

“Sempre que as funções do trabalhador o permitam, para determinados concelhos de Portugal, a opção pelo teletrabalho deveria ser uma prática e um direito que os trabalhadores deveriam poder aceder sempre”, defende Ana Gonçalves.

Segundo esta técnica, em diversos estudos de caso realizados em empresas quer em Portugal, quer noutros países, estão “provados os resultados positivos do teletrabalho, que demonstram por exemplo um aumento significativo da qualidade de vida dos trabalhadores, diminuição do absentismo, aumento do grau de motivação dos trabalhadores e do seu empenho na realização das tarefas e nos resultados de produtividade obtidos”.

Considera que “seria um grande progresso que o regime de teletrabalho ou misto pudesse ser uma escolha, acessível ao trabalhador, sempre que as suas funções o permitissem”.

“O teletrabalho traz maior produtividade às empresas”

Quem também se encontra em regime de teletrabalho desde março de 2020 é o caldense Ricardo Silva, que considera que o facto de passar mais tempo em casa, em modo de trabalho à distância, permitiu criar “novos horários de trabalho e ter maior produtividade na atividade”.

Em casa nas Caldas da Rainha, o administrador de sistemas no iMM – Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, em Lisboa, recorda que trabalhar em casa era “algo que não fazia habitualmente”, tendo que se deslocar diariamente há quase quatro anos para Lisboa.

“Mas com a chegada da pandemia, tudo isso mudou”, sublinhou o caldense, adiantando que no dia 13 de março de 2020 o instituto de investigação científica implementou o trabalho remoto, sobretudo nos setores administrativos, técnicos e informáticos. Caso seja necessário resolver alguma questão física, os colegas mais próximos estão destacados para ir ao instituto.

“Desde esse dia tenho feito tudo remotamente, ou seja, a partir de casa, com o meu material”, frisou Ricardo Silva, que após ter começado o trabalho à distância, nunca mais teve de se preocupar com o tempo que gastava nas deslocações diárias para o trabalho, criando assim novos horários e a produzir mais. “Eu costumava entrar sempre mais cedo antes para entrar no sistema. Em casa, se me atrasar antes ou tiver que sair por alguma questão, depois compenso noutro horário”, sublinhou o caldense, adiantando que nas terças e quintas-feiras tem de estar obrigatoriamente online entre as 09h e as 18h. Os restantes dias, que chama dias de projeto, servem para resolver algumas tarefas que ficaram pendentes.

Ricardo Silva confirma esta vantagem ao explicar que “se eu estou focado a fazer alguma coisa, mesmo que já sejam seis horas, eu vou acabar o que tenho a fazer pois estou em casa.” No entanto, a flexibilidade dos novos horários do teletrabalho pode trazer mudanças significativas e levar, por vezes, à exaustão. “Comecei a deitar-me mais tarde e a não conseguir desligar do trabalho,” conta o administrador de sistema, que mesmo assim prefere continuar em casa a trabalhar, sobretudo “agora, que vem aí um novo membro da família”.

Apesar de estar longe dos seus colegas de trabalho, isolado, sem contacto físico e sem convívio, Ricardo Silva sublinha que prefere continuar em casa, pois descansa mais, encontra-se mais motivado e é bastante mais produtivo, e “além disso consigo acompanhar a minha esposa nesta fase final da gravidez”. Considera ainda que “o teletrabalho traz maior produtividade às empresas”.

O caldense continua a receber tudo como se estivesse a trabalhar no instituto. “Tudo continua igual, só mudou o local de trabalho”, comentou.

Neste momento, está em teletrabalho, mas o instituto já relatou que pretende que os funcionários voltem de forma gradual ao regime presencial.

“O pagamento é igual como se tivesse a trabalhar no escritório”

O caldense Cláudio Santos, que trabalha num call center em Lisboa, também se encontra em regime de teletrabalho, desde o dia 16 de março do ano passado, “com as mesmas condições financeiras como se estivesse a trabalhar presencialmente na empresa, e mais uma ajuda de custos para despesas”. Para estar a trabalhar a partir de casa, a empresa assegurou que o trabalhador tivesse os equipamentos necessários ao trabalho.

Além do equipamento, o caldense também destaca o dinheiro e tempo que poupa com as viagens. “Como trabalho em Lisboa ia e vinha todos os dias, por isso acabo por poupar o dinheiro do passe, o tempo de transporte que podia chegar às quatro horas por dia e acabo por ter mais tempo livre para mim”, referiu, adiantando, contudo, que “nem tudo são vantagens”.

“Sinto falta de estar no escritório, de trabalhar com os colegas e do apoio”, sublinhou.

Para Cláudio Santos, “deveria haver mais pessoas em teletrabalho, caso a empresa assegure o devido equipamento necessário, e que não reduza a remuneração, pois acredito que certas empresas o tentem fazer para poupar custos”.

Neste momento, o caldense continua em teletrabalho, “mas caso tenha de voltar ao trabalho presencial entretanto vai ser um voltar a habituar às rotinas das viagens de ir e vir diário”. Mas, “vai ser bom, pois vou conhecer finalmente os colegas com quem tenho trabalhado.

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