Em tempos de degradação ambiental, mudanças climáticas e ânsia por novos recursos naturais que põem em causa a sustentabilidade do planeta, os países costeiros como Portugal viram-se para o oceano com redobrada avidez. Mas esta perspectiva rapace já não é aceitável. Preventivamente, as Nações Unidas designam a próxima década (2021-2030) a Década da Ciência do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável.
Segundo o ecologista Carl Safina, no livro Song For the Blue Ocean, o oceano estende-se muito além das suas águas, ao ponto de nos envolver interiormente, como podemos verificar ao provar as nossas lágrimas.
Esta ubiquidade salina do oceano é das ideias mais unânimes entre os cientistas portugueses. O oceano, afirmam, espalha-se nos ventos, nas nuvens, no oxigénio, na chuva e na neve. Deste modo, o oceano embebe o espaço emerso e adentra o nosso corpo através do ar que respiramos, da água que bebemos e da comida que ingerimos.
Há muito que é tido como certo que o oceano é a origem da vida. Há cerca de 4,5 milhões de anos, a atmosfera terrestre continha quase só carbono e nitrogénio. Não havia oxigénio nem vida. Das profundezas do oceano surgiram moléculas orgânicas simples que geraram outras moléculas cada vez mais complexas, até serem capazes de carregar DNA. Estas unidades químicas foram as primeiras formas de vida.
Os cientistas portugueses consideram que o oceano não representa apenas o princípio e a continuidade da vida no planeta, mas, por estar em risco, pode, também, significar o nosso fim.
O aquecimento e a subida do nível da água e a sua acidificação, as marés de plástico, crude e esgoto doméstico, a mineração no solo oceânico, a sobrepesca e a consequente redução da biodiversidade marinha estão a tomar proporções catastróficas. Ou seja, a conduta humana tornou-se área de intervenção prioritária, para os cientistas do oceano. A degradação social e ecológica do planeta tornou urgente nova ética de relacionamento entre os humanos, e entre os humanos e o meio envolvente.
O cientista do oceano Gui Menezes, actual secretário regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores, considera que para comunicar e divulgar ciência se deve ir ao encontro das emoções, para melhor entendimento do trabalho dos cientistas. Uma vez que a racionalidade não surtiu efeito, apela-se agora ao sentimento. Talvez nos comova verificar que delapidámos e destruímos quase tudo e que já há pouco para explorar e lucrar… Entretanto, vislumbra-se a possibilidade de também assentar arraiais colonizadores e extractores de recursos naturais em Marte. Lá não há oceano e a distância desvanece a consciência.
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