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Os 125 anos da Jarra Beethoven

Rui Calisto

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Há momentos em que o pensamento foge na direção da melhor cidade do mundo. Fui muito feliz no Rio de Janeiro, e espero voltar a sê-lo. Uma urbe que transpira cultura, que verte de suas artérias uma seiva abundante no que trata ao teatro, ao cinema, às artes plásticas, à dança, à música, etc.. Uma metrópole tão impactante que transforma, integralmente, a nossa alma, e o nosso modo de ver o planeta, com as suas nuances estético-culturais.
Rui Calisto

De entre as centenas de horas que conto, muitas delas foram vividas na Cidade Maravilhosa a observar, a sentir, e a palmilhar diversos caminhos relacionados com a cultura. Posso referir, no correr da pena, inúmeras alegrias que a arte daquela urbe me proporcionou, tanto como elemento da plateia quanto como homem do palco, mas não o farei. Deixarei, apenas, a escrita resvalar para uma determinada tarde, plantada num dia muito distante, do ano de 1983: A primeira vez que vi a Jarra Beethoven, de autoria de Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905).

Confesso que, daquele impacto recebido nunca me restabeleci. Tal a magnitude da obra.

No espaço desta crónica, não irei explanar sobre o artista, muito menos dar contributos alongados sobre a peça em questão. Limitar-me-ei a chorrilhar algumas frases de encantamento, que é o mesmo que dizer: Deixarei a alma falar, no divagar das sensações e das avassaladoras imagens que me vêm à mente.

Quando entrei no proeminente salão do Museu Nacional de Belas-Artes surpreendi-me com o entusiasmo do artista, ali representado num artefacto de quase 3 metros de altura (incluindo o pedestal, este com 1,18cm), preludiado numa folha de partitura, com as notas iniciais do Quartet, nº 4, Opus 14, executadas por quatro instrumentistas, alcandorados numa sinuosidade da peça. Em seguida, os olhos resvalaram para o medalhão com a efígie de Rafael, o autor, indo ao infinito, nos baixios, onde saltam as palavras “Melodia” e “Harmonia”. Tudo alegoricamente envolvido com ramagens, e dissemelhantes estaturas relativas à música.

Admirando-a com minúcia, percebemos a boca decotada e ampla, com perímetros desiguais, gargalo extenso e adelgaçado, abdómen limitado, estreitando em direção à peanha. As configurações simbólicas que a completam apresentam-se em circunlocuções desiguais e díspares, declarando-se, portanto, representativamente rococó. Uma excelente homenagem a Ludwig van Beethoven (1770-1827).

A sua execução data do final do século XIX, e, em entrefolho apropriado, ostenta esta valiosa e reveladora informação: “Caldas da Rainha. Portugal / Fábrica de Faianças. 1895 / Começada em 9 d’agosto. Acabada em 16 de setembro. Raphael Bordallo Pinheiro”, a autenticar a procedência e a autoria.

A Jarra Beethoven, que completa cento e vinte e cinco anos neste 2020, já não é alvo de um estudo circunstanciado desde a publicação da investigação de Marize Malta, doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora da Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no ano de 2010. O que me parece pouco, para uma obra assinada pelo caricaturista, e cerâmico, português, que tanto ‘frisson’ causou em tempos idos.

A peça (que demorou a adquirir o epíteto de obra de arte) ainda não é compreendida pela maioria dos historiadores de arte, sendo olhada de viés, às vezes acusada de mero objeto de decoração, outras vezes indiciada como ser inanimado sem categoria estética.

Seria diferente se fosse assinada por Luca della Robbia (1400-1482), Benvenuto Celini (1500-1571) ou Bernard Palissy (1510-1589)?

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