Segundo Vítor Veríssimo, “a evolução da curva da pandemia é preocupante e, por enquanto, os números vão continuar a aumentar e é preciso travá-los”, contudo, “não deve criar-se um medo que paralise o país porque o simples aumento do número de casos não é indicativo de que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai entrar numa situação de rutura”.
Constantino Caetano diz que “na verdade, estamos a caminho de um terceiro pico no número de novos casos diários, de acordo com o relatório mais recente do departamento de epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.
Será que o SNS já foi exposto a uma prova de stress extremo ou ainda está para acontecer? Vítor Veríssimo, explica que na fase inicial da atividade epidémica da Covid-19 em Portugal pode-se afirmar que “o SNS foi testado”. “Tratava-se de uma infeção recente em todo o mundo, da qual se pouco conhecia e que envolveu medidas extraordinárias para tentar conter o melhor possível este problema”, afirma.
De acordo com o médico de saúde pública, o stress extremo acontece quando um “sistema não se consegue adaptar a uma nova realidade e está prestes a colapsar”. “No nosso caso, e apesar de nem tudo ter sido (nem estar a ser) perfeito, não podemos afirmar que se tenha entrado em rutura ou em colapso”, manifesta. “Obviamente hoje verificamos que existem respostas a certas patologias que foram atrasadas e que o período de verão trouxe uma mortalidade superior ao normal, mas as falhas que são detetadas são depois estudadas a fundo e há uma tentativa de as melhorar”, adianta.
O profissional de saúde das Caldas afirma que estão também já em curso “as estratégias a aplicar no período de outono/inverno, precocemente, e numa tentativa de tornar o SNS mais resiliente e com consideração aos desafios que os períodos de frio e de gripe acarretam todos os anos no nosso país”. Quanto aos hospitais terem capacidade para responder a esta pandemia, Vítor Veríssimo sublinha que nem tudo está dependente dos hospitais.
“Se o serviço (e o sistema) nacional de saúde se conseguir adaptar às constantes necessidades para dar resposta ao número de casos que vão surgindo, reforçando-se os meios para quebrar as cadeias de transmissão e reforçando a possibilidade de tratar a maioria dos infetados no domicílio, há espaço para os hospitais manterem a capacidade de resposta”.
“Todos os elementos do sistema, e em especial destaque as equipas de saúde pública e de medicina geral e familiar, têm de responder como um só para se evitar que a afluência aos hospitais seja tal que esgote a capacidade de receber doentes”, sustenta.
O médico aponta que “as principais medidas para enfrentar a pandemia partem da base comportamental e todos nós estamos constantemente a ouvi-las”. “Sabemos que a etiqueta respiratória e a higiene das mãos são importantes, que o distanciamento físico é chave e que a higiene dos espaços também é fulcral”, acrescenta.
No entanto, salienta que falta “perceber em que medida estamos a falhar para que todos nós, em algum momento, negligenciemos cada um destes pontos – quer seja em momentos de convívio com familiares, quer com amigos”. O profissional de saúde caldense considera que temos de “reforçar a noção de que todos os momentos de descontração são potenciais momentos de risco”.
Usar máscara ao ar livre em locais com grande afluência
Vítor Veríssimo defende a utilização de máscara mesmo ao ar livre, afirmando que é das melhores “barreiras que temos ao nosso dispor para evitar a disseminação de gotículas e, assim, a transmissão de vírus entre indivíduos”. “Em espaços com grande afluência/circulação de pessoas, é prudente que se utilize a máscara, mesmo que ao ar livre. Os grupos devem reunir-se com máscara e mantê-la sempre que possível”, refere.
Quanto aos comportamentos seguros que devemos ter em casa, o médico faz notar que se os convívios “num ambiente ao ar livre não forem possíveis, e se se decidir ficar por ambientes interiores, há alguns fatores em consideração, como preferir espaços bem ventilados, em que a distância de pelo menos dois metros esteja salvaguardada e em que se utilize regularmente a máscara”.
Vítor Veríssimo diz que as “visitas devem ser encurtadas e os momentos de refeição (em que não se utiliza máscara) deverão ser evitados”. Para além disto, “devemos ter sempre em consideração a higienização das superfícies”.
Ao ar livre, o profissional de saúde refere que “podemos reunir com a família e amigos com maior tranquilidade, mas também não é isento de riscos, motivo pelo qual se deverá, mesmo nestas condições, optar pela manutenção do distanciamento físico de dois metros e sempre que possível utilizar máscara”.
Quanto a quem deve tomar a vacina da gripe, o médico de formação especializada em saúde pública, explica que todos os anos “são estudados os grupos de risco que maiores benefícios obterão com a inoculação da vacina”. “Portugal é exemplo disso e anualmente se revistos os critérios daqueles que são os grupos prioritários, bem como a partir de que idades se deve vacinar contra a gripe (geralmente é utilizado o critério dos 60 anos, com especial foco a partir dos 65)”, apontou.
Vítor Veríssimo considera que os jovens têm um papel importante a desempenhar para controlar a pandemia no país. “Há algo de especial na forma como os jovens que estão a trabalhar nesta área procuram constantemente inovador e encontrar novas soluções, especialmente com recurso ao mundo digital. São ágeis e não possuem um olhar “enviesado” sobre como epidemias anteriores foram tratadas”, salienta.
Também Constantino Caetano acha que os novos profissionais estão a desenvolver “conhecimentos e capacidades no país para lidar com surtos e epidemias no futuro”.
Vítor Veríssimo nasceu em Lisboa, mas mudou-se para Caldas da Rainha aos 10 anos. Completou na Escola Secundária Raul Proença (do 7º ao 12º ano de escolaridade) os seus estudos secundários e depois ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa em 2010 e por isso considera-se caldense.
Constantino Pereira Caetano é natural das Caldas, mestre em bioestatística e licenciado em matemática.
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