A professora aposentada, vítima de doença, faz parte da história de centenas de caldenses (ex-alunos).
Palmira Baptista nasceu a 28 de outubro de 1936 e foi professora do 1º ciclo nas Caldas da Rainha, onde lecionou na Escola do Bairro da Ponte durante décadas.
Os grandes professores deixam marcas nas vidas dos seus alunos.
Isabel Tomás Oliveira homenageou a sua antiga professora primária, fazendo-lhe uma dedicatória que partilhamos no JORNAL DAS CALDAS.
Nem sempre é fácil aceitar a nossa condição biológica de ser mortal… Nem sempre é fácil ser resiliente… Não! Nunca é fácil perder aqueles que amamos…
Uma preciosa centelha, um bocadinho do puzzle da minha caminhada, apagou o seu brilho. Murchou uma importante flor do meu canteiro e escureceu o jardim Quero acreditar que foi iluminar um outro lugar, numa outra dimensão. Preciso muito de acreditar que não existe um “fim”… Num tumultuoso batimento cardíaco, busco antídoto para a dor. E…surgem memórias…recordo o momento em que os nossos caminhos se entrelaçaram, sem sabermos que seria para toda uma vida. Nos meus tímidos sete anos de idade, ali estava ela à minha espera! Ela, linda, doce, extrovertida, nos seus 27 anos!
Ensinou-me a ordem dos grafemas, a poesia das palavras…Ensinou-me a escrever a palavra amor!
Ao seu lado, somei aprendizagens e enchi mochilas de saberes; tricotei sonhos e desenhei crochés; organizei ambições e aprendi o valor das coisas mais simples.
Multipliquei experiências e diminui interrogações. Com ela dividi carinho, sorrisos, abraços, segredos…
Foi a minha professora primária! Foi minha madrinha!
Tantas décadas passadas, volto a sentir a emoção do momento em que dei o meu primeiro passo numa sala de aula! Ali estava a minha professora!
Ali estava o seu colo, numa escola em tempos de ditadura.
Uma escola que impunha a régua como metodologia. Mas as suas reguadas punitivas não assustavam. Ela conseguia torná-las mais leves…
Sem que me apercebesse colocou um mundo nas minhas mãos. Ofereceu-me tesouros, apetrechou-me de instinto maternal…
Contribuiu para o meu crescimento ajudando a formar uma melhor e mais completa pessoa. Mostrou-me como aprender a ser mais perspicaz na forma de escolher caminhos. Mostrou-me a importância de manter o foco.
Deu-me lições para saber distinguir o bem do mal, não desperdiçando tempo com falsos juízos de valor! Enriqueceu-me de uma forma única!
Completado o seu ciclo de vida, despedindo-me sem abraços físicos, sem um último olhar, agarro com enorme força as recordações. Narro aos meus filhos tudo o que existe dentro de mim, herdado dela! Perpetuo a sua história de vida, cruzada com a minha…
Neste momento incerto que o mundo atravessa, imponho, a mim mesma, uma reorganização de emoções. Nos meus passos vacilantes até à sua derradeira morada, exijo o meu sorriso de gratidão.
Para ti Luís Paulo…para ti Ana Luísa…um bem-haja, sem fim, porque a minha madrinha Palmira vos deixa na minha vida! E…porque o afeto que nos une, sem necessidade de o demonstrar, me apazigua!
E, porque partiu quem me ensinou o significado das palavras, mascaro-me de professora de português e jogo com o dicionário…
Madrinha significa protetora. Faz todo o sentido!
No entanto, sinto inveja da língua inglesa… Godmother!
Mãe de Deus! Uma palavra que me diz mais! Foi assim o seu papel na minha vida! Não foi escolhida! Foi um presente de Deus! Minha madrinha Palmira! Minha Mãe Deus! A minha homenagem! Descansa em paz! Para sempre no meu coração! Até um dia!
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