Com as consultas presenciais suspensas, no âmbito do plano de contingência no combate à pandemia, uma equipa multidisciplinar lançou um serviço de “primeiros socorros psicológicos para os utentes e de apoio aos profissionais de saúde do ACeS Oeste Norte”.
O objetivo é promover a saúde mental num momento de “angústia e inquietação” bem como “prevenir e evitar o pânico, a agitação, os conflitos e a doença psicológica”.
Cerca de dez profissionais ligados à saúde mental estão a prestar apoio num serviço que procura reforçar o cuidado com a saúde mental dos cidadãos, através de um atendimento que ajuda a gerir “as emoções específicas de uma situação de crise”.
O projeto é coordenado pelo psicólogo clínico e psicoterapeuta Nuno Cotralha, que é também coordenador do Núcleo de Psicologia e do Núcleo de Saúde Mental do ACeS Oeste Norte. “É importante que a população saiba que continua a contar com acompanhamento dos psicológicos e psicoterapêuticos neste período, onde o risco de ser contaminado pela Covid-19 ou de contaminar os próximos fez emergir ainda mais a ansiedade e a angústia”, refere o responsável, que é também vogal do Conselho Clínico e de Saúde do ACeS Oeste Norte.
Para fazer face a este período, o núcleo de Psicologia do ACeS Oeste Norte reorganizou-se em duas equipas multidisciplinares de trabalho. “Uma equipa dá o apoio emocional aos utentes e há também um apoio a todos os profissionais do ACeS Oeste Norte, que é assegurado através da realização semanal do Grupo de Profissionais de Saúde, por meio de videoconferência”, explica Nuno Cotralha.
O psicólogo clínico realça a importância desta estratégia do serviço, reconhecendo que “não é só de adaptação que se trata, pois o que esta nova realidade nos deu foi, sobretudo, a possibilidade de ter de aparecer a criatividade, a verdadeira geradora de mudança”.
“Medo do estranho”
Considerando positivo o trabalho desenvolvido até ao momento, o coordenador diz que há um risco acrescido de “perturbação emocional que também está associado às próprias medidas de segurança, e decorre do isolamento social e distanciamento físico entre as pessoas e ainda do constrangimento do uso do equipamento de proteção”.
Nuno Cotralha revela que as principais angústias dos utentes que estão a ter as consultas são o “medo do estranho, do desconhecido, da exaustão, do isolamento insuportável, da solidão, da perda, da morte da família e do amigo”.
“Há uma preocupação muito grande também com a emergência da fome, da precariedade, dos encargos correntes, dos pagamentos já em falta e do trabalho”, referiu o psicoterapeuta.
“A incerteza face ao futuro e a ausência da esperança” são, segundo este responsável, outras aflições das pessoas.
“Falamos do que importa na vida de todos nós: o amor, a amizade, os sonhos, os sentimentos, os valores, a subjetividade de cada um e uma infinidade de outras coisas”, relatao psicólogo clínico, indicando que o número de consultas à distância está a “aumentar, em linha com as crescentes dificuldades de tudo o que ocorrerá na vida das pessoas, dos casais, das famílias, das organizações, das comunidades, a todos os níveis”.
“Pensamento tem de ser gerador de esperança”
“Se as previsões estiverem certas, então, na segunda metade de 2021”, diz Nuno Cotralha, “várias vacinas de imunização contra a Covid-19 já estarão a ser produzidas em escala”. “Será a resposta de imunização mais rápida alguma vez alcançada contra uma nova doença”, salienta, acrescentando que a “dor, o luto, a separação, o confinamento, manter-se-ão nas nossas vidas”. “Ainda que apesar de sabermos que a seu tempo isto vai ficar bem, isto vai ficar é diferente do que era”, sublinha.
Portanto, para este psicólogo, “prevenir é a palavra de ordem” e, num contexto de pandemia, ainda mais – sobretudo “porque somos humanos e podemos precisar de ajuda para pensar as nossas fragilidades”.
“São as marcas indeléveis deste atual tempo de crise que merecerem a nossa maior atenção”, adianta, referindo que “o nosso pensamento também tem que ser um gerador de esperança e de confiança no futuro”.
Acesso às consultas
Alguns utentes que estão a ser seguidos no âmbito deste plano foram referenciados pelos médicos de família do ACeS Oeste Norte, através de uma ficha interna do serviço específica para o efeito, e de acordo com critérios definidos de “inclusão e exclusão das situações clínicas”.
No caso dos pedidos para a prestação do apoio emocional aos utentes – sejam oriundos das ADC (áreas dedicadas à Covid-19), sejam provenientes de qualquer outro atendimento nos cuidados de saúde primários, todos “os interessados devem solicitar a sua pretensão junto do profissional de saúde, o qual, posteriormente, enviará essa informação para um e-mail específico”.
Já no caso do grupo de profissionais de saúde, qualquer profissional do ACeS Oeste Norte pode nele participar.
A prescrição de medicamentos é feita por parte do médico de família do ACeS Oeste Norte, após avaliação. Poderá, também, fazer a referenciação da situação a um dos serviços de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar do Oeste ou Centro Hospitalar de Leiria –, consoante a proveniência da unidade de saúde do utente.
No apoio emocional aos utentes do ACeS Oeste Norte, a equipa multidisciplinar que foi constituída no âmbito da intervenção em crise da Covid-19, coordenada por Nuno Cotralha, integra três enfermeiras especialistas em saúde mental, Fernanda Viola, Mónica Conde e Teresa Manteigas, e uma assistente social, Conceição Carvalho, do ACeS Oeste Norte.
A equipa integra ainda duas psicólogas clínicas da União de Freguesias de N.ª Sr.ª do Pópulo, Coto e São Gregório, Sara Oliveira e Sílvia Freitas.
Quanto ao Grupo de Profissionais de Saúde do ACeS Oeste Norte, é orientado pela médica de família Ana Gomes, pela médica psiquiatra e grupanalista Paula Carvalho (em regime voluntário), e por Nuno Cotralha.
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