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Recidiva inaceitável

Francisco Martins da Silva

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O jornalista Thierry Cruvellier cobre tribunais de guerra e processos de paz em todo o mundo. Investigou recentemente como a Alemanha tem lidado com o passado genocida.
Francisco Martins da Silva

Para quem como Cruvellier analisa violência e crimes em massa, a referência é o extermínio dos judeus na Europa pelos nazis — em poucos anos, seis milhões de judeus foram assassinados. Mas a Alemanha tem sido até agora o único país que confronta o passado de forma directa. Áustria e Polónia, entre outros países, tardam em seguir este exemplo. Os alemães decidiram criar nova identidade nacional contra o seu passado. Este processo teve início nos anos 60, quando Israel deteve o antigo oficial nazi Adolf Eichmann. O julgamento de Eichmann, um dos responsáveis pela “solução final para o problema judaico”, foi transmitido na Alemanha e em todo Ocidente. A partir daqui, os governos alemães viram-se forçados a agir. Hoje há centenas de memoriais na Alemanha. Organizaram a memória de forma que entrasse no quotidiano. São disso exemplo extraordinário as “stolpersteine”, pedras colocadas no passeio, à entrada dos edifícios onde viveram judeus alemães, com o seu nome e do campo onde pereceram. Mas o aspecto mais simbólico foi a reconstrução da comunidade judaica alemã. Actualmente, a Alemanha tem das maiores taxas de emigrantes judeus do mundo. Talvez a imigração mais intrigante seja a que vem de Israel — cansados do securitarismo e da política externa indigna e prepotente de Israel.

A Alemanha conseguiu promover-se como local seguro para judeus. É incrível, quando pensamos no que aconteceu no Holocausto. Não haverá mais nenhum país cuja identidade seja construída sobre as culpas das suas acções. Todos os alemães estudam o Holocausto. O sistema de ensino usa os campos de concentração nazis para criar consciência e conhecimento do que lá se passou.

Porém, há uma realidade inquietante. Por um lado vemos a Alemanha falar sobre o passado difícil de forma aberta e vemo-los receber refugiados muçulmanos num momento de crise. Mas vemos também a emergência de um partido nacionalista e xenófobo de extrema-direita e ataques a centros de refugiados e a sinagogas e o coro crescente dos que voltam a dizer que os judeus têm demasiado poder ou dinheiro ou que não são alemães.

Paralelamente, na cidade belga de Aalst, reincidiu-se na demonstração de anti-semitismo, escolhendo como figura principal do desfile deste Carnaval a caricatura do velho usurário judeu, barbudo e de nariz adunco, com corpo de insecto, depois de no ano passado terem representado os SS nazis, levando a UNESCO a suspender a classificação de Património Cultural Imaterial da Humanidade atribuída à sua tradição carnavalesca que remonta ao séc. XV. No desfile deste ano, também havia crianças brancas com a cara pintada de negro, a cabriolar ao som de Hakuna matata, e outras com a cara pintada de amarelo, fantasiadas de coronavírus. Em Antuérpia, houve entusiásticas manifestações de solidariedade para com Aalst, contra a decisão da Unesco.

No Reino Unido, Jeremy Corbyn personifica o anti-semitismo que teima em atribuir aos judeus os actos cometidos pelo governo de Israel.

Em França, endossado pela Frente Nacional de Marie Le Pen, o anti-semitismo anda à solta entre os radicais islâmicos e, também, entre os que acham que os judeus são todos Netanyahu.

Por cá, uma maioria de portugueses pensa que os estrangeiros representam mais de um terço da população, quando não chegam a 5%.

Suspendendo a repulsa, com pinças compridas e braços esticados, podemos distinguir entre a crosta fétida do anti-semitismo dos radicais islâmicos, que almejam banir Israel da face da Terra; a purulência do anti-semitismo dos detractores do Estado de Israel; e a dejecção do anti-semitismo histórico europeu, da Inquisição aos progroms do séc. XIX e primeira metade do séc. XX.

Os velhos demónios estão, pois, de regresso à Europa. O vírus nacionalista, em excipiente de ignorância, leva à pneumonia do ódio intolerante. À medida que as democracias amadurecem e se aperfeiçoam, correm o risco crescente de se autodestruírem, pois a vitória dos ignorantes, por serem a maioria, é cada vez mais uma fatalidade. Mas sejamos utópicos e resistentes, nunca desistindo de explicar nas salas de aula que a Humanidade, como a atmosfera, é só uma.

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