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Caldenses descrevem como é viverem fechados em casa para evitar o vírus

Mariana Martinho

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A epidemia de Covid-19 rapidamente se alastrou por todo mundo. Milhares de pessoas foram infetadas, centenas morreram e milhões estão resguardados nos seus domicílios. Nesse sentido, o JORNAL DAS CALDAS continua a recolheu testemunhos de caldenses para saber como é viver “fechados em casa” e em “teletrabalho”.
O cartoonista Bruno Prates

Um dos casos é o cartoonista e ilustrador Bruno Prates, que vive em Caldas da Rainha e que não sai de casa “desde 13 de março”. “Na noite em que o primeiro-ministro, António Costa, anunciou o encerramento das escolas, nós, Academia Desenhos do Bruno, optámos por fechar e encerrar as portas, por tempo indeterminado”, explicou o professor de desenho e responsável pelo espaço, que antes disso já tinha recebido indicações da Delegação de Saúde para elaborar e aplicar um plano de contingência, visto que o espaço é frequentado por crianças.

Face a isso, a academia, que já tinha rotinas de higienização e desinfeção reforçadas decidiu cancelar todas as atividades previstas, passando automaticamente as aulas para o formato digital, através de videoconferência pelo whatsapp. Neste momento, “o ponto de ordem é ficar em casa e protegermo-nos o melhor possível”, por isso, “estou em casa, a dar as aulas de desenho à distância com recursos tecnológicos, e a realizar os desenhos por encomenda. O meu trabalho permite que assim seja e nesse capítulo sinto- me um privilegiado”.

Está acompanhado pela esposa, que também dá aulas de pilates via online, e pelo filho de dois anos, que “não nos dá muito tempo livre”. “Isto, claro está, entre tantas outras tarefas mirabolantes que a vida no campo nos permite”, frisou o ilustrador caldense.

No local onde vive, em São Gregório, vão-se mantendo os ritmos de quem está ligado à agricultura, e o “bom dia e boa tarde típico das pessoas da aldeia”, apesar de haver pouco movimento nas ruas. “Há, inevitavelmente, um clima de medo e dúvida transversal a todos”, sublinhou o cartoonista.

Contudo, o campo permite “estar em casa com a qualidade exigida a um período de quarentena”. “Ar puro, animais, natureza, nascer e por do sol, ou seja, tudo o que a inspiração e alma precisam para sobreviver a tempos incertos”, disse o cartoonista.

Além de respeitar as medidas impostas pelo estado de emergência, Bruno Prates também explica que sofre de bronquite asmática desde que nasceu, por isso, decidiu resguardar-se mais um pouco. “Ao longo da minha vida sempre tive necessidade de me proteger de tudo o que me afetasse a capacidade respiratória, e este é, inequivocamente, o momento mais sensível de sempre. Dou por mim com falta de ar só por pensar que posso ter falta de ar”, confessou o docente, adiantando que quem tem ido às compras é a esposa.

Em casa, Bruno Prates aproveita para cuidar da horta, dos animais, do jardim, brincar com o filho, fazer bricolage, desenhar muito, cozinhar e “aproveitar para ver uns tutoriais de piano para desenferrujar a alma”. Igualmente lê notícias, artigos científicos e fala com amigos e familiares, de forma a partilhar e replicar medidas de sucesso, “em vez de estarmos sempre a aprender com os erros dos outros”.

Na opinião do docente, o “governo tem tentado minimizar as consequências colaterais deste flagelo”. Contudo, “não significa que sejam medidas eficazes a médio prazo se tivermos em linha de conta que o importante é, acima de tudo, minorar o número de mortes e o sofrimento de quem é contaminado”.

Nesse sentido, “cada um de nós também é responsável pela forma como preparou este período de quarentena, uma vez que era previsível que tivesse de acontecer”. Destacou ainda a ação das juntas de freguesia, que têm tido “um papel bastante ativo no terreno e nas redes sociais, o que não nos deixa sentir sozinhos, apesar da quarentena nas nossas casas”.

A par de todos os problemas, Bruno aconselha a “todos sempre que possam, fiquem em casa! Não há outra opção senão esta. Só ficando em casa podemos proteger todos os que estão à nossa volta e todos os que trabalham diariamente para combater este flagelo”. Além disso alertou para a necessidade de se adotarem medidas comportamentais de sociabilidade, “coisa que a escola, desde cedo, nos ajuda a interiorizar e que devemos aplicar sem achar, que alguém é exagerado porque não gosta de beber pelo mesmo copo ou até mesmo dar beijinhos por tudo e por nada”.

“Esta quarentena está a ser muito difícil”

Quem também viu a sua vida ser afetada pelo surto de Covid-19 foi a engenheira alimentar Joana Casimiro. “De momento encontro-me em teletrabalho”, pois “a maioria dos estabelecimentos optou por fechar”. Também enquanto maquilhadora notou “bastante diferença” porque mesmo antes de ter sido decretado o Estado de Emergência a maioria dos eventos já estava a ser desmarcada e consequentemente as maquilhagens também. “Existe uma grande indecisão da parte de quem tem eventos, como casamentos, porque não se sabe até quando irá durar esta situação em que estamos”, explicou a jovem caldense.

Neste momento, “como estou em teletrabalho acabo por estar a maior parte do dia ocupada”, o que faz com que “não note tanto como alguém que não esteja em teletrabalho”. A par disso aproveita dos tempos livres para tentar criar looks de maquilhagem, jogos de tabuleiro em família, conversar com os amigos por videochamada, entre outras atividades, de modo, a evitar ao máximo “saídas desnecessárias”.

Para a jovem, “esta quarentena está a ser muito difícil, pois estarmos afastados da família e dos amigos, e sem certeza de quando voltaremos a estar juntos, e isso está a custar-me bastante”. “Quando vou ao supermercado sinto que as pessoas têm receio, mas mesmo assim existem indivíduos que não cumprem com a distância de segurança”, e por isso, “considero que as medidas impostas pelo governo deviam ter sido tomadas mais cedo, evitando assim o estado em que nos encontramos”.

Apesar do “medo”, Joana Casimiro considera que “quando for possível voltarmos ao nosso dia-a-dia, vamos desfrutar dos momentos mais simples e os quais dávamos como garantidos, como por exemplo, um simples café com os amigos ao fim-de-semana”.

“O medo desde cedo foi transformado em algo positivo”

A situação vivida pela engenheira alimentar é a mesma da artista visual Daniela da Silva, que viu os seus trabalhos serem “cancelados ou postos em stand by, o que irá, sem dúvida, afetar o meu orçamento”.

A viver atualmente numa pequena aldeia próxima de Sagres, no Algarve, a caldense passa o dia-a-dia “rodeada pela natureza, campo e mar”, e a comunidade à sua volta, que é quase toda estrangeira, tem um “sentimento de respeito em relação à situação global e começou de forma voluntária há mais de quinze dias, a ’quarentena’”.

Para a jovem, “o medo foi desde cedo transformado em algo positivo, como um sentimento de mudança, respeito e compaixão”. Nesse sentido, Daniela da Silva tem feito quase sempre a mesma “rotina saudável, de consumo local e de deslocamentos estritamente necessários, admirando como a natureza ao meu redor respira e se regenera através desta infeliz consequência”.

Além de estar a trabalhar em novas criações, a jovem caldense tem aproveitado o tempo para investigar, “ocupando assim a mente”.

A par disso, a artista visual refere que “desde o início do surto, especialmente quando chegou à Europa, que me senti bastante próxima da epidemia, pois vivi mais de sete anos em Veneza e na altura do carnaval ia acompanhado e falando com muitos amigos italianos, que me relatavam na primeira pessoa o que estavam a viver, o que é surreal”.

Em comparação, “Portugal respondeu com medidas de forma consciente e sempre apelou ao bom senso e à responsabilidade social, com medidas que podem ser castradoras de alguns dos nossos direitos fundamentais, por isso se tivessem sido aplicadas prontamente com pouca análise, podiam ajudar em certos aspetos, mas também dificultar outros”.

Nesse sentido, “pensem no outro. Tenham em conta as vossas prioridades e encontrem um equilíbrio com as dos outros igualmente. É através deste sentimento de empatia e respeito mútuo que podemos dignificar todos os profissionais e corajosos que nos mostram, dia após dia, que o mundo não está perdido, mas sim em plena evolução.

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