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Viver fechado em casa para evitar a Covid-19

Mariana Martinho

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A epidemia de Covid-19 rapidamente se alastrou por todo mundo. Milhares de pessoas foram infetadas, centenas morreram e milhões estão resguardados nos seus domicílios. O JORNAL DAS CALDAS recolheu testemunhos de seis pessoas naturais ou com ligações às Caldas da Rainha sobre como é viver “fechados em casa”.
Margarida Belo Costa

Praticamente em todos os países foram proibidos eventos públicos, encerrados os cinemas, teatros, discotecas, bares e escolas, suspensos os jogos de futebol e canceladas viagens, o que acabou por afetar a vida de muitas pessoas. É caso da bailarina, coreógrafa e professora caldense Margarida Belo Costa, que vive atualmente em Lisboa.

“Para mim foi realmente uma grande surpresa, nunca pensei que chegaria aqui a Portugal tão facilmente”, sublinhou a jovem, adiantando que assim que soube do surto começou a tomar medidas preventivas, antecipando o alerta imposto pelo governo, que na sua opinião teve “uma atitude um pouco tarde”. “Penso que as pessoas fecharam um bocadinho os olhos e continuaram a viajar para fora do país, o que na minha opinião foi uma grande irresponsabilidade civil. Isto fez com que o vírus se propagasse chegando a Portugal”, referiu, destacando o “sentimento de ansiedade e de egoísmo social” que surgiu na sociedade em geral.

Serena e confiante de que “tudo se supera”, Margarida Belo Costa viu as aulas serem suspensas na Escola Superior de Dança e nas restantes escolas particulares onde leciona, diversos trabalhos afetados, reuniões importantes adiadas e o Curso de Primavera da Escola de Dança do Conservatório Nacional cancelado. Basicamente “esta paragem adiou quase todos os projetos que tenho em desenvolvimento ainda para este ano”. Apesar disso continua a dar aulas via virtual, em alguns estabelecimentos de ensino.

Igualmente aproveita o tempo para desenvolver criativamente e aprofundar os projetos que tem para este ano, como espetáculos com estreias nacionais e internacionais, onde é responsável pela direção artística, e ainda aproveita para pesquisar novas músicas para as suas aulas, ver filmes e séries, desenhar, experimentar receitas, brincar com os seus gatos, entre outras coisas. Ou seja, “dou-me ao luxo de ter “tempo” para não fazer nada, coisas que normalmente não tenho muito tempo para fazer”.

Além de cumprir todas as medidas impostas pelo governo, Margarida Belo Costa aconselhou que “devemos todos manter a nossa mente e corpo em constante atividade, aproveitar para descansar e repor horas de sono perdidas, respeitar o trabalho de todos os profissionais de saúde e cuidarmos da nossa, interferindo apenas em caso de emergência”. Apelou ainda ao civismo de cada um, sendo “algo essencial para que tudo isto seja ultrapassado da melhor maneira”.

“Portugal pode tornar-se numa nova Itália”

Quem também viu a sua “vida suspensa” pelo surto de Covid-19 foi a estudante caldense Inês Oliveira, que atualmente encontra-se em casa a escrever a tese de mestrado. “Inicialmente achei que a medida de quarentena era um pouco desnecessária, mas rapidamente mudei de ideias, pois Itália já nos deu o exemplo de que não é possível e que devemos ser mais drásticos”, frisou a jovem de 23 anos, que não poupa críticas aos países, incluindo Portugal, onde “muitos ainda pensam que isto é uma brincadeira”. Para realmente modificar a situação, Inês Oliveira considerou que são necessárias medidas “mais concretas e não medidas intermédias”.

Para a jovem são “poucas as medidas impostas pelo nosso governo” e “não estamos a resolver o problema pela raiz”. Ao contrário da Grécia, que na sua opinião fez uma “escolha muito inteligente, onde com menos de 500 contagiados, já tinha a população toda em quarentena obrigatória”. Como tal, “sejam inteligentes, fiquem em casa. Vejam o exemplo de Itália, pois Portugal pode tornar-se futuramente numa nova Itália”.

A par dos “problemas em aceder à informação para conseguir terminar a tese”, a jovem estudante tem aproveitado o “tempo em casa” para tentar estudar por si mesma, com exercícios e vídeochamadas com diversas pessoas, realizar as “famosas limpezas de primavera”, fazer exercício físico, ver séries e filmes, e ainda começou aprender uma “nova língua”. Só sai de casa em caso de necessidade, como ir a supermercados ou farmácias.

“Estamos perante um desafio global”

Face ao crescente número de infetados pela Covid-19 em todo mundo, o investigador caldense Bruno Rego decidiu antecipar a sua volta a Portugal, que inicialmente estava agendada para abril. “Penso que tenha sido um dos portugueses que agarrou o trevo da sorte”, sublinhou o jovem, que antes desta situação encontrava-se a trabalhar com a comunidade luso-descendente de Malaca (Malásia) em colaboração com o Instituto Camões e a Associação Cultural Coração em Malaca.

O caldense tinha a noção de que alguns países asiáticos iriam apertar o controlo fronteiriço e por consequência grande parte dos voos para a Europa iria ser cancelada. “Na verdade, valeu-me o profissionalismo do colaborador português da Turkish Airlines, Francisco Paixão, que alterou o meu voo para conseguir atempadamente sair do país”, referiu Bruno Rego, indicando que um dia depois “a Malásia estava anunciar o estado de emergência nacional e tudo teria sido mais difícil após esse decreto”.

Antes de regressar, tal como em Portugal, a Malásia ainda se encontrava a desenvolver um conjunto de medidas preventivas para a propagação da Covid-19, embora o primeiro foco de propagação já tenha sido detetado no final de janeiro.

Atualmente em quarentena voluntária durante os 14 dias previstos pela Organização Mundial de Saúde, Bruno Rego acaba por praticamente não ter contactos com familiares ou amigos, optando por “dar andamento algum trabalho que ficou pendente, que só poderia ser concretizado informaticamente, e que agora poderá ser concluído”. Para além disso, aproveita alguns momentos para “satisfações gastronómicas que só este magnífico país pode oferecer”.

Para o jovem, “estamos perante um desafio global, que vai certamente contribuir para o desenvolvimento da nossa sociedade em diversos níveis”, e por isso, “com a evolução da situação todos vamos sair mais fortalecidos”.

“Tudo parece tão surreal”

Há ainda casos de caldenses presos noutros países, colocados em quarentena devido ao crescente número de infetados pela Covid-19. É a situação da jovem caldense Joana Calapez da Costa, que vive atualmente com o marido e a filha de um ano, em França. “Encontra-se praticamente tudo encerrado e o governo prepara-se para anunciar um reforço das medidas de contingência”, explicou a jovem massagista, adiantando que “apesar de duras, são medidas necessárias para conter a pandemia no país”.

Neste momento, segundo a caldense, “as pessoas estão muito assustadas com a atual situação, pois o número de casos cresce exponencialmente dia após dia. Tudo parece tão surreal. O medo não é apenas de ser infetado e acabar no hospital, mas também de agir como um veículo para o vírus em relação aos nossos entes queridos”. Apesar do “medo”, Joana Calapez da Costa referiu que a maioria das pessoas tem respeitado a quarentena, mesmo com as dificuldades que isso implica. Contudo, “há sempre um ou outro que não respeita as ordens, nomeadamente os emigrantes portugueses, que tentam a todo custo voltar para Portugal, quando deveriam permanecer nos países de acolhimento”.

Face a isso, “nunca é demais repetir que é mesmo necessário ficar em casa, e relembrar que isto não são férias”, nesse sentido, Joana e o marido têm aproveitado a “temporada por casa” para realizar algumas atividades com a filha e ainda fazer “uma das coisas que mais gosto de fazer, que é cozinhar e fazer doces, o que no dia-a-dia é difícil fazer”.

“Sacrifício para acabar com esta situação o mais rápido possível”

O sentimento que se vive em França é o mesmo vivido em Espanha, mais propriamente em Bilbau. “A grande maioria das pessoas está a cumprir as regras de quarentena e as ruas estão vazias. As pessoas parecem ter uma boa atitude para combater o vírus e estão tomar as precauções necessárias”, explicou o jovem professor de inglês, Braxton Massengale, casado com uma caldense.

Há uma semana em “quarentena estrita”, o jovem referiu que não é possível sair de casa, exceto por trabalho, saúde ou para comprar comida. Além disso, o país também implementou a prática de “distanciamento social”, e reforçou as medidas de higiene e segurança, em todos os serviços que continuam abertos.

“Acho que em geral as pessoas entendem esta medida como algo necessário e parecem determinadas a combater a Covid-19”, frisou o docente, que tendo em conta esta situação adaptou o seu método de ensino, dando aulas virtuais através de videochamadas de grupo. No restante do tempo, o jovem aproveita para estudar alguns projetos que tinha pendentes, fazer exercício físico, limpar e organizar a casa, e “sempre que possível, tento aproveitar este tempo extra para aprender coisas novas”. “O importante é a pessoa manter-se ativa”, referiu.

Para Braxton Massengale, “não poder sair de casa é difícil e ao final de algum tempo acaba por ser aborrecido, mas é um sacrifício para acabar com esta situação o mais rápido possível”.

“Existe clima de medo e de receio”

A caldense Jéssica Lucas da Silva, que vive na Libéria, mais propriamente na cidade de Harper, está a aguardar pelo seu regresso a Portugal. “A organização não governamental de saúde norte-americana na qual trabalho solicitou a todos os colaboradores não residentes no país em atual permanência que se deslocassem o mais rapidamente possível aos seus países de origem, pelo que a minha situação é de tentativa de chegada a Portugal, o que tem sido difícil, com voos sucessivamente cancelados”, explicou a jovem arquiteta.

Apesar do país ter “apenas identificadas três pessoas infetadas com a Covid-19, o que em comparação com o resto do mundo é um número baixo, “já deixa alguma preocupação e alarmismo”. Nesse sentido, os estabelecimentos de ensino foram os únicos oficialmente fechados, bem como as fronteiras a cidadãos não liberianos.

Foi ainda imposta a desinfeção permanente de locais públicos, a lavagem de mãos e medição de temperatura corporal obrigatória antes de entrada em qualquer estabelecimento.

Este país, que em 2015 experienciou uma mortal pandemia de ébola, fez com que a população tenha uma “grande consciência de cuidados a adotar e a sociedade é em si cuidadosa com ações de possível contágio, adaptando rapidamente medidas estritas de controlo como temperatura, mãos lavadas, desinfetantes, entre outros”, explicou a jovem, adiantando que são “medidas razoáveis perante o estado de emergência a que globalmente vivemos no momento. Diria até que a decisão de cancelamento de serviços comerciais poderia ser tomada sem espera de subida repentina de casos, usando um método essencialmente preventivo”.

Os habitantes ainda não receberam uma ordem de alerta para permanência domiciliária, mas “posso dizer que já existe clima de medo e receio, e as pessoas procuram justificar os acontecimentos de muitas formas, hiperbolizando consequências”.

Face à situação, Jéssica Lucas da Silva aconselha a população a procurar informações de fontes seguras, ainda mais “numa altura em que a sociedade se apoia tanto em redes sociais”.

Esta arquiteta, que viu o seu trabalho afetado com a Covid-19, prevê “além de trabalhar a partir de casa, ocupar-me com todas as atividades que me dão prazer ou que, geralmente, tenho pena de não ter mais tempo para realizar, como desenhar, pintar, praticar guitarra, exercício físico, tarefas domésticas, organização de papeladas e recordações”.

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